O procurador do Ministério Público Federal de Minas (MPF-MG) Patrick Salgado avaliou que a preocupação da classe sobre a escolha do nome de Augusto Aras para chefiar a Procuradoria Geral da República (PGR) se dá por críticas feitas por ele ao trabalho do MPF na operação Lava Jato e também a uma possível submissão a demandas da União. Por isso, segundo ele, é importante saber se o indicado vai uma peça de dama no xadrez presidencial.
“O colega Augusto Aras tem como atividade principal a advocacia, por ter ingressado no Ministério Público antes de 1988, e suas manifestações críticas à atuação do MPF no combate à corrupção (Força-Tarefa da Lava Jato) e à democracia interna do MPF, além da possível submissão a uma pauta do governo que cabe a ele investigar e processar causaram enorme preocupação na classe sobre seus reais interesses no exercício do relevante cargo de PGR”, avaliou Salgado.
A polêmica pela escolha do presidente Jair Bolsonaro se dá, principalmente, por ele ter quebrado uma tradição que estava em vigor desde 2003. Por ela, somente era escolhido para o comando da PGR um dos nomes indicados em uma lista tríplice feita em votação interna na categoria de procuradores da República.
Em conversa com a coluna, Salgado contou que a classe de procuradores está atenta e mobilizada em defesa da independência, autonomia e democracia interna do órgão. Por isso, na próxima segunda-feira (9), vai ser feita uma mobilização e, durante a semana, vai ser realizada uma reunião com os representantes da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) nos Estados.
A partir desses encontros, segundo ele, é que será definida a pauta a ser adotada. “O importante é saber a que veio esse PGR, se ele se compromete a respeitar a independência do MPF, sua democracia interna, os valores constitucionais ou se prestará a ser uma dama no xadrez presidencial”, disparou ele, que também é diretor da ANPR.
Questionado se acredita que investigações e operações em curso podem ser prejudicadas se Augusto Aras for confirmado pelo Senado para o cargo, ele afirmou isso pode ocorrer se ele for "mal-intencionado".
“Os membros do MPF gozam de independência funcional, mas o funcionamento de forças tarefas (FTs) depende do apoio do PGR, pois a estrutura de funcionamento dos grupos de trabalho passa por sua autorização, inclusive da equipe de apoio e custos, no que um PGR mal-intencionado pode, sim, prejudicar as FTs”, explicou.
Indicado na quinta-feira (5) para o cargo, o subprocurador Augusto Aras substituirá Raquel Dodge no cargo se tiver o nome aprovado no plenário e na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, onde também vai ser sabatinado. O mandato de Raquel Dodge acaba no dia 17 de setembro.