As investigações da Polícia Federal (PF) em Minas sobre Adélio Bispo, autor da facada no então candidato Jair Bolsonaro (PSL), não ficaram só no Brasil. Nos primeiros meses da apuração, após informações difusas enviadas à corporação, a PF chegou a pedir o auxílio do adido militar brasileiro na Venezuela para checar registros de entradas e saídas em aeroportos e voos no país vizinho para conferir se Adélio teria tido algum contato com interlocutores ligados a movimentos ou entidades venezuelanas.
A teoria não avançou no âmbito das apurações do Inquérito 503/2018, que investiga se Adélio teve ajuda para planejar o atentado em Juiz de Fora, no dia 6 de setembro do ano passado. Nos dados obtidos, não constava atividade do autor da facada nesse sentido. A ideia da PF, no entanto, é assegurar que todas as possibilidades sejam checadas.
No final de abril, o delegado Rodrigo Morais Fernandes, responsável pela investigação, pediu mais 90 dias para concluir o inquérito. A atuação de Morais vem sendo elogiada internamente na PF desde a abertura da apuração. Até o momento, a equipe da corporação já realizou dezenas de entrevistas e depoimentos de pessoas que já estiveram com Adélio Bispo nos últimos anos, além da vistoria em equipamentos eletrônicos dos advogados do agressor de Bolsonaro, apreendidos durante operação em dezembro.
Em meio à investigação, uma das linhas mais plausíveis era que pessoas ligadas à facção criminosa PCC teriam relações com Adélio. Nas redes sociais, a PF chegou a identificar um criminoso da organização que constava na lista de amizades do autor da facada. A apuração foi iniciada no começo de outubro.
Antes, outro inquérito tinha sido aberto no dia do atentado. Nele, a PF chegou à conclusão de que Adélio agiu sozinho no momento da facada, em Juiz de Fora – dezenas de imagens e denúncias enviadas por internautas foram analisadas, inclusive com a participação da inteligência do Exército no caso. Depois disso, uma nova apuração foi aberta pela equipe para verificar se há, de fato, uma organização atuando junto do criminoso.
A atuação dos quatro defensores de Adélio também intriga. “É uma banca de advogados muito cara e que tem feito uma defesa exemplar de Adélio. Até psiquiatra eles estão bancando”, conta um interlocutor ligado à apuração. Participam da defesa os advogados Pedro Augusto de Lima Felipe e Possa, Zanone Manuel de Oliveira Júnior, Marcelo Manoel da Costa e Fernando Costa Oliveira Magalhães. O histórico de clientes de Magalhães, aliás, é curioso e é citado na investigação. Ele defendeu, nos últimos anos, pelo menos três membros do PCC que foram condenados em Minas.