Desde que tomou posse como presidente da República, Jair Bolsonaro permanece em campanha. De lá para cá, já houve debate de reformas, crises internas e vivemos uma pandemia interminável. Mesmo assim, o presidente não saiu do palanque. E, mais recentemente, com o surgimento de pesquisas desfavoráveis ao chefe do Executivo em uma eventual disputa pela reeleição, ele engrossou a presença em eventos pelo Brasil. Tudo para tentar manter firme uma parcela de cerca de 25% do eleitorado e mostrar que tem apoio pleno para permanecer na função.

Aliados do presidente estão sempre nas ruas e isso, exceto pelo fato de que estamos em uma pandemia, não é problema nenhum. É um direito de cada cidadão demonstrar seu apoio. E, pela quantidade de pessoas nas ruas em Brasília no último domingo e no Rio de Janeiro ontem, fica nítido que a disposição de demonstrar esse apoio continua muito alta, mesmo em momento de popularidade em baixa. Isso, porém, não traz qualquer indicativo do tamanho do apoio ao presidente. Há milhões de brasileiros que o aprovam e milhões que o desaprovam. Um evento isolado com milhares de pessoas não quer dizer tanta coisa, a não ser, como disse, essa disposição de defender o presidente até o fim.

O que é inusual na história do Brasil e talvez na maioria dos países democráticos é essa necessidade do presidente de participar de tais atos. De tempos em tempos, Bolsonaro resolve aparecer para os eventos de seus apoiadores. Desde que o Datafolha apontou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) começou a abrir vantagem em relação a ele, Bolsonaro passou a ser a figura central nesses eventos. Desfilando, discursando, levando ministros e ex-ministros. É um comício por domingo. E assim será até 2022.

Bolsonaro, tenta, no poder, repetir a estratégia que deu certo quando estava fora do Palácio do Planalto. Nos anos anteriores às eleições, ele marcou presença em diversos eventos, com claque o recebendo em aeroportos, e usando discursos inflamados por todo o Brasil. Assim, deixou a irrelevância para tornar-se um candidato viável, que atropelou os adversários mesmo sem tempo de televisão na campanha eleitoral.

Agora, porém, é diferente. É natural ver quem está na oposição mobilizado para voltar ao poder a todo custo. Quem está fora do governo, faz atos de protestos, tenta contrapor-se à agenda de quem comanda para não sumir na irrelevância. Quem está no poder, por outro lado, governa. Ou deveria governar. Bolsonaro, hoje, faz campanha. Quando transforma em palanque um evento que lança um programa aqui e ali, não inventa nada. É o que os outros presidentes também fizeram. Quando participa de atos extraoficiais criados por seus apoiadores (na prática, sabe-se que são figuras do governo que organizam tais manifestações), demonstra que sente-se pressionado e com a necessidade de recuperar terreno. Indica que tem pouco para mostrar sobre seu trabalho. É como se ainda estivesse fora do governo.