Fake?

Propaganda do governo usa imagens de banco de fotos para ilustrar brasileiros

Campanha traz Bolsonaro “conversando com pessoas cujos supostos nomes são divulgados, porém fotos estão disponíveis em arquivos de imagens para compra

Por folhapress
Publicado em 01 de julho de 2020 | 16:59
 
 
 
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O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) divulgou, nesta quarta-feira (1º), uma propaganda em que ele conversa, por telefone, com populares cujas imagens veiculadas estão disponíveis em bancos de imagens. Uma das fotos, inclusive, já ilustrou outra campanha do governo.

A Secom (Secretaria Especial de Comunicação) ainda não respondeu à reportagem sobre a campanha publicada pelo presidente.

Quando “Dona Maria Eulina”, de Penaforte (CE), pergunta como está a transposição do rio São Francisco em seu Estado, aparece a foto de uma sorridente senhora que, no site iStock, está sob a legenda “Mulher idosa feliz que sorri feliz na idade adulta - Imagem em Alta Resolução” e pode ser adquirida por R$ 45.

A campanha cita obras tocadas pelo Executivo federal. “Governo Federal: milhares de obras e ações por todo o país. Você fala com o governo, o governo fala com o Brasil”, diz o vídeo, que estimula o espectador a mandar vídeos pelo WhatsApp.

Depois de “Dona Maria Eulina”, quem pergunta é “Francisco Valmar”, de Parnamirim (RN), que questiona se há “alguma notícia boa” em relação a um trem urbano. A foto que aparece está no Shutterstock sob a legenda “retrato de trabalhador na fábrica no fundo” e, segundo o site, pode ser baixada gratuitamente.

O “trabalhador na fábrica no fundo” já estrelou outra campanha do governo, “O Brasil não pode parar”, criada pela Presidência em março para respaldar o discurso de Bolsonaro de reabertura do comércio.

À época, a AGU (Advocacia Geral da União) citou nota técnica da Secom que afirmava que o vídeo vazado era uma peça “meramente experimental e não aprovada”, sem custos aos cofres públicos.

A peça foi posteriormente vetada pelo ministro Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal). O ministro decidiu “vedar a produção e circulação, por qualquer meio, de qualquer campanha que pregue que ‘O Brasil Não Pode Parar’ ou que sugira que a população deve retornar às suas atividades plenas, ou, ainda, que expresse que a pandemia constitui evento de diminuta gravidade para a saúde e a vida da população”.

Segundo ele, a supressão das medidas de distanciamento social, propagadas pela publicidade elaborada no governo, colocaria em risco a vida, a segurança e a saúde da população, direitos que a Corte tem o dever de tutelar.

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