O interesse da opinião pública pela eleição para a presidência da Câmara dos Deputados está em consonância com o protagonismo que a Casa teve nos últimos anos e com a responsabilidade que tem diante de um governo que busca condições políticas para avançar em uma escalada autoritária.
Com um papel quase moderador, o Parlamento foi importante para impedir retrocessos desde o começo do governo Bolsonaro e demonstrou força em várias ocasiões, como para aprovar o Fundeb, a Lei Aldir Blanc de proteção ao setor cultural e um auxílio emergencial financeiro para os que mais foram prejudicados com a pandemia.
Agora, o maior desafio é a Câmara e demais poderes criarem um pacto em defesa da vida, exigindo do governo federal um plano nacional de vacinação contra o Covid-19, com caráter universal e com a urgência que o tema exige.
O PT decidiu fazer parte de um bloco articulado pelo atual presidente Rodrigo Maia (DEM-RJ), composto por 11 partidos, entre eles progressistas como PDT, PCdoB, PSB, Cidadania, PV e Rede.
A força destes partidos é decisiva para a eleição de uma candidatura que não seja a preferida do Palácio do Planalto. Mas, para além da eleição, esses partidos precisam valer sua força também para influenciar na pauta, sinalizar uma agenda para a sociedade e explicar de maneira franca para a sociedade os motivos de fazer parte de um bloco democrático.
Certamente o bloco capitaneado por Rodrigo Maia não levará adiante a agenda que o país precisa, mas o chamado à racionalidade política é um convite que não deve ser menosprezado. Não basta o PT estar no bloco, como também não basta lançar nomes avulsos, por mais valorosos que sejam.
Neste momento, ideias e compromissos não mais importantes e a escolha do nome, que represente esse movimento na presidência, deve ser unitária e coletiva, até mesmo para a esquerda ter mais força política e legitimidade para se posicionar.
Ao mesmo tempo, a esquerda não pode perder a oportunidade de deixar nítidas todas as diferenças que tem dentro do bloco e de anunciar uma postura franca de que está sim, de forma pragmática, visando reduzir danos, impedindo a eleição de um presidente da Câmara abertamente apoiado e entusiasta do presidente da República.
Unir forças em defesa no Brasil contra a ofensiva retrógrada de Bolsonaro e disputar dentro do bloco os rumos do país, lutando pela construção de uma outra pauta econômica, que possa tirar da crise que este modelo adotado nos colocou.
Além de vencer Bolsonaro e seu governo obscurantista, é preciso vencer também o ministro Paulo Guedes e sua agenda liberal e financista. Essa é uma luta que não pode parar, independente da posição que a esquerda adote na eleição para a Câmara.
A união de 11 partidos, de diferentes visões políticas, que assinaram uma carta em defesa dessa alternativa, por si só, é um avanço, dado à polarização atual, mas não basta.
Além de uma pauta mínima de defesa da democracia, da educação e da saúde pública, é urgente que a esquerda também se pronuncie para mostrar a sua cara, apontando para a defesa dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras, para a luta contra a dilapidação do Estado brasileiro e por uma reforma tributária progressiva e justa. Não podemos nos calar quando os microfones estão apontados para nós.