Investigação

PF acha US$ 35 mil e R$ 16 mil em espécie com Mauro Cid, ajudante de Bolsonaro

O dinheiro estava em um cofre na residência do oficial do Exército, na Vila Militar, em Brasília. Ele foi preso na operação contra fraudes em cartões de vacina

Por O Tempo Brasília
Publicado em 03 de maio de 2023 | 14:25
 
 
 
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Policiais federais apreenderam US$ 35 mil (cerca de R$ 175 mil) e R$ 16 mil em espécie na casa do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid. O dinheiro estava em um cofre na residência do oficial do Exército, na Vila Militar, em Brasília.

A informação é da colunista Bela Megale, do Globo. Mauro Cid é um dos seis presos na operação desencadeada pela Polícia Federal nesta quarta-feira (3) que apura um esquema de falsificação de cartões de vacinação com informações sobre a Covid-19 que permitiram, entre outras coisas, a entrada em países estrangeiros durante as restrições impostas pela pandemia.  

No golpe, foi um médico da Prefeitura de Cabeceiras (GO) quem preencheu o cartão de vacinação contra a Covid-19 com informações falsas para Jair Bolsonaro, Laura – filha mais nova do ex-presidente –, o tenente-coronel Mauro Cid e a esposa do militar, de acordo com a Polícia Federal.

O profissional de saúde em questão é um adepto do bolsonarismo. Com o cartão em papel assinado por ele, o grupo então tentou registrá-lo no sistema eletrônico do SUS em Duque de Caxias (RJ), para que ele pudesse ser validado e usado em viagens internacionais. No entanto, como o lote de vacinas informado tinha sido enviado para Goiás e não para o Rio de Janeiro, o sistema rejeitou as informações.

Diante do impasse, Mauro Cid e outros investigados começaram a trocar mensagens por aplicativo. Foram esses diálogos, interceptados pela PF, que permitiram o avanço na investigação, com a identificação de todos os envolvidos. Os agentes descobriram que Cid e seus cúmplices foram atrás de outro número de lotes de vacinas, no estado do Rio de Janeiro, para fazer o registro no SUS.

Com os cartões de vacinação dos beneficiados registrados, o grupo baixou os arquivos, imprimiu os documentos com anotações das vacinas – que ninguém havia tomado – e os apagou do sistema. Dessa maneira, quem procurasse os registros de vacinação do grupo no sistema eletrônico não encontraria. Mas peritos da PF teriam conseguido recuperar tudo.

A fraude visava permitir que Bolsonaro e a filha pudessem entrar nos Estados Unidos sem restrições — o ex-presidente esteve no país três vezes desde a confecção de tais cartões. A então primeira-dama, Michelle, se vacinou nos Estados Unidos em setembro de 2021. 

Michelle reiterou, nesta quarta, a imunização, mas disse que é a única da família com dose contra Covid. Por outro lado, Jair Bolsonaro ressaltou que ele e Laura nunca se vacinaram contra Covid e negou qualquer fraude em seus cartões. O ex-presidente não explicou, portanto, como entraram nos EUA sem os comprovantes.

As informações sobre a conexão Cabeceiras-Caxias foram publicadas pelo Globo e, segundo o jornal, vieram de investigadores da PF. 

Bolsonaro teve que entregar celular a investigadores

Bolsonaro foi alvo de mandado de busca e apreensão. Ele teve o celular apreendido por agentes federais, que estiveram na casa onde o ex-presidente mora, em um condomínio fechado de Brasília.

Outro dos seis presos nesta quarta é João Carlos de Sousa Brecha, secretário municipal de Duque de Caxias (RJ), cidade que na época dos supostos crimes investigados pela PF era administrada por Washington Reis (MDB), um político bolsonarista e negacionista da Covid-19 que, ao ser infectado pelo coronavírus, foi se tratar em um dos melhores hospitais privados do estado.

Irmão de Washington Reis, o deputado federal Gutemberg Reis (MDB-RJ) também foi alvo de buscas e apreensão na operação da PF que apura um suposto esquema de fraudes em cartões de vacinação. A exemplo de Bolsonaro e da filha Laura, o cartão de vacinação do parlamentar também teria sido adulterado com informações falsas sobre doses contra a Covid-19, segundo a investigação.

