O presidente Luiz Inácio Lula (PT) afirmou que o governo vai levar a sério a questão de combater o garimpo ilegal em terras indígenas, porém, não anunciou nenhuma medida para isso. Em seguida, fez duras críticas à gestão passada.
A declaração ocorreu em Boa Vista, neste sábado (21), após visitar o hospital indígena e a Casa de Apoio à Saúde Indígena. O petista cumpre agenda na capital de Roraima diante da crise sanitária dos povos Yanomamis, decretada pelo Ministério da Saúde na última sexta-feira (20).
"É desumano o que vi aqui. Sinceramente, se o ex-presidente que deixou a Presidência esses dias não tivesse feito tanta motociata e tivesse vergonha e visse aqui uma vez quem sabe esse povo não estivesse abandonado como estão".
A ministra da Saúde, que fez parte da comitiva presidencial a Roraima, informou que a pasta registrou três mortes de crianças indígenas entre os dias 24 e 27 de dezembro do ano passado, e 11.530 casos de malária em 2022. E que desde segunda-feira as equipes de saúde se depararam com crianças e idosos em estado grave de saúde, com desnutrição grave, além de muitos casos de malária, infecção respiratória aguda (IRA) e outros agravos.
Lula criticou o sistema de transporte, que chamou de “precário” e que é preciso garantir um meio de locomoção digno para a população. O presidente da República disse ainda que é preciso inverter a lógica de atendimento aos indígenas. “Eu disse para a ministra (Nísia Trindade) que a Saúde tem que ir lá na aldeia e não, esperar que eles (indígenas) venham aqui na cidade. A gente tem que ir lá para tratar deles, para cuidar deles", pontuou. “É mais fácil transportar 10 médicos do que 200 índios”.
Garimpo Ilegal
Maior reserva indígena do Brasil, o território registrou invasão e avanço do garimpo ilegal nos últimos quatro anos. A região tem mais de 30 mil habitantes e vive uma crise sanitária que já resultou na morte de 570 crianças por desnutrição nos últimos anos.
"Nós vamos levar a sério essa questão acabar com qualquer garimpo ilegal", disse o petista. "E mesmo que eles tenham licença da agência (Nacional de Mineração) para fazer pesquisas, eles podem fazer pesquisa, mas sem destruir a água, floresta e sem colocar em risco a vida das pessoas que dependem de água para sobreviver", pontou.
Questionado sobre quais seriam as medidas adotadas para acabar com o garimpo ilegal, o presidente da República foi genérico. "Eu não posso anunciar quais medidas que serão feitas, mas o que posso dizer é que não vai existir o garimpo ilegal. Eu sei da dificuldade, porque a gente tira e eles voltam. Mas nós já fizemos isso. E não vai ter mais garimpo ilegal".
Comitê Interministerial
Na noite de sexta-feira (21), Lula instituiu "Comitê de Coordenação Nacional para Enfrentamento à Desassistência Sanitária das Populações em Território Yanomami", com duração de 90 dias. O grupo tem 45 dias para entregar um plano de ações estruturantes. O decreto foi publicado em edição extra do Diário Oficial da União.
A coordenação do grupo será composta de representantes dos ministérios: Casa Civil; Povos Indígenas; Saúde; Defesa; Justiça e Segurança Pública, Desenvolvimento e Assistência Social Família e Combate à Fome; e do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos.
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