ACORDOS CLIMÁTICOS

'Nossa principal fragilidade é no desmatamento', admite ministro Joaquim Leite

Joaquim Leite, do Meio Ambiente, Carlos França, das Relações Exteriores e Tereza Cristina, da Agricultura apresentam resultados do Brasil nos acordos da COP26

Por Luana Melody Brasil
Publicado em 22 de novembro de 2021 | 12:16
 
 
 
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O ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, admitiu que o fim do desmatamento é um dos principais desafios para o Brasil no cumprimento dos acordos climáticos firmados durante a Conferência sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas, a COP26, encerrada no dia 13 de novembro, em Glasgow, na Escócia.

“A nossa principal fragilidade é no desmatamento”, disse o ministro, em evento no Palácio do Itamaraty, nesta segunda-feira (22), ao lado do ministro Carlos França, das Relações Exteriores, e da ministra da Agricultura e Pecuária, Tereza Cristina. 

Na sequência de seu discurso, Leite considerou “inaceitáveis” os dados do desmatamento, divulgados na última quinta-feira (18), pelo mais recente relatório do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe)

De acordo com esse relatório, a área desmatada na Amazônia foi de 13.235 km² entre agosto de 2020 e julho de 2021. Essa área equivale a nove cidades de São Paulo. 

Na edição anterior, o número foi de 10.851 km² entre agosto de 2019 e julho de 2020. Isso representa uma alta de 22% entre os dois relatórios. Trata-se de recorde de desmatamento em 15 anos.

Leite alega que o governo será mais contundente no combate aos crimes ambientais na região Amazônica. Ele informou que foram deslocados 700 homens da Força Nacional para 23 municípios estratégicos para inibir os crimes, e “não chegar após a árvore ter sido cortada”. 

Ainda segundo o ministro, foi assinado um acordo de cooperação técnica para aumentar a fiscalização feita por Ibama, ICMBio, Polícia Federal e Força Nacional, e assim eliminar esses crimes. Um dos resultados desse acordo, informou Leite, é o aumento do número de autuações, que passou de 200 para mais 400 por mês na região.

O evento no Itamaraty foi convocado pelos ministros do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para fazer um balanço para a imprensa da participação brasileira na COP26. 

Governo não sabia dos dados de desmatamento

O ministro do Meio Ambiente voltou a negar que sabia dos dados do relatório do Inpe antes da COP26, uma suspeita levantada por especialistas e ambientalistas porque tradicionalmente o relatório oficial é divulgado antes da conferência mundial. Além disso, a data de registro do relatório no sistema de informações internas do governo federal é o dia 27 de outubro, quatro dias antes do início da COP26. 

Embora tenha reforçado que ficou sabendo dos dados junto com a imprensa, o ministro disse que seria “irrelevante” divulgá-los antes da Conferência das Nações Unidos: “A COP não é um lugar para ficar apontando fragilidades dos países, mas de buscar acordos possíveis para todos”.

Contra política europeia de combate ao desmatamento

Apesar de indicar vontade política do governo para eliminar o desmatamento em território nacional, os ministros se manifestaram contrários à proposta do Parlamento da União Europeia de barrar a importação de produtos ligados ao desmatamento em sua produção, que é uma forma de coibir essas ações no mundo. 

O ministro das Relações Exteriores, Carlos França, chamou essa política de protecionismo ambiental e disse que “é ruim para as boas práticas ambientais no Brasil”. 

Para Tereza Cristina, “quando se coloca produtos como cacau e café, que não estão ligados ao desmatamento, mas até ajudam na proteção ambiental, há alguma coisa errada”.

Por sua vez, Leite classificou a ideia como “inadmissível”. Para ele, a política europeia é contraproducente logo após uma conferência global, e reclamou da “imposição de regras de um país ou um bloco sobre outros países quando o assunto for clima. Tudo precisa ser pactuado”. O ministro defendeu ainda que “é um movimento que não deve ser aceito pelo Brasil”.

Bolsonaro admite queimadas e desmatamento na Amazônia

Na live semanal que foi divulgada na sexta-feira (19), o presidente Jair Bolsonaro admitiu pela primeira vez que não é capaz de controlar os crimes ambientais cometidos na região Amazônica.

“Nós combatemos isso, e alguns falam ‘ah, tem que combater mais’. Você sabe o tamanho da Amazônia? Quantos países da Europa cabem dentro da Amazônia? Como vai tomar conta disso tudo?”, disse o presidente.

Bolsonaro ainda emendou uma confirmação de que não só a floresta Amazônica sofre com queimadas, como também com o desmatamento ilegal.

“Tem desmatamento ilegal? Tem. Mas é só os países não comprarem madeira nossa, é simples. Tem queimada ilegal? Tem, mas não é nessa proporção toda que dizem por aí”, declarou.

As denúncias feitas globalmente contra o governo federal são de que há incentivos ao garimpo e desmatamento ilegais, como o desmonte nos órgãos de fiscalização e afrouxamento de punições (como aplicação de multas e prisões).

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