O ano eleitoral chegou, mais da metade de janeiro já se foi e pouca diferença se vê hoje em relação ao cenário de meados do ano passado na corrida pelo Palácio do Planalto. Intensamente polarizada e com potencial para sacudir o Brasil, a disputa eleitoral de 2022 vive, de agora até o fim de março, um momento decisivo para os comandos das campanhas. Em abril, numa espécie de grande paredão, tal qual no BBB, programa mais assistido da TV brasileira atualmente, alguns candidatos devem voltar para casa. O futuro deles depende não apenas da capacidade de se viabilizarem, mas das perspectivas de que a eleição tenha de fato dois turnos.
Com prazo para que suas candidaturas decolem e ameacem a polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) estão nomes como Ciro Gomes (PDT), João Doria (PSDB), Rodrigo Pacheco (PSD), Simone Tebet (MDB) e Sergio Moro (Podemos). Além deles, estão colocados André Janones (Avante), Aldo Rebelo (sem partido), Luiz Henrique Mandetta (União Brasil), Luiz Felipe D’Ávila (Novo) e Leonardo Péricles (UP). Imagina-se que metade deles fique pelo caminho em abril.
No caso de Ciro Gomes e João Doria, as resistências em seus partidos existem e não são desprezíveis. O prazo dado a eles para uma reação é exatamente esse: o final de março. Porém, o entusiasmo de ambos, o gasto de energia e de dinheiro já feito até aqui com montagem de estrutura e slogan torna improvável que algum deles recue. Seria difícil achar uma saída honrosa para ambos que, exatamente por isso, devem concorrer até o fim. Exatamente por isso o PDT marcou logo o lançamento da pré-candidatura de Ciro para essa semana e os tucanos ligados a Doria passaram a pregar que só depois de maio, quando a propaganda partidária do PSDB entrar no ar, será possível medir seu desempenho.
Sobre os demais, não diria o mesmo. Suas reais chances de permanecer concorrendo estão hoje nas mãos dos caciques partidários que fazem seus cálculos na ponta do lápis. Casos claros de Simone Tebet (MDB) e Rodrigo Pacheco (PSD), por exemplo. Hoje, os dois nomes são pré-candidatos em razão de um cálculo pragmático que dá conta de que os partidos têm mais condição de eleger deputados e senadores se estiverem livres para apoios regionais sem vinculação nacional a Lula (que corteja os dois) e Bolsonaro. Assim, a MDB e PSD, com candidatos à Presidência, seria possível apoiar lulistas no Nordeste, bolsonaristas no Sul, doristas em São Paulo e ciristas e moristas aqui e acolá. Considerando a capacidade que esses partidos têm de agregar grupos em todos os espectros ideológicos, é uma estratégia interessante.
Essa estratégia, porém, leva em conta uma eleição em dois turnos, na qual, após montar bancadas fortes na primeira rodada, esses partidos poderiam negociar, a peso de ouro, o apoio ao favorito na segunda etapa das eleições. Mais do que uma negociação para definir a eleição, MDB e PSD miram espaços no futuro governo, que poderiam ser obtidos por meio de acordos que levem em consideração as grandes bancadas que pretendem eleger.
Ocorre que o cenário muda um pouco se a chance de a eleição ser decidida em primeiro turno começar a se tornar uma probabilidade mais real. Aí, as alianças já na primeira etapa definirão quem fica com o filé mignon do futuro governo, ao menos em seus meses iniciais. Embora hoje os caciques desses partidos continuem apostando que haverá segundo turno, a certeza de que o ex-presidente Lula cairá um pouco cedo ou tarde já diminuiu. Principalmente pelo fato de ele ter sido o herdeiro dos quatro ou cinco pontos percentuais que Jair Bolsonaro perdeu desde outubro do ano passado, quando se olha a média das pesquisas. No percentual de Lula reside, portanto, o futuro de nomes dessas legendas.
Outros, por outro lado, dependem mais da capacidade de sair do lugar do que do que Lula está conseguindo lá na frente. Moro, por exemplo, hoje tem dificuldades de se articular politicamente e já enfrenta dificuldades no próprio Podemos. Por isso, é real a possibilidade de migrar para o União Brasil. O sucesso dessa articulação, que daria muito fundo eleitoral e um novo fôlego para uma candidatura que começou forte mas estacionou é fundamental para que ele fuja desse paredão de abril, onde estará o restante da pipoca que está a desafiar os hoje dois únicos integrantes do camarote eleitoral.