Agentes da PF cumpriram 16 mandados de busca e apreensão e seis de prisão

Agentes da Polícia Federal cumpriram 16 mandados de busca e apreensão e seis mandados de prisão preventiva, em Brasília e no Rio de Janeiro, na manhã desta quarta. A PF divulgou nota informando que operação, batizada de Venire, visa “esclarecer a atuação de associação criminosa constituída para a prática dos crimes de inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas SI-PNI e RNDS do Ministério da Saúde”.

“As inserções falsas, que ocorreram entre novembro de 2021 e dezembro de 2022, tiveram como consequência a alteração da verdade sobre fato juridicamente relevante, qual seja, a condição de imunizado contra a Covid-19 dos beneficiários. Com isso, tais pessoas puderam emitir os respectivos certificados de vacinação e utilizá-los para burlarem as restrições sanitárias vigentes imposta pelos poderes públicos (Brasil e Estados Unidos) destinadas a impedir a propagação de doença contagiosa, no caso, a pandemia de covid-19”, diz a PF.

“A apuração indica que o objetivo do grupo seria manter coeso o elemento identitário em relação a suas pautas ideológicas, no caso, sustentar o discurso voltado aos ataques à vacinação contra a Covid-19”, completa. As ações ocorrem dentro do inquérito policial que apura a atuação do que se convencionou chamar “milícias digitais”, em tramitação no STF.

Fraude em cartão pode render até 10 anos de prisão nos EUA

A operação da Polícia Federal desencadeada nesta quarta pode render a Jair Bolsonaro e demais investigados problemas também com a Justiça dos Estados Unidos. Falsificar certificados de vacinação contra a Covid-19 é um crime federal em território norte-americano, onde o ex-presidente brasileiro, a filha Laura, ex-assessores dele e outros teriam entrado com informações falsas sobre a imunização contra o coronavírus, segundo a Polícia Federal do Brasil.

Conforme publicação do site da Embaixada dos EUA no Brasil, quem usar documentos fraudulentos para ingressar no país do hemisfério norte “não receberá o benefício imigratório” e “poderá enfrentar multas ou prisão”. Fraudar documentos ou dar informações falsas ao controle migratório para entrar no país é fraude, ainda de acordo com o texto disponível na página da representação diplomática. A pena para tal crime pode chegar a 10 anos de cadeia, caso o portador do documento falsificado seja réu primário e não tenha a intenção de cometer outros crimes.

Já pessoas com imunidade diplomática, como era o caso de Jair Bolsonaro ainda na condição de presidente da República – como entrou nos EUA – e de alguns familiares – como Michelle e filhas –, podem se enquadrar nas exceções previstas pela legislação internacional. Os portadores do passaporte diplomático podem, em tese, aposentar os resultados de testes virais de três a cinco dias ou auto isolamento. A vacinação para entrar em solo americano é obrigatória até 12 de maio deste ano. 

Bolsonaro viajou para os EUA em 30 de dezembro de 2022 – um dia antes do término do mandato, para não passar a faixa presidencial a Luiz Inácio Lula da Silva –, e permaneceu no país por quase 90 dias. Morando em Orlando, na Flórida, na casa emprestada por José Aldo, ex-lutador de MMA, Bolsonaro recebeu apoiadores e foi ao encontro de tantos outros em eventos com cobrança de ingressos, inclusive em outros estados norte-americanos. 

No entanto, o ex-presidente brasileiro sempre afirmou que não recebeu nenhuma dose contra a Covid-19. Crítico da vacina e investigado no Brasil por disseminar informações falsas sobre os imunizantes e os dados relativos à pandemia, que ele minimizou, Bolsonaro voltou a dizer nesta quarta, após a operação da PF, que não se vacinou, assim como a filha Laura. Também negou ter fraudado os cartões dele e da filha. Mas não explicou como ambos entraram nos EUA sem apresentar comprovante da vacina. Já Michelle Bolsonaro afirmou que só ela na família recebeu a vacina.

Agentes da PF estiveram cedo na casa de Jair e Michelle, em um condomínio fechado no Jardim Botânico, área nobre do Distrito Federal, na manhã desta quarta-feira. Policiais fizeram buscas e apreenderam o telefone celular de Jair Bolsonaro. Além de receber policiais em sua residência, o ex-presidente terá que prestar depoimento, ainda nesta quarta, na sede da PF, na área central da capital do país. Mesmo lugar onde depôs semana passada em outra investigação.

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