Durante entrevista exclusiva concedida a O TEMPO, o prefeito Alexandre Kalil (PSD) acusou o vereador Juliano Lopes (Agir) – um dos mais atuantes integrantes da oposição na Câmara Municipal de Belo Horizonte – de receber dinheiro da Federação Mineira de Futebol (FMF) para atuar como oposição a ele no Legislativo. Atualmente, Lopes é o presidente da Comissão de Arbitragem da federação, que é presidida por Adriano Aro, irmão do deputado federal Marcelo Aro (PP). O parlamentar federal é visto no Legislativo municipal como um dos principais articuladores da oposição ao prefeito de Belo Horizonte, e o PP tem atuado de forma ativa como antagonista ao Executivo. Foi o vereador Rubão, do partido de Aro, que levantou em plenário na última quinta-feira uma suposta intervenção do secretário de Governo de Kalil, Adalclever Lopes, na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da BHTrans. Ontem, Juliano Lopes apresentou um pedido de investigação de Adalclever na Câmara, o que, para se concretizar, ainda depende de avaliação do setor jurídico.
Embate
Na sessão desta sexta-feira (13), foi analisado ainda um veto de Kalil ao projeto de Juliano Lopes que tornava a atividade física essencial na capital. O vereador argumentou que o veto havia sido pessoal, e não por inconstitucionalidade, como alegou o Executivo na ocasião. Após ver o veto ser mantido, Juliano Lopes foi à tribuna e afirmou que o prefeito enviou mensagens a vereadores parabenizando-os, mas em tom de ameaça, por uma votação anterior, que torna mais célere a tramitação de projetos que podem derrubar atos da prefeitura.
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A reportagem questionou o prefeito sobre o suposto envio da mensagem aos parlamentares. Ele negou e fez as acusações ao vereador. “É mentira. Eu não converso com esse cara (Juliano Lopes). Ele ganha R$ 250 mil por ano do irmão do Marcelo Aro (Adriano Aro) para ser oposição. Ele ganha R$ 20 mil por mês na Federação Mineira, tá bom? R$ 20 mil por mês na Federação pelo Adriano Aro para ser oposição. Ele é empregado do irmão do Marcelo Aro, então recebe para ser oposição”, salientou o prefeito. “Esse pessoal é o mesmo que articulou, a Nely (Aquino, presidente da Câmara, do Podemos), o Cláudio (do Mundo Novo, vereador pelo PSD), o deputado/vereador (Marcelo Aro), não quero dar prestígio para ele, que articularam contra Venda Nova”, afirmou o prefeito em referência à derrubada, em março deste ano, do projeto de lei que autorizava o Executivo a contrair empréstimo de R$ 1 bilhão para obras na avenida Vilarinho e na ocupação Isidora.
Respostas
O vereador Juliano Lopes (Agir) disse que está na Federação Mineira de Futebol desde maio de 2019 e que virou oposição ao prefeito Alexandre Kalil no final de 2020, quando “não concordou com a forma como o prefeito conduziu a pandemia, por não abrir diálogo com vários setores da cidade” para reabertura gradual das atividades. Adriano Aro respondeu que Lopes “é um árbitro respeitado”. “É o nosso presidente da Comissão de Arbitragem, função que já exerceu em administrações anteriores. É muito competente, e sua atividade não tem qualquer viés ou direcionamento político”, afirmou. O deputado federal Marcelo Aro negou qualquer influência no trabalho da oposição a Kalil. “Posso dizer com tranquilidade que não fui o articulador de nenhuma das tantas derrotas sofridas, recentemente, pelo prefeito”.
Valor é pago a árbitros por comissão
O presidente da Federação Mineira de Futebol (FMF), Adriano Aro, afirmou que os R$ 250 mil citados por Kalil são o orçamento da comissão de arbitragem. “É o orçamento anual pago à comissão, composta por vários exárbitros, dentre os quais se destacam profissionais com escudo Fifa e CBF. Portanto, esse valor não corresponde a um salário mensal, tampouco à remuneração exclusiva do presidente”, afirmou. O deputado federal Marcelo Aro, irmão de Adriano, saiu na mesma linha. “Juliano Lopes, árbitro com uma carreira que todos conhecem, exerce a presidência da Comissão de Arbitragem na FMF, razão pela qual é remunerado”. “Talvez falte ao prefeito – que entende muito de futebol – justamente um profissional como ele (Lopes), para alertá-lo que tanto da população quanto de alguns dos seus colaboradores mais próximos já recebeu um cartão amarelo”, disse.