Os recados trazidos pelo primeiro conjunto de dados da pesquisa DataTempo realizada em todo o país devem ser motivo de preocupação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Não apenas pelo fato de ele ter 14 pontos de desvantagem para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no primeiro turno e perder todas as simulações de segundo turno. Deve preocupar ainda mais o atual chefe do Executivo o fato de que o sentimento de mudança refletido pela pesquisa indica que seu piso pode ser menor do que inicialmente imaginado.
Os pesquisadores perguntaram à população em qual tipo de presidente eles preferem votar. A resposta veio de forma sonora e enfática. Só 13,3% dizem preferir “um presidente que dê continuidade à forma atual como o Brasil está sendo administrado”. O restante, ou quer um que mude tudo (56,1%) ou um que mude ao menos algumas coisas (28,8%). Ainda teve um percentual de 1,8% que não sabe ou não respondeu. Desses dados pode-se inferir que, a despeito das análises de que o piso eleitoral de Bolsonaro estaria na casa de 20%, o cenário pode ser pior ainda para ele. Se só 13,3% preferem um presidente que mantenha o governo que ele faz, há aí uma turma que embora ainda declare voto no presidente parece fazê-lo por falta de opção. Se houvesse alguém que mudasse um pouco e com quem se identificasse, poderia abandonar o presidente, deixando sob risco de nem ir ao segundo turno.
Os dados também demonstram a dificuldade hoje do presidente entre os eleitores com renda de até dois salários mínimos e entre os mais jovens. No primeiro caso, o enfrentamento a essa dificuldade se dará por meio do lançamento do Auxílio Brasil. O programa, importante a despeito do que pode gerar de dividendos eleitorais, é hoje uma prioridade tão grande para Bolsonaro que até aumentar impostos para custeá-lo foi feito. O aumento do Imposto sobre Operações Financeiras, porém, pode acabar atrapalhando o bom desempenho do presidente no público que declara renda de cinco a dez salários mínimos, onde ele tem o melhor resultado.
Em relação aos mais jovens, parece caso perdido para Bolsonaro. Se dependesse do eleitorado de 16 a 24 anos, Lula poderia ser eleito ainda no primeiro turno. Significa dizer que se a eleição se acirrar até o momento da disputa, o comparecimento dos jovens de 16 a 18 anos pode se tornar decisivo. Isso, consequentemente, tende a fazer com que o PT inicie de alguma forma uma campanha para incentivar o público desta faixa a votar, mesmo não sendo obrigatório.
Os dados a serem divulgados nos próximos dias vão ajudar a entender o motivo das dificuldades enfrentadas por Bolsonaro. Mas é sempre bom dizer: pesquisa é retrato de momento. E ainda falta muito tempo para a eleição (um ano e três meses). Esse cenário pode se modificar e quem tem a caneta não mão para alterar os fundamentos que levam hoje à impopularidade é o presidente da República. Isso significa que não está morto, embora hoje sua situação seja delicada para a corrida eleitoral de 2022.