Política em Análise

As origens do dinheiro

Na história, explicações passaram por verduras, panetones e, agora, chocolates

Por Ricardo Corrêa
Publicado em 21 de dezembro de 2019 | 03:00
 
 
 
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Políticos enrolados em investigações sempre saem com respostas que indicam que são excelentes empreendedores ou que tudo não passou de um mal-entendido. Normalmente, são explicações difíceis de acreditar, como a do senador Flávio Bolsonaro de que um policial militar atravessou 46 km no Rio de Janeiro e passou por quatro unidades da Kopenhagen nas esquinas de bairros para gastar R$ 21,1 mil em sua loja de chocolates. Ou achar que é razoável supor que não há nada de estranho em comprar dois imóveis e vendê-los, dois anos depois, com ágio de quase 300%, enquanto a valorização na região não chegou a 12%. Ou ainda entender ser crível que um PM tenha pagado para ele um boleto de R$ 16,5 mil, mesmo ganhando um terço disso e não se lembrando de como foi reembolsado.

A criatividade para tentar sair de uma enrascada não vem de hoje. Nos idos da década de 1990, João Alves, apontado como o líder do esquema dos Anões do Orçamento, disse que ganhou 221 vezes na loteria. “Deus me ajudou, e eu ganhei dinheiro”, disse, para os risos de colegas na CPI.

Antes disso, para justificar seus rendimentos e padrão de vida, o então presidente Fernando Collor alegava ter conseguido um empréstimo de US$ 3,75 milhões para a campanha eleitoral, os quais teriam sido convertidos em 318 kg de ouro, adquiridos junto ao doleiro uruguaio Najun Turner.

A alegação de empréstimo é bem frequente. No mensalão, Delúbio Soares e Marcos Valério usaram simulações para justificar a movimentação milionária de dinheiro. Já Aécio alega que os R$ 2 milhões que pedia a Joesley Batista se referiam também a um empréstimo para pagar seus advogados.

Agora, em valores mais modestos, Jair Bolsonaro diz ter emprestado R$ 40 mil a Fabrício Queiroz. O presidente apresentou a versão ao ser indagado sobre o repasse de R$ 24 mil feito pelo ex-assessor da família para a primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Queiroz, embora admita que precisou do dinheiro do antigo colega do Exército, afirmou que “era um cara de negócios, que fazia dinheiro”. Justificou ter conseguido a grana dos demais funcionários da Assembleia do Rio vendendo carro. Depois, admitiu haver a prática de “rachadinha”, mas alegou que o recurso era usado para contratar outros funcionários para o gabinete. Agora, que recebeu até da pizzaria de envolvidos em milícia, terá que arrumar mais algumas explicações.

Inspirações não faltam. José Adalberto, então assessor do deputado José Guimarães, quando foi preso com dólares na cueca, disse que o dinheiro era da venda de verduras. Já o ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda tentou falsificar recibos da compra de panetones na residência oficial para procurar justificar dinheiro repassado a ele pelo operador e delator do esquema de corrupção Durval Barbosa.

Eduardo Cunha disse ter feito fortuna vendendo carne enlatada para a África. Renan Calheiros argumentou que sua fortuna vinha da venda de gado em suas fazendas. Já os petistas Antonio Palocci e José Dirceu alegavam que as suas eram fruto de consultorias. Geddel Vieira Lima, ao ver seu bunker de R$ 52 milhões ser revelado, alegou ser “simples guarda de valores”. O ex-deputado Rocha Loures (MDB), um ano depois de ser flagrado correndo pelas ruas com uma mala contendo R$ 500 mil, disse à Justiça que não sabia o que tinha dentro.

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