Punição

Reincidente, Bartô deve ser expulso pelo Novo nas próximas semanas

Deputado estadual teria descumprido orientação partidária de não participar de atos que desmoralizem instituições democráticas

Por Pedro Augusto Figueiredo
Publicado em 06 de maio de 2021 | 18:17
 
 
 
normal

O partido Novo deve expulsar o deputado estadual Bartô (Novo) após o parlamentar ter participado de uma manifestação em Belo Horizonte no último sábado (1º) que “autorizava” o presidente Jair Bolsonaro a intervir nas instituições democráticas, como o Supremo Tribunal Federal, e também pelo episódio, no mesmo dia, em que ele acompanhou a prisão sem mandado do analista de segurança da informação Filipe da Fonseca Cezário.

Integrantes do partido em Minas Gerais apontam para o fato de Bartô ter descumprido uma diretriz partidária ao participar da manifestação, o que já seria passível de punição. Além disso, dizem, o deputado não é mais “réu primário” porque foi punido no final de 2019 após ofender a honra de uma colega de partido em uma conversa de WhatsApp ao insinuar que ela furava preservativos. A expectativa é que a decisão pela expulsão de Bartô não demore a sair já que a Comissão de Ética do Novo não tem muitos casos para julgar.

Em nota, Bartô disse que não foi procurado pelo Novo para tratar do assunto e que lhe causa estranheza um partido que diz prezar o Estado Democrático de Direito sequer ouvir o outro lado antes de fazer julgamentos.

“Porém, infelizmente, isso não me surpreende já que o Novo, cada vez mais, se aproxima da esquerda e persegue quem é da direita. Exemplo é o caso da aproximação do Amoedo com o Ciro e nada é feito…”, disse o deputado em nota enviada à reportagem (Leia a nota na íntegra no final do texto)

O deputado federal Tiago Mitraud (Novo-MG) disse que a chance de expulsão “sempre existe”, mas que a decisão caberá à Comissão de Ética do partido, que pode aplicar vários tipos de punições para infrações disciplinares ou éticas. 

“Como já houve uma decisão anterior [punição] em um outro caso [envolvendo Bartô], acredito que o conjunto da obra pode ser levado em consideração”, disse. “Quero reforçar que o Novo como instituição não participou nem apoiou a manifestação de bolsonaristas no domingo [sábado, na verdade]. Eventualmente um ou outro filiado tenha ido, mas fez isso por conta própria. O Novo mantém firme o viés de ser contrário a essas manifestações que pedem a ação das Forças Armadas. A gente vai estar sempre aqui a favor da democracia. É isso que o partido defende”, acrescentou.

Mitraud espera que a decisão da Comissão de Ética do Novo sobre o caso de Bartô leve algumas semanas.

A vereadora de Belo Horizonte, Marcela Trópia, elogiou a decisão do Novo de abrir um procedimento disciplinar contra Bartô.

"Postura justa e coerente do NOVO. Esta não é a primeira vez que o deputado estadual Bartô tem atitudes incompatíveis com nossos princípios e valores. Como muitos sabem, eu fui perseguida e atacada por ele repetidamente. A única coisa que o fez parar foi minha vitória na eleição", disse nas redes sociais.

A deputada estadual Laura Serrano (Novo) e o deputado federal Lucas Gonzalez (Novo) preferiram não se pronunciar sobre o caso. O deputado estadual Guilherme da Cunha (Novo) não respondeu ao contato da reportagem.

No sábado (1º), o analista de segurança da informação Filipe Cezário foi preso, sem mandado de prisão, sob suspeita de atirar ovos da janela de seu apartamento em uma manifestação pró-Bolsonaro em Belo Horizonte. Bartô acompanhou a ação da Polícia Militar que resultou na prisão, chegando inclusive a entrar no prédio de Cezário e subir ao andar do apartamento dele, permanecendo no hall de entrada.

O Novo se manifestou sobre o episódio nesta quinta-feira (6) e disse que a atitude de Bartô “é vergonhosa e completamente incompatível com a de um servidor público, especialmente do NOVO”.

“O Diretório Nacional já tomou as medidas cabíveis junto à Comissão de Ética Partidária para punir adequadamente este ato deplorável, que desrespeita o Estado de Direito, a Constituição e o Estatuto do NOVO”, diz o texto.

Apesar da participação de Bartô no episódio envolvendo a prisão, integrantes do Novo apontam para outro fato que consideram grave: ao participar da manifestação do dia 1º, o parlamentar teria descumprido uma orientação do partido.

No dia 6 de março, o Novo aprovou a Diretriz Partidária nº 3, que orienta os membros a não participarem de manifestações que desmoralizem as instituições democráticas, como fez Bartô. Em suas redes sociais o parlamentar divulgou e convocou seus seguidores para a manifestação, embora tenha dito que não apoiava a pauta do ‘Eu autorizo, presidente”, mas apenas a da volta do comércio e também o pedido pelo voto impresso.

“O Partido NOVO também reitera, e assim orienta seus filiados, contra a realização, fomento, divulgação ou repasse de quaisquer atos ou discursos que visem a desmoralização das instituições democráticas, envolvendo quaisquer dos três poderes federais, os órgãos de Estado e o processo eleitoral”, diz o art.2º da diretriz.

Advogado pede cassação do mandato de Bartô

O advogado Daniel Deslandes de Toledo protocolou um pedido de cassação do mandato do deputado Bartô na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

Segundo o advogado, o vídeo da prisão ocorrida no sábado (1º) demonstra que Bartô teria cometido crime de abuso de autoridade e fraude processual e que a prisão violou as garantias fundamentais de Filipe Cezário.

Ele pediu que o Ministério Público avalie a necessidade da prisão preventiva do deputado. “Tais crimes também foram levados ao conhecimento do Ministério Público Estadual, ocasião em que foi pedido que o Procurador Geral de Justiça se manifestasse acerca da necessidade da prisão preventiva do deputado”, informou, por meio de nota à imprensa.

O deputado estadual Bartô informou que até o momento não recebeu nenhuma intimação sobre o caso.

Deputado já foi punido pelo Novo no final de 2019

Esta não seria a primeira vez que Bartô seria punido pelo Novo. No final de 2019, ele foi punido com “uma advertência pública” pela sigla após uma denúncia o acusar de ofender a honra e a dignidade de uma colega de partido. 

Em setembro daquele ano, em um grupo de WhatsApp de integrantes do partido, Bartô escreveu a uma colega: “Perde tempo fingindo de boazinha comigo não. Conheço seu perfil de longe… Vc furou camisinha? É verdade isso?”.

Após denúncia, o Novo abriu um processo disciplinar interno e a Comissão de Ética Parlamentar votou favorável por 3 votos pela condenação. Houve uma abstenção após um integrante da comissão se declarar suspeito.

Confira na íntegra a nota de Bartô:

"Nota de Esclarecimento:

“Informo que, em momento algum, fui procurado pela direção do Novo para tratar do assunto.

Causa-me estranheza um partido que se diz prezar pelo Estado Democrático de Direito sequer ouvir o outro lado antes de fazer julgamentos, inclusive, baseados em notícias midiáticas.

Porém, infelizmente, isso não me surpreende já que o Novo, cada vez mais, se aproxima da esquerda e persegue quem é da direita. Exemplo é o caso da aproximação do Amoedo com o Ciro e nada é feito...

Reforço que repudio todo e qualquer ato de agressão, sendo dever do cidadão evitar que esse tipo de ação seja praticada por qualquer pessoa, independente de sua ideologia.”, deputado estadual Bartô."

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!