Três médicos foram mortos a tiros em no Quiosque da Naná, à beira-mar da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, no início da madrugada desta quinta-feira (5). Um quarto baleado sobreviveu e está internado em um hospital privado.
As vítimas estavam no Rio de Janeiro para um congresso internacional de ortopedia, o Minimally Invasive Foot Ankle Society (Mifas), que começou nesta quinta, no Windsor Hotel.
O crime aconteceu por volta da 1h, em frente ao Windsor, na avenida Lúcio Costa, na Barra da Tijuca. O estabelecimento é o mais luxuoso do bairro, que fica em área nobre da capital carioca.
A Polícia Federal acompanha as investigações do crime na Barra da Tijuca. A determinação é do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino. Ele levantou a hipótese de relação com atuação de dois parlamentares. Uma das vítimas é Diego Ralf Bomfim, de 35 anos, que é irmão e cunhado, respectivamente, dos deputados federais Sâmia Bomfim (PSOL-SP) e Glauber Braga (PSOL-RJ).
Confira quem são as vítimas do crime na Barra:
Os corpos dos falecidos foram levados às suas respectivas cidades-natal. Diego Bomfim, irmão de Sâmia, foi velado em Presidente Prudente, no interior de São Paulo.
A polícia trabalha com a hipótese de execução, pois os assassinos chegaram atirando e foram embora sem levar nada. Testemunhas que estavam no quiosque no momento do crime contaram que os criminosos também não disseram uma palavra nem se dirigiram a outras pessoas presentes no quiosque.
O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, disse que "não há dúvida" de que se trata de uma execução. No X (antigo Twitter), ele também disse que determinou à Polícia Civil que direcione todos os recursos para esclarecer o caso. Além disso, ele descartou que tenha havido motivação política no assassinato.
Uma das linhas de investigação da Polícia Federal é que os médicos teriam sido vítima de um engano. O verdadeiro alvo do crime seria Tailon de Alcantara Pereira Barbosa, 26, filho de um miliciano da Zona Oeste do Rio de Janeiro, que teria aparência semelhante a uma das vítimas.
Ele é acusado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro de integrar a milícia de Rio das Pedras. Foi preso em dezembro de 2020 e condenado a 8 anos e 4 meses de prisão por organização criminosa. Ficou preso até março deste ano, quando foi para prisão domiciliar. No dia 29 de setembro, ganhou liberdade condicional.
A Polícia Civil do Rio de Janeiro encontrou na noite de quinta-feira quatro corpos. A suspeita é que ao menos dois deles seriam de suspeitos de envolvimento no crime na Barra, horas antes.
Três corpos estavam dentro de um veículo na Rua Abrahão Jabour, na zona oeste do Rio. Em um segundo veículo, no bairro Gardênia Azul, foi encontrado o quarto corpo. Para os investigadores, a descoberta reforça a hipótese de os médicos terem sido baleados por engano, após um deles ser confundido com um miliciano.
A ordem para matar os médicos teria partido de Phillip Motta Pereira, o Lesk, responsável pela milícia da Gardênia Azul, também na Zona Oeste da cidade. Ele foi um dos corpos identificados mortos.
Também foi identificado Ryan Soares de Almeida, braço direito de Lesk. Ele e os outros dois mortos estavam num Honda HRV abandonado na Rua Abraão Jabor, no Camorim.
As mortes dos traficantes teria sido ordenada pelo chamado "tribunal do crime", insatisfeito com a repercussão do caso.
Momentos antes do assassinato dos três médicos, a Polícia Civil do Rio interceptou conversa telefônica que os investigadores consideram um indício de que as vítimas foram mortas por engano. Na ligação, interceptada com autorização judicial durante investigação que já estava em andamento sobre milicianos que atuam na zona oeste do Rio, um homem diz a outro que “acho que é Posto 2?” e recebe uma resposta que é inaudível.
A voz seria de Juan Breno Malta, conhecido como BMW e principal auxiliar do Philip Motta, o Lesk, ambos, segundo a polícia, ligados à milícia e ao tráfico. Lesk teria rompido com milicianos para aderir à facção criminosa Comando Vermelho. Segundo a polícia, BMW havia recebido a informação de que o miliciano Taillon Alcântara Pereira Barbosa estava no quiosque da Naná e tentou explicar o local para um comparsa incumbido de matá-lo. O quiosque da Naná, no entanto, fica entre os postos 3 e 4 da orla da Barra da Tijuca.
Um dos três médicos assassinados, Diego Ralf Bomfim, era irmão e cunhado, respectivamente, dos deputados federais Sâmia Bomfim (PSOL-SP) e Glauber Braga (PSOL-RJ). Baleado, ele chegou a ser levado com vida para o Hospital Lourenço, mas não resistiu.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, anunciou ter colocado a Polícia Federal à disposição das investigações e levantou a hipótese da relação do crime no Rio com atuação de Sâmia Bomfim e Glauber Braga. Essa linha de investigação ainda não foi descartada.
Imagens de câmeras de segurança mostram que os quatro médicos estavam sentados em uma mesa do quiosque quando foram baleados. Três homens, vestidos com roupas pretas, desceram de um carro branco e atacaram o grupo. Após atirar nos quatro, os criminosos voltaram correndo ao veículo e foram embora sem roubar nada.
Câmeras de segurança flagraram o momento em que homens armados descem de um carro e atiram contra quatro médicos, que estavam sentados em um quiosque na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, na madrugada desta quinta-feira (5). Três vítimas morreram, e uma foi socorrida para um… pic.twitter.com/IHIeuziaNY
— O Tempo (@otempo) October 5, 2023
A ação criminosa durou menos de 30 segundos e teve ao menos 33 tiros. Investigadores têm as informações com base nas imagens de uma das câmeras de segurança instalada no local dos assassinatos, além do trabalho de peritos.
Um vídeo mostra um veículo encostando na pista ao lado da ciclovia, três homens, vestidos com roupas pretas, descendo de um carro branco, correndo na direção das vítimas e disparando. O equipamento marcava 0h59 de quinta-feira.
A imagem também mostra os quatro médicos sentados em uma mesa do quiosque no momento do ataque. Após atirar nos quatro, os criminosos voltaram correndo ao veículo e foram embora sem roubar nada.
Peritos recolheram 33 estojos (sobras de projéteis) de pistola calibre 9 mm de cano curto onde três médicos foram assassinados e um quarto ferido. Com isso se sabe que ao menos 33 tiros foram disparados contra as vítimas, que estavam sentadas em uma mesa no quiosque.
A Polícia Militar do Rio de Janeiro informou que quando as equipes do 31º Batalhão (Recreio dos Bandeirantes) chegaram ao quiosque encontraram as vítimas sendo atendidas por socorristas do Corpo de Bombeiros. De acordo com a PM, os policiais fizeram buscas na região, mas não conseguiram localizar os suspeitos.
O policiamento foi reforçado na região na noite de quarta-feira. A perícia da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) esteve no local e a unidade especializada assumiu a investigação das mortes.