Fragmentação

Grandes partidos perdem cadeiras na Câmara Municipal de Belo Horizonte

Juntos, PT, PSDB, MDB e PSB já tiveram 45% das vagas no Legislativo da capital. Hoje, as quatro siglas possuem apenas 12% dos postos

Por Marcelo da Fonseca e Thaís Mota
Publicado em 09 de abril de 2020 | 13:00
 
 
 
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Nos últimos anos, os partidos políticos tradicionais foram perdendo espaço na Câmara Municipal de Belo Horizonte. Legendas como PT, PSDB, PSB e o então PMDB (hoje, MDB) - que chegaram a ocupar quase metade das cadeiras do Legislativo (45% das vagas) da capital mineira nas eleições de 2000 - terminam a legislatura atual com apenas 12% das cadeiras. 

Após esse feito, juntos os quatro partidos mantiveram sempre uma média de  um terço das vagas do Legislativo municipal nas últimas três legislaturas. Na última eleição, porém, elegeram dez vereadores (24%) e, agora somam cinco. Isso porque na janela partidária aberta para aqueles que seriam candidatos nas eleições de 2018, e também na janela aberta este ano, antecedendo o pleito municipal, vários parlamentares mudaram de partido. 

O PT chegou a ter até sete cadeiras em 2005 e, entre 2000 e 2016, foi o partido com o maior número de vereadores na Câmara (ao lado do PSB em 2012 - cada um com seis representantes). Hoje, no entanto, tem apenas dois parlamentares na Casa. 

O mesmo aconteceu ao PSB, que chegou a ter seis vereadores no Legislativo municipal durante o segundo mandato do prefeito Marcio Lacerda, que era do mesmo partido. Porém, atualmente tem um representante. Já PSDB e MDB que, ao longo dos últimos 20 anos, chegaram a ter até quatro assentos na Câmara, hoje têm somente uma cadeira cada.

Apesar de ser uma tendência geral, inclusive verificada na última eleição presidencial, o cientista político e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Carlos Ranulfo Félix de Melo, afirma que, em Belo Horizonte, essa fragmentação dos partidos teve início ainda antes. “O declínio dos grandes partidos em Belo Horizonte é mais antigo. Já há algumas legislaturas, a Câmara vem sendo povoada por pequenos partidos e os grandes, como PT, PSDB e MDB, vêm perdendo força”.

Um dos motivos é que, segundo ele, houve uma fragmentação dos partidos políticos no Brasil, com o surgimento de novas legendas. Nos últimos 15 anos, foram 11 novas siglas registradas junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “Tem a ver também com a criação de novos partidos, que é o que chamo de fragmentação, ou seja, você vai aumentando a oferta de siglas e as siglas maiores perdem força e a tendência é que os vereadores se distribuam para um monte de partido que, na verdade, não significam nada”, avalia. 

Atualmente, o partido que possui o maior número de cadeiras na Câmara é o PSD, partido do prefeito Alexandre Kalil. A legenda conta agora com 13 vereadores, sendo que 12 vieram de outros partidos já pensando em disputar a reeleição em outubro. Esse movimento está relacionado à uma mudança na legislação eleitoral que, a partir deste ano, impede coligações para eleições proporcionais. 

“No caso de Belo Horizonte, temos dois fatores que explicam isso: tem o fator novo de não ter mais coligações para eleição proporcional e tem outro fator que é o Kalil ser um grande puxador de votos e, aparentemente, não ter um competidor nas eleições”, explicou o professor. 

Tudo isso, conforme o cientista político, só reforça a tese de perda de referência das grandes e tradicionais siglas no país. “Isso significa que os partidos não tem mais nenhuma importância na Câmara Municipal, e o grande partido é o partido do prefeito. Mas, nesse caso de Belo Horizonte, a migração para o partido do prefeito é exacerbada e realmente tem a ver com a perda de força dos grandes partidos. E, se eles deixam de ser referência, a grande referência passa a ser o partido do prefeito”, completou.

 

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