BRASÍLIA - Inquérito da Polícia Federal aponta que o dinheiro das joias sauditas, vendidas ilegalmente por auxiliares de Jair Bolsonaro (PL), foi incorporado ao patrimônio do ex-presidente e foi utilizado para custear suas despesas e da família nos Estados Unidos no início de 2023.
Segundo a PF, os conjuntos de joias, originalmente presenteados ao governo brasileiro pela Arábia Saudita durante a gestão de Bolsonaro, deveriam ter sido destinados ao patrimônio do Estado. No entanto, conforme a investigação, passaram a integrar o patrimônio pessoal do ex-presidente.
"A identificação revelou que os valores obtidos com as vendas foram convertidos em dinheiro em espécie e inseridos no patrimônio pessoal do ex-presidente da República, através de terceiros e sem utilização do sistema bancário formal, com o intuito de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores", detalhou a PF.
A investigação também apontou para o uso desses recursos por Bolsonaro e sua família durante sua estadia nos Estados Unidos, entre o final de dezembro e março de 2023, período que antecedeu a transmissão presidencial para o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"A possibilidade de que os proventos provenientes da venda ilícita das joias desviadas do acervo público brasileiro, após serem lavados, retornaram em espécie para o patrimônio do ex-presidente, sugere que foram utilizados para custear despesas em dólares de Jair Bolsonaro e sua família durante sua estadia nos Estados Unidos", concluiu o inquérito.
A reportagem de O TEMPO Brasília tentou contato com a defesa de Jair Bolsonaro, mas não obteve resposta até o momento. O espaço segue aberto.
O indiciamento de Jair Bolsonaro
Na última quinta-feira (4), Jair Bolsonaro e outras 11 pessoas próximas a ele foram indiciadas pela Polícia Federal em uma investigação sobre a suposta venda irregular de joias e outros presentes oficiais recebidos durante seu mandato como presidente da República.
Entre eles, o ex-ajudante de ordens, tenente-coronel Mauro Cid, os advogados Frederick Wassef e Fabio Wajngarten, e o ex-assessor Marcelo Câmara. O nome do então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, também consta na lista. Veja a lista completa de nomes:
- Jair Bolsonaro, ex-presidente da República;
- Bento Albuquerque, ex-ministro de Minas e Energia;
- Fabio Wajngarten, ex-chefe da Secretaria de Comunicação Social e advogado de Jair Bolsonaro;
- Frederick Wassef, advogado de Jair Bolsonaro;
- José Roberto Bueno Júnior, ex-chefe de gabinete do Ministério de Minas e Energia;
- Julio Cesar Vieira Gomes, ex-secretário da Receita Federal;
- Marcelo da Silva Vieira, ex-chefe do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica da Presidência;
- Marcelo Costa Câmara, ex-ajudante de ordens da Presidência da República;
- Marcos André dos Santos Soeiro, ex-assessor do Ministério de Minas e Energia;
- Mauro Cid, ex-ajudante de ordens;
- Mauro Cesar Lourena Cid, general da reserva e pai de Mauro Cid
- Osmar Crivelatti, ex-ajudante de ordens.
Reportagens revelaram o caso das joias
O jornal O Estado de S. Paulo revelou o caso das joias e apontou que o ex-presidente Jair Bolsonaro teria incorporado ao seu acervo pessoal joias de alto valor presenteadas pelo governo da Arábia Saudita em outubro de 2019.
Entre os itens recebidos estava um conjunto de joias, incluindo um relógio de ouro branco da marca Rolex, um anel, abotoaduras e um rosário islâmico. A reportagem desencadeou uma investigação pela Polícia Federal, iniciada em março de 2023.
Conforme a legislação brasileira, presentes recebidos de autoridades estrangeiras devem ser incorporados ao patrimônio da União. Após a revelação do caso e por determinação do Tribunal de Contas da União (TCU), o ex-presidente devolveu os itens ao patrimônio público.