Política em Análise

Zema sofre pressão de todos os lados

Sinuca de bico inclui governadores e partido de um lado e servidores da segurança de outro

Por Ricardo Corrêa
Publicado em 03 de março de 2020 | 11:08
 
 
 
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Já falei aqui, mais de uma vez, de como a decisão de recompor em 41,7% os vencimentos do servidores da segurança pública, seria um tiro no pé dado pelo governador Romeu Zema (Novo). A cada dia essa visão parece estar mais cristalizada em quem acompanha o meio político. O governador entrou em um labirinto sem saída e qualquer decisão que tomar, a partir de agora, vai lhe gerar cobranças e bastante desgaste.

Isso ficou muito claro ontem na fala do governador de São Paulo, João Doria, que veio a Minas Gerais, discursou em um evento para empresários e, mesmo sabendo que horas depois estaria em reunião diante de Zema, passou um enorme pito no chefe do Executivo mineiro, dizendo que a posição do político do Novo era um “erro institucional” que pressionava os demais governadores. Disse mais: defendeu abertamente que Zema mudasse de ideia. 
Uma pergunta que se deve fazer é a seguinte: quantas vezes já se viu um governador de Estado dar recomendações a outro sobre um projeto de abrangência apenas naquela unidade da Federação.

Honestamente, não me lembro. E se Doria o fez é porque está claro que esse é um assunto já nacionalizado, justamente pois incentiva uma pressão pelo descontrole nas contas públicas em outras unidades na Federação. Torna-se curioso que quem hoje nade contra a corrente na defesa da contenção dos gastos públicos seja o único governador do Novo e não os tantos representantes da esquerda que pugnam por um Estado maior. Uma enorme contradição. Insuperável para a legenda no início de um ano eleitoral.

É por isso que a pressão, externada por Doria, é também do Partido Novo. Afinal, com qual discurso a legenda disputará as eleições municipais? O governador, não resta dúvida, em vez de impulsionar, destrói as candidaturas de seu partido com uma posição distante do que foi pregado na campanha.

É por isso que, diante do quadro, não se duvida nem mesmo que Zema possa recuar e desistir do aumento, a partir de um veto que teria que ser analisado na Assembleia. Essa solução traria, sem dúvida nenhuma, uma insatisfação na tropa maior do que a que foi externada antes do acordo anunciado com o governo do Estado. Mas, após a solução dada ao caso no Ceará, e o apoio dos demais governadores em um enfrentamento a essa pressão militar, talvez valha a pena para Zema enfrentar esse desafio. Não sairia maior do que antes do episódio, mas ao menos limitaria as chances de matar o seu governo, caso insista no reajuste e a Assembleia, por sua vez, persista na ideia de dar aos demais servidores esse mesmo direito.

 

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