Se no plano nacional o PT parece já ter definido Fernando Haddad como candidato à Presidência em 2022, o partido ainda não tem um nome para o governo do Estado, podendo inclusive abrir mão de candidatura própria para se coligar a uma chapa encabeçada por outras legendas.
Desde a redemocratização, o PT só deixou de ser cabeça de chapa nas eleições estaduais em 2010, quando o petista Patrus Ananias concorreu à vice-governador em uma coligação com o MDB (na época PMDB) liderada por Hélio Costa. De lá pra cá, o partido venceu o pleito apenas em 2014, com a vitória de Fernando Pimentel em primeiro turno. O petista, no entanto, não conseguiu a reeleição em 2018, ficou de fora da disputa no segundo turno daquele pleito e deixou o governo com uma gestão mal avaliada.
Atualmente a sigla é dona da maior bancada na Assembleia Legislativa de Minas (ALMG), com nove deputados e, mesmo com um resultado enxuto em 2020, o partido conquistou prefeituras de cidades importantes do Estado, como Contagem, na Região Metropolitana, e Juiz de Fora, na Zona da Mata. No entanto, com um índice alto de rejeição no Estado, e com a falta de renovação e de um quadro já consolidado para a disputa, o PT mineiro pode encontrar dificuldade na hora de escolher algum nome competitivo para 2022.
Em conversa com a reportagem de O TEMPO, durante a visita do ex-prefeito de São Paulo a Belo Horizonte na semana passada, o presidente do PT em Minas, deputado estadual Cristiano Silveira, afirmou que a legenda ainda não está discutindo candidatura para o Palácio Tiradentes em 2022 e não há nomes postos. Mas, embora defenda a construção de uma candidatura própria, o partido “não tem obsessão por encabeçar uma chapa e está aberto para dialogar com qualquer partido que esteja no campo democrático popular”.
“Não estamos discutindo isso ainda, mas queremos sim apresentar um nome, apresentar um projeto, o que não é uma obsessão. Se alguma outra candidatura que compõe o campo popular democrático, que tenha alinhamento com nossas premissas e que tenha melhores condições de disputar, não há dificuldade do PT fazer esse debate”, afirmou Silveira.
“É um partido que tem força política, tem expressão e está no jogo. E todo partido grande sempre parte da premissa de construir uma candidatura própria, mas como eu disse, estamos abertos ao debate, inclusive em um passado não tão distante nós deixamos de ser cabeça de chapa para apoiar outras candidaturas”, completou.
Já para o deputado federal Rogério Correia (PT), há sim a necessidade da construção de uma candidatura petista para concorrer ao governo de Minas em 2022. O parlamentar afirma que nenhuma das candidaturas já pré-colocadas possui alinhamento com as bandeiras do PT.
“Na minha opinião, o partido tem que se preparar para ter uma candidatura própria para o governo. Acho que teremos duas alternativas de apostas, uma é a continuidade do Zema que é ligado a Bolsonaro e essa tese ultraliberal do partido Novo e do outro lado uma candidatura também conservadora que abarca parte da direita e do centro que é o Kalil. Então há espaço para a formação de uma candidatura que caminhe ao lado da candidatura do Haddad ou do Lula e que defenda o resgate de pautas progressistas e populares e essa candidatura tem que ser construída pelo PT”, ressaltou Correia.
Questionado sobre possíveis candidatos do partido, ele ponderou que “nomes ainda não estão postos, mas qualquer petista deve se colocar à disposição”, se colocando, inclusive, como opção.
O ex-deputado federal Jilmar Tatto, que foi candidato a prefeito de SP em 2020, disse que, para o PT, não é o momento de se discutir nomes para os governos estaduais.
Frente de partidos é cogitada
O deputado estadual Cristiano Silveira também defende a necessidade da criação de um grupo de partidos que possa fazer frente ao bolsonarismo tanto a nível nacional como estadual.
“Quanto mais partidos tenham um alinhamento de pensamento igual ao que nós temos em relação ao Brasil, que não seja 100%, mas que majoritariamente, seja em defesa da democracia, das instituições, em defesa da vida, em defesa do SUS, enfim. Claro que quem tem esse pensamento tem grande possibilidade de um diálogo conosco”, disse.
Segundo Jilmar Tatto, a sigla agora foca na construção da candidatura de Fernando Haddad e na defesa do projeto nacional que o PT tem para o país.
“A nossa prioridade agora é muito clara, nós vamos priorizar o palanque nacional e aí depois os Estados vão ter que se adequarem a nosso palanque nacional”, ressaltou Tatto. Na semana passada, Fernando Haddad veio a Minas e um dos encontros foi com o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), para ‘ visita de cortesia’. afirmou.
Partido não tem ‘nenhum nome com destaque’, diz especialista
Para o cientista político e professor da UFOP e IBMEC Adriano Cerqueira, o cenário atual é mais favorável para uma composição sem o PT como cabeça de chapa, do que propriamente uma candidatura petista disputando o governo de Minas em 2022.
“Não vejo hoje, nenhum nome com destaque no partido que consiga disputar uma eleição contra Zema e Kalil. Diferentemente do passado, em que o PT nunca abriu mão de candidatura própria, estratégia inclusive que deu certo o tornando o maior partido da América Latina, dessa vez, se a sigla quiser ter algum destaque ou conseguir algo dessa eleição, enxergo apenas por meio de um composição liderada ou por outras siglas de centro esquerda, ou talvez a chapa do Kalil que é oposição ao Zema”, analisou o cientista.
Segundo Cerqueira, desde 2018 com a não reeleição de Fernando Pimentel e a derrota de Dilma Rousseff ao Senado, o PT vem mostrando enfraquecimento político no Estado, que culminou no resultado enxuto que a legenda conquistou nas eleições municipais de 2020.