Eleições 2022

Órgãos de transparência reagem à restrição do TSE sobre bens de candidatos

Plataforma DivulgacandContas, do TSE, não informa mais detalhes sobre patrimônio de candidatos que vão disputar as eleições de 2022

Por Leíse Costa
Publicado em 02 de agosto de 2022 | 17:14
 
 
 
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Organizações de transparência reagiram com preocupação às mudanças adotadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na nova forma da divulgação de informações sobre a declaração de bens de candidatos nas eleições de 2022.

Desde a última semana,  dados sobre patrimônio de candidatos que vão disputar o pleito começaram a ser divulgadas na plataforma DivulgaCandContas e no Repositório de Dados Eleitorais Abertos, mas ocultando o campo “descrição do bem”. Nesta terça-feira (2), uma carta assinada por cinco entidades de transparência classificaram a ocultação como “um grave retrocesso”.

Apesar do TSE não ter divulgado a razão para a ocultação dos dados, os órgãos envolvidos na discussão sobre transparência no Brasil presumem que trata-se de uma medida para atender a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e não expor dados que poderiam ser considerados sensíveis dos candidatos.

 O conteúdo trazia detalhes como, por exemplo, propriedades, investimentos e nome de empresas de pessoas que disputam cargos de presidente da República, governador, senador ou deputado. Com a mudança, informações patrimoniais são expostas com o mínimo de detalhes.

É possível saber, por exemplo, que um candidato a reeleição na Câmara dos Deputados possui R$1.064.147,01 em ações, mas não é mais informado em quais setores econômicos o parlamentar investe aplicações. 

De acordo com Marina Atoji, gerente de projetos do Transparência Brasil, saber apenas o tipo do bem e o valor correspondente não são suficientes para o controle social completo do patrimônio e o perfil dos candidatos.

“Fica impossível, por exemplo, acompanhar com exatidão a evolução no patrimônio de políticos que estão há muitos anos em cargos eletivos. Também dificulta saber se a pessoa tende a defender interesses específicos, como setores econômicos, por exemplo, ou está ligada diretamente a algum, tem ações de empresas, por exemplo. Sem contar que é difícil identificar casos de distorções entre o valor declarado e o valor conhecido de um bem, como um imóvel ou carro”, afirma.

Os dados patrimoniais continuam sendo informados ao TSE, mas não são mais disponibilizados para cidadãos, imprensa e sociedade no geral.

“Consideramos tratar-se de um grave retrocesso na transparência das candidaturas e do processo eleitoral – que, se já seria crítico em um contexto de normalidade, é inadmissível na conjuntura atual, quando pode servir de argumento a questionamentos da lisura das eleições no país”, diz o documento endereçado aos ministros Luiz Edson Fachin e Alexandre de Moraes, presidente e vice-presidente do TSE, respectivamente. 

Para tratar do tema, o TSE realizou audiências públicas em junho deste ano com quatro organizações e um coletivo da sociedade civil que demonstraram a importância da divulgação completa dos dados de declarações de bens para possibilitar o controle social sobre a evolução patrimonial de candidatos. 

O Ministério Público Eleitoral, presente audiência, reconheceu a relevância de contar com o apoio da sociedade civil para garantir a transparência nas declarações.

As organizações apresentaram, ainda, alternativas para mitigar o risco de divulgação de dados relativos à vida privada e intimidade dos candidatos.

“Diante do exposto, solicitamos a Vossas Excelências a retomada imediata da divulgação completa das informações de declaração de bens dos candidatos, em consonância com o direito constitucional de acesso a informações públicas e com a tradição do Tribunal Superior Eleitoral enquanto órgão aberto e transparente”,  pedem, em nota. 

Assinam o documento, as entidades Associação Data Privacy Brasil de Pesquisa, o Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas, o InternetLab - Pesquisa em Direito e Tecnologia, o Open Knowledge Brasil e a Transparência Brasil.

A reportagem solicitou ao TSE as razões que fundamentaram a decisão de retirar a divulgação desses dados nas eleições de 2022, mas não obteve retorno.

 

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