Eleições 2022

'O senhor Michel Temer não engana mais ninguém', rebate Dilma

Temer afirmou, em entrevista, que não participou de golpe e que nem considera que tenha havido um golpe contra a ex-presidente, mas apenas o cumprimento da Constituição

Por Renato Alves
Publicado em 22 de julho de 2022 | 10:25
 
 
 
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Menos de 24 horas após Michel Temer (MDB), que assumiu a Presidência da República após a queda da titular de sua chapa, Dilma Rousseff (PT), afirmar que a petista é "honestíssima", mas não soube se relacionar com o Congresso e caiu por um conjunto de fatores que influenciaram a pressão das ruas, ela se pronuncioup or meio de carta publicada nas redes sociais. A primeira presidente do Brasil chamou o ex-aliado de traidor e disse que a alegação dele não poderia embasar o impeachment em uma democracia.

“A História não perdoa a prática da traição. O senhor Michel Temer não engana mais ninguém”, ressaltou Dilma. “Lembro ainda que a “dificuldade de diálogo com o Congresso” não é razão legal e constitucional para impeachment em um regime presidencialista, como ele bem sabe”, completou.

Temer afirmou, em entrevista publicada na quinta-feira (21), que não participou de "golpe" e que nem considera que tenha havido um golpe contra a ex-presidente, mas apenas o cumprimento da Constituição.

"Eu não participei de golpe nenhum. Até vou contar a todos vocês. Quando começou a história da chamada procedência da acusação (de impeachment) na Câmara dos Deputados, vocês sabem que eu vim pra São Paulo. Fiquei no meu escritório um tempão, várias semanas, porque, por uma razão que, eu reconheço, existe, o vice é sempre o primeiro suspeito, nao é?", afirmou ele.

Temer disse que só retornou a Brasília quando o debate já estava na reta final e foi informado de que a procedência seria aceita. Nesse ponto, Temer rechaçou a existência de qualquer golpe, como acusam grupos de esquerda.

Confira a íntegra da nota de Dilma em resposta a declaração de Temer:

Eu agradeceria que o senhor Michel Temer não mais buscasse limpar sua inconteste condição de golpista utilizando minha inconteste honestidade pessoal e política. É justamente essa qualidade que despreza, rejeita e repudia uma avaliação que parte de alguém que articulou uma das maiores traições políticas dos tempos recentes.

É de todo inócuo afirmar que não houve um golpe, pois este personagem se ofereceu como vice-presidente por duas vezes. E, assim, sabia por duas vezes qual era o programa político das chapas vitoriosas que foram eleitas em 2010 e 2014.

As provas materiais da traição política estão expressas na PEC do Teto de Gastos, na chamada reforma trabalhista e na aprovação do PPI para as quais não tinha mandato. Nenhum desses projetos estavam em nossos compromissos eleitorais, pelo contrário, eram com eles contraditórios. Trata-se, assim, de traição ao voto popular que o elegeu por duas vezes.

Lembro ainda que a “dificuldade de diálogo com o Congresso” não é razão legal e constitucional para impeachment em um regime presidencialista, como ele bem sabe.

Tal “dificuldade” era uma integral rejeição às práticas do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, criador do Centrão, que queria implantar com o meu beneplácito o “orçamento secreto”, realizado, hoje, sob os auspícios de um dos seus mais próximos auxiliares na Câmara Federal.

Finalmente, relembro que a História não perdoa a prática da traição. O senhor Michel Temer não engana mais ninguém. O que se conhece dele é mais que suficiente para evitá-lo, razão pela qual não pretendo mais debater com este senhor.

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