É bastante comum que partidos que estão no centro do espectro político vivam rachados. Podemos ver uma ala governista e outra oposicionista no MDB, uma divergência entre alas mais à esquerda e mais ao centro no PSB, ou uma disputa entre lideranças paulistas e de outros Estados no PSDB. Chama a atenção, porém, quando as divisões internas se dão em partidos mais firmemente posicionados no espectro ideológico. É o que acontece agora com o Novo e com o PSOL.
No caso do partido de direita, o grande debate se dá em torno da oposição ou não ao presidente Jair Bolsonaro, encampando ou não um pedido de impeachment do ocupante do Palácio do Planalto. Enquanto uma ala representada pelo ex-presidente e fundador João Amoêdo é implacável com o Planalto, outra, que inclui deputados federais e o governador de Minas, Romeu Zema, tem simpatia pelo chefe do Executivo nacional. Em alguns casos, há um alinhamento claro com o presidente da República.
Por causa disso, surgiu nas redes sociais nesta terça-feira uma grande polêmica em relação à postura de Marcel Van Hattem (RS), candidato da legenda ao comando da Câmara e que contemporizou sobre falhas de Bolsonaro e eventuais crimes de responsabilidade cometidos por ele.
No PSOL, a raiz da divergência é outra, já que a oposição a Bolsonaro é, evidentemente, clara. A celeuma aí se dá sobre a disputa pelo comando da Câmara dos Deputados. Parte da bancada defendia um alinhamento à candidatura de Baleia Rossi (MDB), do grupo de Rodrigo Maia (DEM), já no primeiro turno. Baleia é o único capaz de disputar de igual para igual com Arthur Lira (PP), nome que tem apoio do governo Bolsonaro. Nessa ala estavam Marcelo Freixo (RJ) e a líder da bancada Sâmia Bomfim (SP). Ocorre que esse grupo acabou sendo derrotado por outro, que tem maioria entre os parlamentares, sendo Áurea Carolina (MG) um de seus representantes. Essa ala conseguiu emplacar o nome de Luíza Erundina (SP) como candidata para marcar posição. Justificam esses que a candidatura não torna mais fácil a vitória de Arthur Lira no primeiro turno, já que não altera a necessidade de que o governista tenha metade mais um dos votos. A outra ala justifica, porém, como alguns analistas políticos brasileiros, que a posição do PSOL pode reduzir a expectativa de vitória de Baleia, o que fortaleceria um processo de traição interna que favoreceria Lira.
Independentemente de quem está certo nas divergências do Novo e do PSOL e das evidentes diferenças entre as duas legendas, o certo é que essas posições dúbias enfraquecem legendas que ainda não têm tamanho suficiente para permitir-se atuações claudicantes. É fato que as posições sólidas e uma clara linha de atuação são as razões que fizeram com que muitas pessoas seguissem um ou outro e não partidos maiores em seus campos. Isso deve ser levado em consideração, principalmente em um cenário com tantas siglas, sob a pena de as duas legendas perderem relevância.