Eleições 2022

Lula vence e tem missão de unir país dividido nas urnas

Petista agregou adversários históricos para dar voz à oposição e derrotar o presidente Jair Bolsonaro

Por Ricardo Corrêa
Publicado em 31 de outubro de 2022 | 12:08
 
 
 
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Na maior reviravolta da história política brasileira e na disputa mais acirrada na história do período democrático, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ganhou dos brasileiros o direito de voltar ao Palácio do Planalto no dia 1° de janeiro de 2023. Dado como morto politicamente ao ser preso pela Lava Jato e depois de 580 dias de cárcere, o petista conseguiu a vitória após uma disputa intensa e por vezes até selvagem contra o atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição. A vitória, com 50,90%, veio após uma aliança no segundo turno impulsionada pelo forte sentimento antibolsonarista, que fez com que figuras de diferentes matizes ideológicos acabassem abraçando o candidato de esquerda.

Para vencer Bolsonaro, Lula teve trabalho. Precisou reunir rivais históricos, colocando na chapa, inclusive, um dos maiores representantes deles: Geraldo Alckmin, ex-PSDB e hoje no PSB, contra quem disputou as eleições de 2006. No segundo turno, contou com Simone Tebet (MDB), terceira colocada na primeira etapa da votação, e o PDT de Ciro Gomes, quarto colocado. Eis o símbolo da estratégia do futuro presidente para conseguir atropelar o sentimento antipetista que levou Bolsonaro ao poder em 2018. Lula venceu agregando mais do que o chefe do Executivo, que governou confrontando outros Poderes, governadores, prefeitos, organizações não governamentais e líderes mundiais.

Após as pesquisas mostrarem vantagem folgada de Lula no primeiro turno, o choque com os resultados de Bolsonaro acima do esperado nas urnas na votação do dia 2 de outubro incluiu um pouco mais de tensão nas últimas semanas. Talvez por causa disso, auxiliares do presidente negavam-se a reconhecer que a derrota era o resultado mais provável, principalmente após Lula ficar a apenas 1,5 ponto percentual de liquidar a fatura sem a necessidade de uma segunda ida às urnas. Mesmo com alianças políticas com governadores que prometeram entregar mais votos do que na primeira etapa, seus apoiadores passaram a ir menos às ruas.

Grande parte do bolsonarismo chegou às urnas com a certeza de que ganharia e, com isso, não trabalhou para reverter o quadro notoriamente difícil até que fosse tarde demais.

De outro lado, mesmo quando as pesquisas indicavam que a vitória parecia ser questão de tempo, havia temor. E se as pesquisas errarem de novo? E se houver voto envergonhado? E os prejuízos da abstenção? E se as medidas sociais instituídas de última hora fizessem diferença? Essa tensão e essa incerteza incontida fizeram com que a campanha de Lula, seus aliados e militantes ficassem em permanente estado de alerta, incansáveis na tarefa de garantir sua vitória. Agora, vistos os resultados das urnas, é possível dizer o quanto isso fez diferença para decidir uma eleição difícil.

Só isso não bastaria, mas vieram outros fatores para ajudar. Além dos erros de Bolsonaro, sobretudo na condução da pandemia, que geraram frases inadequadas insistentemente utilizadas no noticiário e na propaganda eleitoral, também as trapalhadas de uma terceira via perdida no primeiro turno fizeram diferença. Um grupo que nunca conseguiu de fato se tornar único. Que chegou às urnas com diversos candidatos. Aquele que parecia mais viável eleitoralmente, Ciro Gomes (PDT), mostrou mais uma vez a incapacidade de articulação. Terminou menor do que começou. Aquela que melhor conseguiu aglutinar forças partidárias, a emedebista Simone Tebet, chegou tarde à disputa, enfrentando dissidências internas de partidos que estão se esfacelando e quando a polarização já parecia ser irreversível. No segundo turno, foi dela o maior esforço fora do campo petista para fazer com que o eleitor médio pudesse decidir o jogo a favor de Lula.

Com a vitória do petista, agora começa um incerto período de transição, sobre o qual poucos têm esperança. Há quase unanimidade no ar de que será um momento difícil em que adversários figadais terão que planejar juntos a passagem de bastão após a eleição mais tensa e violenta da história. E depois disso, claro, restará o desafio ao eleito de governar um país profundamente dividido, em boa parte deprimido e já com os olhos para os novos embates que virão em quatro anos. Com um Congresso mais à direita do que enfrentou em seus outros mandatos, a tarefa parece bem mais difícil. Na eleição, Lula venceu mostrando mais força do que no passado. No governo, terá que repetir a dose até mesmo para chegar ao final do processo que se inicia.

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