Análise

‘Se Doria quiser ser candidato, Bolsonaro é adversário’, diz FHC

Ex-presidente diz que Luciano Huck ainda precisa abrir caminhos


Publicado em 25 de agosto de 2019 | 03:00
 
 
 
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Buenos Aires. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) endossou a tática do correligionário e governador de São Paulo, João Doria, de se distanciar criticamente do presidente Jair Bolsonaro, enfatizando que o atual presidente da República não deve ser tratado como um aliado, considerando uma eventual disputa em 2022. “Eu acho que esta fase (de crítica de Doria a Bolsonaro) é melhor porque, objetivamente, se o governador Doria quiser ser candidato, o Bolsonaro é adversário, não é aliado”, avaliou Fernando Henrique, que rejeita a avaliação de que a ascensão de Doria tenha levado o partido á centro-direita. Para o ex-presidente, o PSDB hoje é um partido de centro.

“Bom, pode ser que algumas pessoas tenham chegado (à centro-direita), mas o partido, no seu conjunto, não chegou. Agora, o que acontece no mundo? Você hoje tem o liberalismo autoritário ou o liberalismo progressista. Acho que o PSDB deveria alinhar-se ao liberalismo progressista”, avaliou.

Para FHC, eventual fusão entre PSDB e DEM, como está sendo colocada nos bastidores da política, não significa, necessariamente, uma guinada à direita da sigla tucana.

“Acho que a estrutura partidária brasileira está tão esfarelada, tão fragmentada, que muitas fusões seriam bem-vindas. Sou presidente de honra do PSDB, mas não tenho contato com o dia a dia. Emito minha opinião como observador. Acho que a fragmentação é de tal natureza que vamos precisar de uma reorganização da vida partidária. Na verdade, o que nós construímos na Constituição de 1988, bem ou mal, está terminando. É preciso renascer de outra maneira. Acho que, nesta fase de transição, na qual a internet joga um papel enorme, ou seja, a relação de pessoa a pessoa salta as instituições, é o momento em que as pessoas se voltam para os líderes, para as pessoas. Então, não sei quais serão as pessoas que vão aparecer no Brasil com força suficiente para reorganizar. As pessoas que tinham ou estão já fora porque foram derrotadas ou porque estão velhas ou porque estão presas”, analisa.

FHC diz que o PSDB nasceu como centro-esquerda e foi se deslocando para o centro. Da mesma forma, ele acha que o DEM também mudou e deixou a posição mais extremada à direita.

“O DEM mudou muito. Líderes do DEM que estão conversando com o PSDB já têm outra cabeça. Não são da geração dos avós”, resume.

Para Fernando Henrique, há uma alternativa de centro no Brasil e no mundo. “A cultura brasileira é de muita transigência, muita acomodação. Agora na polarização, isso desaparece. É preciso voltar o pêndulo para um lugar mais adequado. Para isso, é preciso ter alguém que expresse, que fale”, explica.

Para ele, Luciano Huck até poderia ser esse representante, mas ainda precisa de ser testado na política. “Ele tem a possibilidade. O Luciano Huck é um homem que, certamente, tem popularidade. Qual é a questão do Luciano Huck? É transformar-se de celebridade na TV em líder político para a popularidade se tornar voto. Não é a mesma coisa. Se ele tomar os passos necessários, sim (pode ser sustentado pelo centro. Eu acho que, quando uma pessoa é um líder, é o líder quem tem de abrir o caminho”, conclui.

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