MARIANA

A morte do rio Doce começa em 5 de novembro, quando a barragem de Fundão se rompe. A estrutura integra o complexo da Mina Germano, da Samarco, que tem como controladoras a Vale e a anglo-australiana BHP Billiton. Foram 55 milhões de m³ de água e lama que devastaram um raio de 30 km ao redor da estrutura, destruindo completamente o subdistrito de Bento Rodrigues e afetando outras áreas da zona rural de Mariana, na região Central do Estado. Foram ao menos 11 mortes

BARRA LONGA

É onde os rejeitos alcançam o rio Gualaxo do Norte, que deságua no rio Doce. A cidade não foi totalmente devastada como Bento Rodrigues, mas, dia após dia, moradores, funcionários públicos, bombeiros e voluntários lutam para limpar toda a sujeira deixada pelo rastro de lama. Mas recuperar a vida e a rotina ainda parece um desafio. Elaine Martins, 33, mora na praça principal da cidade, às margens do rio Gualaxo do Norte, e viu, do alto de seu apartamento, o barro chegar e assolar todas as suas memórias e a de seus vizinhos. ‘Passamos nossas infâncias e grande parte da vida aqui nessa praça e a beira desse rio. E agora?’

SANTA CRUZ DO ESCALVADO

Foi o primeiro ponto onde a lama parou no rio Doce, já que a usina hidrelétrica de Candonga ofereceu a primeira barreira para esse mar de rejeitos. O impacto afetou diretamente a produção rural da cidade, que vive em torno desse leito. Não há grande número de pescadores profissionais, mas grande parte dos produtores rurais depende das águas para suas criações e plantações. É onde a lama perde um pouco da sua força e passa a correr apenas no leito do rio Doce. Não houve impactos estruturais para o município

NAQUE

Não capta água diretamente do rio Doce, e o abastecimento não foi interrompido, no entanto, os moradores da zona rural e um pequeno vilarejo que fica às margens do leito viram a água que dava vida, morrer. As criações recorriam diretamente ao leito, e os fazendeiros tiveram que recolher o gado e todos os outros animais para evitar a contaminação. A medida tomada é usar água de reservatórios próprios e manter os animais presos para que eles não sigam até o rio. Não há um planejamento que contemple esses agricultores

PERIQUITO / PEDRA CORRIDA (DISTRITO)

Em Periquito, um dos lugares mais atingidos foi o distrito de Pedra Corrida, que é uma comunidade basicamente formada por pescadores. No local, eles ficaram sem abastecimento de água e sem saber como ter o próprio sustento. Dezenas de casas ficam à beira do rio Doce e além dos impactos ambiental e econômico, o medo da contaminação era constante. Pedidos por abastecimento foram recorrentes, e a comunidade temia o surgimento de doenças e a falta de assistência médica adequada. Na região, era possível ver dezenas de peixes mortos às margens do rio. Lá é um dos primeiros pontos antes de chegar à hidrelétrica de Baguari.

GOVERNADOR VALADARES

Primeira grande cidade que tinha o abastecimento todo realizado com as águas do rio Doce. Ele corta o município e, além de prover a população, de aproximados 277 mil habitantes, é ponto turístico e de lazer. O impacto não foi físico, mas a prefeitura decretou estado de calamidade pública, e o abastecimento foi interrompido por quase duas semanas. A situação era de desespero, pessoas estocaram água em suas casas. Mesmo assim, não foi suficiente e, em um primeiro momento, caminhões-pipa foram disponibilizados para tentar suprir a demanda. O Exército montou uma força-tarefa para distribuir água potável. Houve protestos, saques a carregamentos e a chegada de vagões-tanque de água (encaminhados pela Vale) contaminados com querosene. Com a impossibilidade de retomar a captação, ficou decidido recorrer à tecnologia do polímero da acácia negra - comum no Sul do país - para tratar a água, com índices altíssimos de turbidez. Iniciativa que deu certo. A usina hidrelétrica de Baguari paralisou as atividades em função da lama. Ela tem capacidade para abastecer duas cidades do tamanho de Governador Valadares por dia.

GALILEIA

A pequena cidade, com cerca de 10 mil habitantes, depende do rio Doce: o sistema de abastecimento era totalmente no leito e há grande quantidade de pescadores e pequenas vilas às margens. Para conseguir água, as pessoas recorreram a minas e a doações de algumas fazendas com poços artesianos. Moradores chegavam a andar 40 km para conseguir água tratada. No dia 13 de novembro, a prefeitura começou a requisitar os primeiros caminhões-pipa, mas ainda não havia outra alternativa para restabelecer o abastecimento da cidade.

RESPLENDOR

A economia é toda voltada para agricultura, pecuária e pesca. Tudo ali depende do rio Doce e é nesse local que está instalada a única aldeia indígena em toda a extensão do curso d’água - os índios Krenak. A cidade também depende dessa água para seu consumo e teve que recorrer a caminhões-pipa, estoques e captação alternativa em municípios vizinhos. A cerca de 16 km do centro de Resplendor está a aldeia dos Krenak, que dependem integralmente dessa água. Eles fecharam a linha férrea da Vale, que passa nas imediações, por quatro dias, interrompendo todo o transporte de passageiros e de minério, que escoa a maior parte de sua produção no porto de Tubarão, em Vitória (ES).

AIMORÉS

É a última cidade de Minas Gerais em que o rio Doce passa e fica a cerca de 5 km da divisa com o Espírito Santo. A Ordem dos Advogados do Brasil daquele Estado sugeriu que a lama fosse desviada para uma cratera, com aproximados 9,6 km de diâmetro, na cidade mineira. O prefeito, Alaerte da Silva, se manifestou contrário à sugestão alegando prováveis impactos ambientais. O ministro da Integração Nacional, Gilberto Occhi, chegou a dizer que essa poderia ser uma alternativa. O distrito de Santo Antônio do Rio Doce teve a sua captação de água interrompida, mas o plano era recorrer ao rio Manhuaçu, que abastece a cidade de Aimorés.

BAIXO GUANDU (ES)

É a primeira cidade do Espírito Santo banhada pelo rio Doce, com captação direta para abastecimento da cidade. A prefeitura elaborou um plano de captação do rio Guandu, que também corta o município, para não precisar interromper o serviço à população. As obras tiveram início antes mesmo da chegada da lama, com recursos da Vale e do Executivo, e a cidade não sofreu falta de água. O prefeito, Neto Barros, fechou a linha férrea da Vale em protesto contra o rompimento da barragem da Samarco.

COLATINA / ITAPINA (DISTRITO)

O rio Doce passa no centro de Colatina, que é uma das maiores cidades do Espírito Santo, abastecendo a população, estimada em mais de 120 mil habitantes. Além do consumo, a população tem uma ‘dependência’ afetiva com o curso d’água, muito usado para pesca e nado. Contatos proibidos após a tragédia. A alternativa para a cidade seria a captação em outros três rios que passam perto de Colatina, no entanto, a seca que assolou o Estado em 2015 impossibilita essa alternativa. Os governos do Estado e do município fizeram uma força-tarefa e elaboraram um plano para buscar água em outros pontos e abastecer a cidade por meio de caminhões-pipa e poços artesianos.