A união entre petismo e bolsonarismo em torno do enfrentamento à Lava Jato é o maior obstáculo já enfrentado pela operação desde que surgiu no meio político no início de 2014. As ações dos investigadores e as decisões acerca da maior operação de combate à corrupção da história do Brasil estão na mira tanto no Congresso quanto no Ministério Público Federal (MPF), desde que o procurador geral da República, Augusto Aras, assumiu o comando do órgão.
Não é de hoje que o PT e seus aliados combatem a Lava Jato. Com a avaliação de que a operação persegue o partido, não é de hoje que os dirigentes e parlamentares buscam a instalação de uma comissão parlamentar de inquérito para discutir a ação das forças-tarefas da operação. A prisão de Lula, maior líder da legenda após condenações em duas instâncias em Curitiba e Porto Alegre nunca será esquecida pela legenda, evidentemente.
Mas com grande parte da esquerda esperneando contra a Lava Jato há anos, a ação resistiu com o apoio da maioria da sociedade e das entidades da sociedade civil. Principalmente nos tempos em que Rodrigo Janot comandava o MPF, a ação foi adiante, causando estragos na base aliada dos antigos governos petistas.
Recentemente, depois de uma criticada longa demora, a ação também começou a mirar nos políticos tucanos de São Paulo.
O cenário de força absoluta da Lava Jato, porém, acabou. Após Bolsonaro driblar a lista tríplice da associação dos procuradores para indicar Augusto Aras, um confesso crítico da Lava Jato, à Procuradoria Geral da República (PGR), a Lava Jato passou a ser o patinho feio do MPF. Aras não esconde que quer acabar com o “lavajatismo”. Disse isso claramente em entrevistas. Tenta acessar dados da operação, dá declarações contra a força-tarefa e age como se fosse corregedor do MPF para apontar os crimes dos procuradores que compõem as forças-tarefas, em especial a de Curitiba.
O escolhido pelo bolsonarismo para a PGR partiu para cima da operação justamente quando o governo federal fechou um acordo com partidos do Centrão para sustentar o presidente no cargo mesmo diante de investigações de casos de corrupção envolvendo seus familiares. Ciro Nogueira e Arthur Lira, por exemplo, líderes de partidos que hoje sustentam o presidente, são dois antigos alvos da Lava Jato. Chegou ao ponto de o presidente Bolsonaro desfilar no Nordeste nesta semana, ao lado de Nogueira, aos gritos de “Fim do Lava Jato”.
Faz todo sentido, considerando o fato de o presidente ter esvaziado o combate à corrupção, aliando-se a um pacote anticrime distorcido, implodindo o Coaf, sabotando a independência da Receita e da Polícia Federal e escolhendo um inimigo da Lava Jato para a PGR. Além disso, parte da força popular da Lava Jato se perdeu pelo fato de que alguns dos movimentos que a sustentavam só tinham mesmo interesse em mudar o comando do Poder no país. Os bolsonaristas, em especial, romperam com a ação para ficar do lado do presidente na briga com o ex-juiz Sergio Moro, após maciça propaganda de uma máquina que sustenta o governo no submundo da internet.
Não há anjos nessa história. Parece não haver dúvidas de que a Lava Jato cometeu seus erros. Mensagens vazadas e documentos obtidos pela PGR apontam que houve dribles legais. Investigação de pessoas sem foro, vazamentos seletivos e personalismo exacerbado são alguns deles. Por outro lado, é inegável que a Lava Jato mudou o patamar das investigações de combate à corrupção no país. Não fosse a ação, empreiteiros e políticos há anos impunes não teria sido detidos. Isso não é algo a se jogar fora. Mas se depender de petistas e bolsonaristas, a Lava Jato não vira 2020. A ação resistirá?