Pesquisas divulgadas nas últimas semanas mostrando um crescimento da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e uma distância maior em relação ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) causaram surpresa em alguns e a análise de que a situação do atual chefe do Executivo caminha para um cenário irreversível. Não é bem assim. A situação de 2022 tende a ser bem distinta da que vivemos em 2021. A disputa continua aberta, embora já tenha estado melhor para o presidente.
Pesquisa eleitoral mais de um ano antes das eleições quer dizer pouca coisa, principalmente em um cenário extraordinário como o que vivemos atualmente. Quando os brasileiros forem às urnas, a pandemia já estará no passado. Vacinadas, as pessoas terão voltado à vida normal e a economia tende a estar em crescimento, comparada à base fraca que teremos em 2021. O cenário para o governo, com a CPI já concluída e com o debate mais pulverizado pela eleição, será bem menos desfavorável.
Isso não significa dizer que o governo não precise acender o sinal de alerta. Hoje, Bolsonaro ocupa a vaga em disputa no segundo turno. Nos meios políticos, a conclusão é a de que Lula dificilmente ficará fora da segunda etapa. Bolsonaro é quem precisa recuperar fôlego para se garantir também. Os candidatos da terceira via, todos antibolsonaristas, vão buscar provar que são mais capazes de vencer o petista no segundo turno.
Daí se explica a ação de Ciro Gomes (PDT) que, embora tendo atuado na centro-esquerda nos últimos anos, avisa que partirá para cima de Lula. Ele busca concentrar o sentimento antipetista, reunindo o centro e grupos à direita, para pescar votos de Sergio Moro, João Doria (PSDB) e Luiz Henrique Mandetta (DEM), por exemplo. Com sorte, tirar um pouco do apoio bolsonarista menos convicto, argumentando que teria mais capacidade de vencer o petista no segundo turno, por ter rejeição menor que a do atual presidente. Essa é a estratégia do pedetista. Se vai dar certo é outra história.
A situação de qualquer pretendente na terceira via não é simples. Considerando o dito acima, de que a tendência é que a pressão sobre o governo esteja menor em 2022, é possível imaginar que Bolsonaro tende a recuperar o terreno, fechando a janela na direita da mesma forma que Lula fechou à esquerda. Se o petista conseguir partidos de centro do seu lado e Bolsonaro conseguir outros do seu, o que hoje parece provável, nenhuma terceira via terá condição de se viabilizar. Isso, claro, se um novo terremoto político não atingir o país até lá.