Um ano do 8 de janeiro

8/1: Depredações custaram R$ 21 mi e parte do acervo histórico ficou irreparável

O cálculo, porém, não inclui as peças que ainda aguardam reparação ou aquelas que foram definitivamente perdidas

Por Levy Guimarães
Publicado em 08 de janeiro de 2024 | 07:00
 
 
 
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As invasões às sedes dos Três Poderes, em Brasília, há exatamente um ano, já custaram cerca de R$ 21 milhões aos cofres públicos. O montante foi destinado para reparações de vidraças, móveis, objetos e obras de arte. O cálculo, porém, não inclui as peças que ainda aguardam reparação ou aquelas que foram definitivamente perdidas.

Estimativa inicial do prejuízo dos Poderes: 

  • Supremo Tribunal Federal: R$ 12 milhões
  • Congresso Nacional: R$ 4,9 milhões
  • Palácio do Planalto: R$ 4,3 milhões 

O prédio mais destruído foi o do Supremo Tribunal Federal (STF). Até agora, a Corte precisou desembolsar cerca de R$ 12 milhões para recuperar a estrutura e o patrimônio danificados. Só a destruição no edifício-sede gerou prejuízo de R$ 8,6 milhões, com 951 itens que foram furtados, quebrados ou completamente destruídos.

Já a despesa para reconstrução do plenário, com troca de carpetes, cortinas e outros, chegou ao patamar de R$ 3,4 milhões. De acordo com a assessoria de imprensa do Supremo, até o momento foram restaurados 116 itens. Veja a lista abaixo:

  • 22 esculturas (entre bustos, estatuetas, crucifixo do Plenário e estátua “A Justiça”);
  • 21 telas e tapeçarias;
  • 4 galerias de retratos (Galeria de ministros, de presidentes, de diretores-gerais e secretários-gerais);
  • 9 objetos (lustres, brasão da República e vasos);
  • 50 itens de mobiliário (cadeiras, mesas, móvel expositor da Constituição, etc)
  • Substituição de 4 telas do fotógrafo Sebastião Salgado.

Além disso, há três espelhos e nove cadeiras que não tiveram a restauração concluída. Outros 15 objetos, os quais sofreram danos mais substanciais, estão atualmente em fase de análise. Entre eles, vasos e mobiliários que, apesar do vandalismo, ainda são passíveis de recuperação.

Por outro lado, de acordo com o STF, um total de 106 itens históricos de valor inestimável foram perdidos. Esculturas e móveis, que foram despedaçados e não podem ser restaurados ou substituídos, fazem parte dessa lista.

Muitos desses itens foram alvo de roubo ou furto durante a invasão ocorrida há um ano. Um exemplo emblemático é a escultura "Os dois magistrados", esculpida por Remo Bernucci em 1960, representando uma simulação de rocha vulcânica.

Principais obras da Câmara foram recuperadas

Nas duas sedes do Poder Legislativo, os custos da destruição somaram quase R$ 5 milhões. Foram R$ 2,7 milhões para a Câmara dos Deputados e R$ 2,2 milhões para o Senado.

Pela Câmara, a maior parte do montante foi gasto para recuperar bens do acervo cultural, como pinturas, esculturas, presentes protocolares e painéis. As principais obras de arte dos salões da Casa foram reparadas ou higienizadas. Entre elas:

  • Quadro “Candangos”, de Di Cavalcanti;
  • Painel “Araguaia”, de Marianne Peretti;
  • Escultura de anjo em bronze fundido, de Alfredo Ceschiatti - ainda finalizando o processo de restauro, mas em exposição;
  • Estátua do ex-deputado Ulysses Guimarães, de Clauberto Santos;
  • Muro escultórico, de Athos Bulcão;
  • Painel Ventania, de Athos Bulcão.

Duas maquetes do Congresso Nacional e da Praça dos Três Poderes, localizadas no Salão Verde, ainda estão em restauração. Já dos 46 presentes dados por chefes de Estado e delegações estrangeiras, 38 foram recuperados, seis estão em processo de restauro e dois foram perdidos.

No Senado, há obras ainda sem previsão exata de entrega

Os serviços de recuperação das instalações físicas no edifício principal e nos anexos do Senado, como vidros, carpetes, cadeiras, janelas, mesas e outros itens, totalizaram gastos de R$ 889,4 mil. Já a recuperação de obras e objetos históricos custou, até o momento, R$ 483,1 mil. Entre elas:

As peças em questão foram submetidas a uma série de danos, incluindo a remoção de partes, exposição a água e urina, impacto de poeira e resíduos de vidro, lascas, amassados, rasgos, arranhões, contaminação por espuma de extintor de incêndio, além de terem sido dobradas ao meio.

No caso dos quadros dos ex-presidentes, foi necessário que fossem repintados pelo autor, o pintor Urbano Villela. A última reinstalação ocorreu em outubro, no Salão Nobre do Congresso: uma tapeçaria do artista plástico e paisagista Burle Marx. Agora, restam apenas duas obras a serem entregues.

A próxima entrega deve ser um painel vermelho de Athos Bulcão, instalada também no Salão Nobre e com conclusão prevista para este ano, mas sem data marcada. Já em projeto a ser desenvolvido separadamente, falta o restauro do quadro “Ato de Assinatura da Primeira Constituição”, pintado no século 19 pelo artista Gustavo Hastoy. 

Com a tela solta na moldura da parte inferior, a obra precisará de um serviço especializado, ainda a ser contratado. Os estudos estão em fase inicial e o serviço está orçado em R$ 800 mil.

Planalto: valor do prejuízo deve aumentar

No Palácio do Planalto, um documento enviado pelo Executivo à CPMI do 8 de janeiro estimava um prejuízo inicial de R$ 4,3 milhões. Diversos itens históricos permanecem aguardando o início do processo de restauração. Nesse contexto, o valor total dos rombos aos cofres públicos ainda não pode ser determinado, uma vez que os procedimentos de restauração estão pendentes de início. 

O principal deles é o relógio histórico Balthasar Martinot Boulle, dado no século XVII ao imperador do Brasil e de Portugal, Dom João 6º, e a caixa de André Boulle. O Acordo de Cooperação Técnica, a ser feito em parceria com a Suíça, está em fase de formalização e a reparação do objeto é bastante delicada.

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) identificou outras obras em situação semelhante e de difícil restauração, entre elas:

  • Pinturas “As Mulatas”, de Di Cavalcanti, e “Bandeira”, de Jorge Eduardo;
  • Escultura em bronze “O Flautista”, de Bruno Giorgi;
  • Escultura em madeira de Frans Krajcberg.

Além disso, receberam cuidados de equipes de engenharia, patrimônio e curadoria dos Palácios Presidenciais, as seguintes obras:

  • Escultura de ferro de Amilcar de Castro;
  • Marquesa em metal e palha de Anna Maria Niemeyer;
  • Mesa-vitrine de Sérgio Rodrigues.

Por fim, itens que compõem a estrutura do edifício do governo federal, como vidraçaria, parte elétrica, elevador, gradil, peças sanitárias, bancadas e tampos de mármore e divisórias foram feitos via contratos de manutenção predial de caráter contínuo, por meio de ordens de serviço, por R$ 297,7 mil.

Veja como está Brasília após um ano dos atos de depredação às sedes dos Três Poderes:

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