Um ataque do governador Romeu Zema (Novo) às gestões anteriores gerou uma nova crise na base no momento em que o Executivo tenta, ainda sem sucesso, aprovar a reforma administrativa na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Ao atribuir aos governos anteriores – nos quais se inclui 12 anos de PSDB e aliados – uma maquiagem das contas do Estado, o governador causou a ira do líder do bloco governista no Legislativo, Gustavo Valadares (PSDB) que pediu uma retratação.
“Espero que rapidamente mais esse ato demagógico e mentiroso seja desmentido. Não se trata de um fato verdadeiro e não é assim que tratamos aliados. Que esse final de semana lhe sirva para rever seus conceitos Romeu Zema”, disparou Gustavo Valadares pelas redes sociais, marcando o perfil do governador na postagem.
A declaração de Zema foi dada em entrevista à revista “IstoÉ Dinheiro”. A crítica aos governos anteriores se deu quando ele foi questionado sobre os passivos herdados por sua gestão e sobre um possível fracasso da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).
“Todos os governadores vinham maquiando as contas públicas e apresentando 60% do valor devido. Ficaram tapando o sol com a peneira. Agora a população sabe, nós abrimos a caixa preta e estamos mostrando a dura verdade que temos de enfrentar”, disse o governador na entrevista.
Antes dos quatro anos da gestão de Fernando Pimentel (PT), o governo de Minas foi ocupado pelo grupo do qual faz parte Valadares e boa parte do bloco governista, nas gestões dos tucanos Aécio Neves (2003 a 2010) e Antonio Anastasia (2010 a 2014), e do aliado Alberto Pinto Coelho, então no PP, em parte de 2014.
Entre os 21 deputados da base aliada, sete são do PSDB de Aécio e Anastasia, um é do PP e outro é do PPS, para onde migrou Alberto Pinto Coelho no ano passado.
Recorrente
Não é a primeira vez que uma fala que ofendeu aliados gerou crise na base de Romeu Zema na Assembleia. Em março, em uma entrevista à InterTV, afiliada da Rede Globo em Montes Claros, no Norte do Estado, o governador disse que a solução da dívida de R$ 13,3 bilhões com os municípios por conta da retenção de repasses constitucionais dependia da aprovação do Plano de Regime de Recuperação Fiscal na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
Avaliando que o plano dificilmente será aprovado na Casa, os parlamentares interpretaram a declaração como anti republicana, empurrando para os deputados uma responsabilidade que é do Executivo. “Depois do que ele disse, Zema vai enfrentar mais dificuldades”, avisou um deputado da base na ocasião.
As insatisfações na ALMG geram riscos à reforma administrativa proposta por Zema, que recebeu mais de uma centena de emendas diretamente no plenário, já que não houve acordo para votação em comissões. A tendência é que o projeto seja bastante alterado pelos parlamentares.