Demitido

Moro: “Falei com o presidente que seria interferência política, e ele concordou”

Sergio Moro disse a Bolsonaro que precisava de um motivo para exonerar Maurício Valeixo do cargo de diretor da Polícia Federal

Por Pedro Augusto Figueiredo
Publicado em 24 de abril de 2020 | 11:46
 
 
 
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O agora ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, afirmou em seu discurso de demissão que disse ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) que a troca do diretor geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, seria uma interferência política e que o presidente concordou com a afirmação.

Valeixo foi exonerado na madrugada desta sexta-feira (24) por Jair Bolsonaro.

“Falei com o presidente ontem (quinta-feira, 23) que (a troca) seria uma interferência política, e ele respondeu que seria mesmo”, disse Moro. "O presidente informou que tinha preocupação com inquéritos em curso que estão com a Polícia Federal. Tinha uma grande preocupação”, completou o ex-ministro.

A Polícia Federal atua em dois inquéritos que estão sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes no Supremo Tribunal Federal. O primeiro apura supostos ataques nas redes sociais contra autoridades públicas, entre elas adversários políticos de Bolsonaro.

O segundo inquérito investiga as manifestações pró-golpe militar que aconteceram no último domingo, 19. O presidente Jair Bolsonaro participou de um dos atos, em Brasília.

“O grande problema dessa troca é a violação da promessa que me foi feita, de carta branca, e uma interferência política na Polícia Federal”, disse.

Moro também relatou que o presidente Jair Bolsonaro lhe disse, em mais de uma ocasião, que queria colocar uma pessoa “do contato pessoal dele” no comando da Polícia Federal para lhe passar informações. 

“O presidente me disse mais de uma vez que queria ter uma pessoa do contato pessoal dele, que ele pudesse ligar e colher informações e relatórios de inteligência. Seja diretor ou superintendente. Realmente não é o papel da Polícia Federal prestar esse tipo de informações. Elas devem ser preservadas”, disse Moro.

De acordo com Moro, o problema não é a troca de nomes, mas sim realizar a substituição sem uma boa justificativa. O ex-ministro disse também que as alterações não parariam na direção geral da Polícia Federal, mas que se estenderiam para as superintendências do órgão nos Estados.

“O problema é que não é só troca do diretor geral. Haveria também a intenção de trocar superintendentes do Rio de Janeiro e de Pernambuco. Outros superintendentes viriam em seguida, sem que fosse me apresentado uma razão ou uma causa que fossem aceitáveis para realizar este tipo de substituição”, afirmou Moro.

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