O segundo turno das eleições municipais tem servido para mostrar um pouco melhor o comportamento do eleitorado quando colocados frente à polarização que se vê no nível nacional. E, em especial, em duas cidades, a chamada frente ampla, tão sonhada pelas oposições ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para 2022 tem indicado bons resultados. São os casos do Rio de Janeiro e de Fortaleza.
No caso carioca, a frente ampla é informal e conta com a grande vantagem de que Marcelo Crivella (Republicanos), o candidato do presidente no Rio, é fortemente rejeitado. Assim, unir-se em torno de Eduardo Paes (DEM) acabou sendo caminho natural tanto para a esquerda como para boa parte da direita. O ex-prefeito tende a ganhar com grande margem. Algo perto de 70% a 30% se as pesquisas tiverem certas. E com o apoio ainda que tímido de nomes do PSOL e do PT, antigos adversários ferrenhos na cidade.
Mais clara ainda é a frente ampla formada em Fortaleza, onde Sarto (PDT) tem boa frente contra Capitão Wagner (PROS): 60% x 40% segundo o Ibope mostrou essa semana. O programa eleitoral do candidato de Ciro Gomes e Cid Gomes, inclui o PT do governador Camilo Santana, o PSOL do deputado federal Marcelo Freixo, o PSDB do senador Tasso Jereissati e o DEM do presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Todos eles declaram apoio aberto a Sarto, com o objetivo de derrotar o candidato bolsonarista por lá.
Há quem considere que há uma frente ampla em São Paulo em torno de Guilherme Boulos, mas na verdade há uma frente de esquerda. Até pelo fato de que o adversário é também um inimigo atual do bolsonarismo. Há até aliados do presidente fazendo campanha de bastidores pelo psolista contra Bruno Covas. A presença de Ciro Gomes, Marina Silva (Rede), Lula (PT) e Flávio Dino (PCdoB) está dentro da normalidade, portanto, não se tratando de nenhuma união incomum em prol de derrotar um adversário.
Longe das frentes amplas, até por incluírem dois nomes à esquerda do espectro ideológico, a campanha de Recife mostra como às vezes é difícil unir partidos de um mesmo campo. A corrida familiar entre Marília Arraes (PT) e João Campos (PSB) divide os partidos por lá e é travada em baixíssimo nível, com ofensas e ataques fortes de parte a parte. O imbróglio é tão grande que o PDT rachou, apoiando oficialmente João Campos e com o deputado Túlio Gadêlha perfilando-se ao lado de Marília. Mostra que interesses locais podem, mais uma vez, ameaçar uma eventual união em torno de um grupo que queira derrotar Jair Bolsonaro em 2022.