Investigação

MPF vai apurar denúncia de Paulo Marinho contra Flávio Bolsonaro

Senador e filho do presidente da República, Flávio Bolsonaro teria ficado sabendo de operação da Polícia Federal antes de ela ser desencadeada às vésperas das eleições de 2018

Por Estadão Conteúdo
Publicado em 18 de maio de 2020 | 07:26
 
 
 
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O procurador-geral da República, Augusto Aras, vai analisar a suspeita de vazamento de informações de operação da Polícia Federal ao senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), relatada pelo empresário Paulo Marinho (PSDB-RJ) ao jornal Folha de S Paulo. Suplente de Flávio, Marinho disse ter ouvido do senador que ele possuía informações sigilosas acerca de investigações envolvendo o ex-assessor Fabrício Queiroz.

"O procurador-geral da República analisará o relato junto com a equipe de procuradores que atua em seu gabinete em matéria penal", informou, em nota, a Procuradoria-Geral da República (PGR). O órgão não informou se abrirá um procedimento para investigação. Após a publicação da entrevista, Marinho também recorreu às redes sociais na manhã de ontem, unindo o slogan eleitoral de Jair Bolsonaro à frase pronunciada por Sérgio Moro ao deixar o Ministério da Justiça: "Verdade acima de tudo. Fazer a coisa certa acima de todos."

À noite, a Polícia Federal divulgou nota na qual informa que "o suposto vazamento de informações na operação Furna da Onça foi regularmente investigado pela PF através do Inquérito Policial n º 01/2019, que encontra-se relatado". A nota acrescenta: "Todas as notícias de eventual desvio de conduta devem ser apuradas e, nesse sentido, foi determinada, na data de hoje, a instauração de novo procedimento específico para a apuração dos fatos apontados".

Marinho, que é suplente do senador Flávio, afirmou que o filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro lhe contou ter recebido informações sigilosas da Polícia Federal (PF) sobre a investigação que então envolvia seu assessor Fabrício Queiroz. Segundo o relato, um delegado da PF avisou das investigações pouco após o primeiro turno das eleições gerais daquele ano. E teria dito, ainda, que membros da Superintendência da PF no Rio adiariam a Operação Furna da Onça para não prejudicar Jair Bolsonaro na disputa contra Fernando Haddad (PT). Em nota, publicada ontem, Flávio Bolsonaro negou a acusação.

Ainda de acordo com o relato de Marinho, o delegado da PF teria orientado Flávio a exonerar Fabrício Queiroz de seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio. No dia 15 de outubro, foram demitidos tanto Queiroz quanto a filha dele, Nathalia Queiroz, lotada no gabinete de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados. A Operação Furna da Onça foi deflagrada em 8 de novembro de 2018, pouco mais de uma semana após o segundo turno, do qual Bolsonaro saiu vitorioso.

Toda a história do vazamento, conforme as declarações do empresário, foi relatada pelo próprio Flávio em reunião com advogados na casa de Paulo Marinho. Na campanha presidencial, o empresário era um dos apoiadores de Jair Bolsonaro. Ele ofereceu a casa para reuniões do então candidato com o grupo que o auxiliou na disputa eleitoral.

A Operação Furna da Onça, a cargo da força-tarefa da Lava Jato do Rio, investigou a participação de deputados estaduais fluminenses em esquema de corrupção que pagava propina mensal (mensalinho) durante o mandato 2011-14. De acordo com as investigações, a propina resultava do sobrepreço de contratos estaduais e federais. Dez deputados tiveram a prisão decretada. Flávio, que era deputado estadual, ficou de fora da operação.

Fabrício Queiroz também não estava entre os alvos, mas a investigação acabou por detectar movimentação financeira atípica por parte dele. Um relatório do então Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), revelado pelo Estadão, colocou Queiroz no noticiário político nacional e gerou desgastes para Flávio Bolsonaro.

Mais tarde, o Ministério Público do Rio continuou a apuração originada na Furna da Onça com base na suspeita de que o dinheiro movimentado por Queiroz fosse, na verdade, resultado da apropriação de salários de funcionários do gabinete de Flávio.

O dinheiro depois teria sido lavado com a compra de imóveis que fazem parte do patrimônio do filho do presidente. Em razão disso, o Ministério Público obteve na Justiça a quebra dos sigilos bancário e fiscal do senador, de Queiroz, da mulher do senador, Fernanda Bolsonaro.

Invenção

O senador classificou a acusação de "invenção" e afirmou que o empresário tem interesse em prejudicá-lo, já que é suplente de Flávio Bolsonaro no Senado. Em nota publicada em suas redes sociais, Flávio Bolsonaro diz que "o desespero de Paulo Marinho causa um pouco de pena" e que o empresário "preferiu virar as costas a quem lhe estendeu a mão", ao trocar a "família Bolsonaro por Doria e Witzel", e "parece ter sido tomado pela ambição".

Em 2018, Marinho, que era amigo do ex-ministro da Justiça Gustavo Bebianno, acabou escolhido como suplente de Flávio Bolsonaro. O empresário depois se afastou da família Bolsonaro e acabou nomeado presidente regional do PSDB no Rio, em uma articulação do governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Quando Bebianno foi exonerado do ministério, em 2019, e rompeu com o presidente, filiou-se ao PSDB, despontando como pré-candidato à Prefeitura do Rio nas eleições deste ano. Com o falecimento de Bebianno, em março, Doria indicou Marinho como candidato.

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