Sempre foi minha opinião que a grande maioria dos políticos mineiros (e seus eleitores) ignora o tamanho da crise fiscal de Minas Gerais. Nós temos um “custo fixo” absurdo, uma receita ruim e uma classe política que não sabe distinguir uma coisa da outra, tornando difícil uma solução eficaz para ambos os problemas. Afinal, onde reina a ignorância, sempre sobrará demagogia. Nesse sentido, dois secretários estaduais do novo governo parecem estar se destacando no diagnóstico da gravidade real da situação mineira: a secretária de Educação, Júlia Sant’Anna, e o secretário de Meio Ambiente, Germano Vieira.
A secretária Júlia Sant’Anna foi capa dos principais jornais do Estado ao anunciar uma “redução” drástica na verba para o ensino integral. São 111 mil alunos afetados e mais de 9.000 professores designados que serão dispensados. A secretária tem sido execrada pelos demagogos. Chamo essas pessoas assim porque eram as mesmas que falavam ironicamente que “queriam morar dentro da propaganda do Estado de Minas” na época de Aécio. Ao que parece, ainda preferem.
Estamos em abril de 2019, e o governo estadual não conseguiu iniciar as aulas do ensino integral no Estado. No ano passado, houve verba apenas para quatro dias de merenda por mês. Não há dinheiro para pagar os designados. Há varias irregularidades. Então, a grande pergunta é: você prefere que Minas continue fingindo que tem tempo integral (endividando-se por isso) ou prefere que a gente acabe com a dívida do Estado por meio de um diálogo sincero com a população?
Apesar de eu anão a conhecer, a secretária Júlia Sant’Anna me parece ser mais corajosa e mais centrada que muitos à sua volta. Ela talvez fosse a última que precisasse tomar decisões tão drásticas. Afinal, 90% de seu Orçamento está sendo cumprido (100% é mandatório por lei). Aliás, me corrijo: ela poderia ser a última a tomar decisões difíceis em um governo que quisesse se esconder de executar medidas impopulares, mas decidiu liderar um processo que poucos entenderam até agora: ou se economiza na prática, ou vamos falir no discurso.
Apoiar a medida da secretária Júlia Sant’Anna é uma questão de caráter. Não tenho dúvidas que ela deve estar passando por um dos piores momentos da sua vida. Não é fácil deixar pessoas sem emprego, por mais que estas já não estivessem recebendo corretamente seus ordenados. Mesmo assim, é esse tipo de decisão que vai nos salvar da bancarrota. Meus aplausos pela coragem.
De outro lado, o secretário Germano Vieira impressiona pela retidão com que tem conduzido a Secretaria de Meio Ambiente frente à crise financeira e, mais recentemente, ao desastre de Brumadinho. Vieira foi um dos poucos remanescentes do governo Pimentel. É técnico. Sempre foi. Assumiu a pasta no governo do PT porque tinha sua competência reconhecida dentro e fora da secretaria. Por isso, permaneceu com Zema. No desastre de Brumadinho (que nada teve a ver com a secretaria), foi duro e correto na aplicação da lei. Foi um dos poucos a entender algo básico: quando o avião da Tam caiu em Congonhas, não se acabou com a aviação no Brasil. Vinte por cento da economia de Minas não pode ser encerrada porque uma empresa irresponsável supostamente falsificou laudos de segurança e os entregou como verdadeiros ao governo.
No meio de toda mazela, a Secretaria de Meio Ambiente tem se destacado pela rapidez nos licenciamentos, como pela dureza na fiscalização. Já falei varias vezes como os recursos dessa secretaria têm sido desviados para outras pastas. Manter esse nível de excelência, mesmo com tantos problemas, merece reconhecimento. Sem dificuldade alguma, posso afirmar que essa pasta tem carregado a economia estadual nas costas. Que o resto do governo se espelhe em ambos.