Assim como o nióbio, o grafeno começou a ganhar mais visibilidade no país após ser citado constantemente pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em declarações ainda durante a campanha eleitoral de 2018, fazendo até mesmo parte do plano de governo dele. Mas, bem antes de virar tema político, o mineral já era objeto de estudo do Centro de Tecnologia em Nanomateriais e Grafeno (CTNano) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Dados do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) apontam que cerca de 25% dos depósitos de patentes envolvendo nanotubos de carbono e grafeno no Brasil são em Minas Gerais, sendo que o CTNano, que completa dez anos de existência em 2020, é responsável por um quarto das patentes nacionais nos setores desses dois materiais, com autoria de 27 dos 115 registros.
O Brasil possui uma das maiores reservas mundiais de grafite, sendo que Minas ocupa a liderança da produção nacional e contribui com mais de 70% do grafite produzido no país. E essa produção desse mineral tão falado atualmente encontra um mercado lucrativo: estudo da “DataM Intelligence 4Market Research” projeta que o mercado mundial de grafeno seja de bilhões de reais até 2025.
Chamada de indústria 4.0, há inúmeras possibilidades de atuação da nanotecnologia que são aplicadas em diversos segmentos, como o setor de petróleo, gás e mineração; de energia, inclusive das renováveis; de automação; e ainda ambiental, aeronáutico, agronegócio, química, biotecnologia, médico e farmacêutico.
Atualmente, o CTNano atualmente tem produzido nanotubos de carbono e grafeno em escala, além de projetos avançados envolvendo cimento nanoestruturado e nanocompósitos poliméricos. O centro é especializado no desenvolvimento de protocolos para o uso seguro da nanotecnologia para o meio ambiente e a saúde.
O coordenador do centro tecnológico, o doutor em física Marcos Pimenta, diz que a fórmula desse pioneirismo é simples e está pautada em três pilares: sinergia entre Estado, universidades e empresas. Contudo, não deixa de frisar que a execução apresenta seus entraves. A compressão é corroborada pela reitora da UFMG, Sandra Regina Goulart Almeida.
"Poder público, universidades, sobretudo as públicas, que respondem por mais de 95% das pesquisas em nosso país, e o empresariado precisam trabalhar de forma colaborativa. Esse é o caminho para a construção de alternativas duradouras para o Brasil. A pandemia da Covid-19 mostrou isso", defende a dirigente da instituição de ensino.
Uma nova opção
O uso desses minerais também é visto como uma nova forma de conseguir recursos para o Estado, que tradicionalmente é conhecido pela extração de minério de ferro, mas tem registrado perdas comerciais. Isso tem feito com que o Pará, por exemplo, tenha assumido protagonismo nessa área nos últimos anos.
Também é importante ressaltar que o rompimento de duas barragens de rejeitos de minérios em Minas Gerais (em Mariana e em Brumadinho), intensificaram danos sociais, culturais, financeiros e ambientais, e mostraram a importância do debate em torno de alternativas, necessidades, desafios e obstáculos ao crescimento da economia mineira.