Entrevista

‘O partido não pode continuar atuando como atua, sem pauta’

Newton Cardoso Jr. fala sobre a eleição do diretório estadual do MDB e dos seus planos caso seja eleito presidente do partido em Minas


Publicado em 29 de junho de 2019 | 03:00
 
 
 
normal

Newton Cardoso Jr.

Deputado federal pelo MDB

Em entrevista ao Café com Política, da rádio Super 91,7 FM, o deputado e filho do ex-governador Newton Cardoso fala sobre a eleição do diretório estadual do MDB, que acontece neste sábado (29), em BH, e dos seus planos caso seja eleito presidente do partido em Minas.

O MDB realiza amanhã (sábado) a eleição do diretório estadual do partido, e o senhor é um dos candidatos à presidência. Qual a expectativa para esse encontro?

Faz dois meses, praticamente, que eu tenho girado todo o Estado de Minas Gerais. Fui a quase todas as regiões, e nossa equipe foi a todas as regiões. Giramos o Estado inteiro, fizemos muitos encontros, e o que pude sentir é que parece que aquela chama de esperança está renascendo dentro das regiões, especialmente no interior. A nossa candidatura para a presidência do diretório é justamente para isso: fazer uma renovação e resgatar essa esperança, essa expectativa de que a política ainda tem uma solução, ainda tem uma saída. Acabar com aquele modus operandi tradicional, acabar com a aquela fórmula já meio desgastada e vencida de se fazer política, e procurar se encontrar novamente com a sociedade.

O que deve ser feito pelo novo presidente, seja o senhor ou outro candidato, para reconstruir o partido – porque é inegável que o MDB saiu enfraquecido das eleições do ano passado – tanto no plano estadual quanto no nacional?

Sempre regado a muito trabalho, nós temos que propor uma bandeira para o partido. O partido não pode continuar atuando como atua, em todas as alas do MDB, inclusive, sem ter uma pauta, sem dizer à sociedade qual a missão do partido. E é essa mensagem que eu tenho levado ao interior de Minas e onde eu tenho conversado. Por onde tenho passado no Estado, eu tenho dito isso: nós temos que parar, juntar a base do MDB, e que a base seja o caminho para fazer essa escolha. Mas escolher qual a bandeira que o MDB está disposto a carregar, sustentar e defender.

E o senhor defende alguma bandeira em específico? Acha que já existe um caminho a ser seguido pelo partido?

O MDB, historicamente, é aquele partido que eu diria que é o “pai” da nossa Constituição de 1988. Tivemos uma Constituição construída a muitas mãos, mas liderada por Ulysses Guimarães, e, de lá para cá, ficou evidente que, até no processo de redemocratização do país, (o MDB) foi o único partido que, de fato, defendeu o municipalismo, que defendeu a democracia e a liberdade como essência da nação. Mas, de lá para cá, só esses dois conceitos de democracia e liberdade são muito vazios, muito vagos. Portanto, imagino que hoje – e a política do ano passado, nas eleições de 2018, demonstrou isso – a sociedade espera algo mais, espera uma pauta mais pragmática. Então, não temos como direcionar uma pauta apenas, temos que estar sintonizados com o que a sociedade espera e, com isso, buscar sempre nos atualizar. Eu diria que temos que buscar uma pauta de retomada de emprego no país, então tudo o que partido fizer no Estado, em qualquer instância, deverá defender as pautas que sejam geradoras de emprego, defender as pautas, por exemplo, da saúde, porque temos instaurada hoje no país uma crise na saúde que parece sem saída. Defender isso não é fazer mais do mesmo, é você, de fato, dizer que nosso partido quer buscar uma solução para a saúde no país. Podemos falar da segurança, mas eu entendo que essa não deve ser uma pauta individual, deve ser levada a todos os membros do partido, e que todos tenham condição, coletivamente e democraticamente, de escolher, eleger e trabalhar em cima dessa pauta em seguida.

Um dos lemas da candidatura do senhor é “reconstrução e união”. Como fazer isso no MDB?

Reconstrução no partido significa buscar nas bases a reestruturação do partido. Uma coisa que eu dizia pelo interior é que em qualquer cidade pequena em Minas Gerais três coisas nunca falharam: uma matriz da Igreja Católica, um destacamento da Polícia Militar e um diretório do MDB. Hoje isso não é mais realidade. Nós temos que reconstruir fazendo diretórios novamente no maior número de cidades possível. Antigamente, o MDB fazia uma convenção com 1.200 delegados – o delegado é aquela pessoa que vota para escolher o presidente do partido. Hoje, caímos para menos de 500.

Recentemente, o ex-presidente Michel Temer, também do MDB, teve seu nome envolvido em escândalos de corrupção e chegou a ser preso. O senhor acha que esses casos envolvendo uma figura tão importante mancham a história do partido?

Certamente. O partido precisa fazer o reconhecimento de que algumas pessoas erraram. Fazer uma autocrítica. Agora, lembrando sempre que quem promove ações ilegais são as pessoas, não é o partido. A sigla tem que estar preservada sempre. Portanto, buscar essa renovação até para deixar esse passado negro para trás.

Mas como o partido conseguiria fazer essa renovação contando ainda com nomes tão tradicionais na política, como Renan Calheiros, Romero Jucá, entre tantos outros?

Acho que é simples. É reconhecer que essas pessoas que estão aí há mais tempo – e polêmicas – precisam, no máximo, tomar um papel de conselho. Quem já contribuiu para o partido, nós temos que reconhecer e destinar essas pessoas a um papel de conselheiros, de, vamos dizer assim, anciões que estão contribuindo com suas ideias, com experiência e com aquilo que já fizeram. Mas também lembrando que quem já deixou um legado no partido deixa hoje um espaço para que os jovens possam trazer, com essa experiência, novas formas de fazer política. E aí vou pegar o exemplo do Renan Calheiros. Ele elegeu o filho Renanzinho, como a gente chama lá em Brasília carinhosamente, governador de Alagoas por duas vezes. Ele foi eleito e reeleito, inclusive, com uma folga em termos de aprovação, em termos de votos. Existe um reconhecimento da sociedade de que ele (Renan Calheiros) faz bem ao Estado. E talvez hoje o Estado, fiscalmente falando, um dos melhores do Brasil. Temos o Jader Barbalho, que é também outra figura polêmica, elegeu o filho governador do Pará (Helder Barbalho). Um governador novo, que tem buscado grandes ações para o Estado dele. Então, não podemos nos desconectar do passado, por mais que tenhamos figuras polêmicas. É o meu caso.

É justamente isso que eu ia perguntar ao senhor, que também é filho de um ex-governador, uma figura muito polêmica. O senhor acha que esse papel de conselheiro caberia a ele?

Eu queria dizer que o doutor Newton Cardoso é um grande conselheiro para mim. Não só como pai, na vida, mas politicamente. Agora, o comando é novo. O comando tem que ser renovado e tem que ser rejuvenescido. Nós precisamos fazer um processo quase de fênix, de renascer das cinzas, tirando aquela sujeira do partido agora e colocando, de verdade, um novo momento no Estado, um novo momento na política mineira e nacional.

Estamos chegando ao fim da entrevista, mas antes temos o “Bate-pronto”, com perguntas objetivas e respostas igualmente objetivas. Prioridade caso seja eleito presidente estadual do MDB?

Reconstruir as finanças do partido.

MDB: sempre rachado?

Rachado, porém crescendo nas divergências.

O senhor será candidato à Prefeitura de Contagem?

Ainda não posso responder.

Governo Zema?

Expectativa muito boa. Está se organizando.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!