Reginaldo Lopes

Não deixe o samba morrer

Os lucros do Carnaval de Belo Horizonte precisam ser socializados


Publicado em 03 de dezembro de 2019 | 03:00
 
 
 
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Convidado pela Comissão de Turismo e Gastronomia, participei na última semana de uma audiência pública na Assembleia Legislativa que debateu o Carnaval de Belo Horizonte. Os dados apresentados pela prefeitura são impressionantes. Em 2019, durante os 23 dias de período oficial, as ruas receberam cerca de 4,3 milhões de foliões, sendo 80,1% moradores da região metropolitana e 19,9% visitantes. O número de turistas na cidade durante os dias de feriado foi de 204 mil, e a economia movimentou mais de R$ 700 milhões.

O debate que se desenrolou na audiência contou com a participação de representantes de blocos de rua e caricatos, escolas de samba, empresários e gestores. Mostrou a força da indústria criativa, uma esperança para a geração de empregos, cada vez mais escassos na indústria tradicional. Infelizmente, mostrou também que os agentes culturais que recriaram o Carnaval de rua de Belo Horizonte pedem socorro. Enquanto PBH e empresários comemoram os resultados positivos da festa, os agentes culturais não veem um tostão dos lucros gerados na cidade. E como manter o Carnaval vivo se o coração da festa não consegue se sustentar?

A inteligência artificial revoluciona a economia mundial. A robotização modifica a nossa relação com o mundo do trabalho, e muitas profissões que conhecemos desaparecerão. A cultura, a arte, a gastronomia e o entretenimento marcam a atual fase do desenvolvimento, com a função de ressignificar as nossas relações com o mundo e as coisas.

Os empregos do futuro vêm da economia criativa. E aí insere-se o Carnaval de BH. O desafio é distribuir a riqueza que ele gera entre os verdadeiros atores que o produzem, aquecer a economia do Carnaval não só nos dias oficiais da folia, mas torná-la sustentável durante todo o ano, financiando a indústria cultural.

A expectativa para 2020 é que cinco milhões de pessoas passem pelo Carnaval de BH. Elas virão em busca da alegria criada pelos mais de 600 blocos de rua, oito escolas de samba e 11 blocos caricatos que desfilarão nos dias de festa. Muito dinheiro será movimentado nesses dias em hotéis, bares, restaurantes. Todos eles serão beneficiados com a festa. Só com patrocínio direto, a prefeitura receberá milhões de reais. Muitos empregos serão gerados, pois só de ambulantes já existem 13,4 mil cadastrados.

A riqueza gerada não pode ficar apenas com os empresários, que lucram, nem com o poder público, que arrecada em impostos e patrocínios. Ela deve ser direcionada para realimentar a indústria criativa que a folia gera e que pode fazer de BH a cidade da arte.

É chegada a hora de compartilhar amor, democratizar o Carnaval e distribuir alegria. Os agentes culturais precisam de mais apoio, merecem uma cota do recurso gerado, urgem por um modelo economicamente sustentável.

Se queremos que o Carnaval sobreviva e continue trazendo lucros, precisamos nos unir para garantir que a cultura seja incentivada, viva e tenha sustentabilidade. A Prefeitura de BH não pode mais se omitir em relação a esse assunto. Os agentes culturais pedem passagem e socorro. Ou eles terão o apoio que merecem e precisam, ou a linda festa que criaram está ameaçada de extinção.

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