A lista dos países que já implementam campanhas de vacinação contra o coronavírus só aumenta. Nesta semana, a Índia inicia a imunização da sua numerosa população, a segunda maior do planeta. Vai, inclusive, usar uma vacina produzida por laboratório indiano.
E, até hoje, não temos uma data precisa nem um plano claro para ser implementado no Brasil, onde o assunto principal ainda é o número de mortes, que passou de 203 mil. A média móvel de óbitos no país nos últimos sete dias foi de 1.016. Com 3% da população mundial, o Brasil já tem 11% das mortes por Covid-19 no mundo.
Tenho denunciado, inclusive neste espaço, a forma criminosa como o governo federal tratou a pandemia desde o início. Foram vários os casos de crime de responsabilidade, ou irresponsabilidade, que deveriam levar ao afastamento do presidente da República para salvar vidas.
A ausência de um plano de vacinação é mais um desses casos de irresponsabilidade assassina. O que prevalece é a posição ideológica negacionista assumida por Bolsonaro, que, entre os mandatários de direita do mundo, foi o único que se engajou em uma campanha anti-vacina.
É obrigação da União garantir a imunização de toda a população nacional, com um programa público e universal. Medidas que deveriam ter sido tomadas desde março do ano passado, só agora, após muita pressão, estão sendo anunciadas pelo Ministério da Saúde, sem precisão na data nem na forma de implementação. Lembrando que, em agosto do ano passado, a empresa Pfizer ofertou a compra de 70 milhões de doses da sua vacina ao governo, que se negou a fazer a negociação.
O Brasil poderia também liberar o processo de produção de vacinas no mundo, pois tem três laboratórios referência na área. Mesmo sem apoio governamental, dois deles estão atuando, e a ação de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Instituto Butantan abriu a possibilidade do uso de duas vacinas – a de Oxford e a Coronavac – no país. Outro centro de pesquisa importante é a Funed (Fundação Ezequiel Dias), mas ele foi boicotado pelo governo de Minas e, por isso, não se somou ao esforço nacional de produção de imunizantes.
Diante da inércia que imperou nos últimos tempos, alguns Estados e municípios foram obrigados a se antecipar e tomar iniciativas para adquirir vacinas e insumos. Agora, eles devem ser indenizados na integridade dos seus gastos. Apresentei na Câmara dos Deputados um projeto de lei garantindo essa indenização para aqueles que adquirirem imunizantes diante da falta de oferta do governo federal.
Não temos mais tempo a perder. O país não pode ficar refém do negacionismo ideológico de Bolsonaro ou da sua disputa política com o governador de São Paulo. É preciso imunizar toda a população brasileira, começando pelas prioridades apontadas pelas autoridades sanitárias. Temos que virar essa página, e o assunto passar a ser o aumento da vacinação no país e a diminuição do número de mortes, invertendo a equação atual.