Estivéssemos no primeiro ou no segundo mês de governo, daria para ter como normal a escorregada que deu o governador Romeu Zema (Novo), ao difundir o discurso antipolítica que predominou na campanha de 2018 e chamar os deputados estaduais de mercenários, criando um desgaste desnecessário com a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Com dois anos de governo e já sabendo como as coisas funcionam, é um erro grosseiro e que cria problemas quando o governo já tem vários para enfrentar.
O episódio parece daqueles em que, desacostumado com a função pública, o chefe do Executivo esqueceu-se ou não se deu conta do tamanho do cargo e da repercussão daquilo que fala. Imagino que Zema, ao falar para um veículo do espectro político que representa, pudesse imaginar que aquilo não iria chegar até os deputados ou gerar descontentamento. Daí, pensou que, diante de um público antipolítico, pudesse também sê-lo, sem consequências. Foi lembrado de que não é bem assim.
Certo ou errado, o governador não colheria nada positivo da fala. Hipoteticamente, se estiver certo, Zema só poderia colher vingança do Parlamento. Afinal, se os deputados só pensam em si como ele diz, ofendê-los e diminuí-los perante a opinião pública não seria uma boa maneira de conseguir seu apoio. Se, ao contrário, estiver errado, o governador estaria cometendo uma injustiça também capaz de gerar profundas insatisfações. Daí imaginar que, em qualquer cálculo ou hipótese, o resultado seria negativo.
O momento para mais um desgaste também não é bom. Justo agora que corre na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) uma CPI que investiga irregularidades na Secretaria de Saúde do seu governo. E quando a relação com boa parte dos prefeitos do Estado também não vai lá essas coisas. Eles reclamam de falta de repasses, mas também de falas de Zema indicando que andavam estocando doses de vacina, o que não faz muito sentido em um cenário em que vacinar rápido a população e retomar a vida normal é, inclusive, ativo eleitoral.
Certo é que, sem base aliada, afinal seu partido possui apenas três parlamentares e a aliança com outras legendas não é sólida o suficiente, o governador precisa demais do apoio da ala mais independente da ALMG para aprovar projetos de interesse do Executivo. Tudo o que aprovou até agora, inclusive, foi com esse apoio. Isso, por si só, já deveria ser suficiente para o governo medir mais as palavras ao se referir ao Legislativo. Considerando então que já estão em curso debates eleitorais com vistas a 2022, essa preocupação se redobra. A corrida eleitoral que se avizinha tem características muito distintas da de 2018, vencida pelo governador graças à altíssima rejeição dos dois principais concorrentes. E, considerando que pensa em reeleição, o governador já deveria estar tratando de estreitar laços para formar uma aliança competitiva, não tratando de afastar a classe política. O preço pode ser caro.