Pressionado de todos os lados e correndo o risco da ingovernabilidade, o presidente Jair Bolsonaro resolveu dobrar a aposta. Em vez de buscar uma relação mais harmônica com o meio político, escolheu o caminho do confronto. É bom que se diga que o caminho escolhido é absolutamente coerente com o que pregou na campanha. O presidente não pode ser acusado de estelionato eleitoral.
No entanto, isso não significa que não tenha optado por correr riscos. Pelo contrário. Bolsonaro os leva ao limite, tentando chegar a um final diferente do que os que tiveram Dilma e Collor, dois que viveram o mesmo dilema e optaram por esse caminho.
Ao insuflar manifestações para o próximo dia 26, Bolsonaro se torna sócio delas. Significa que, aos olhos dos que dividem o poder, se forem um fracasso mostrará que perdeu o apoio do povo que o elegeu. Se muita gente for para rua mas houver radicalismo exacerbado, com depredações e ameaças à democracia, o presidente também será responsabilidade. É por isso que muita gente que apoiou Bolsonaro defende que a estratégia é um erro.
O principal problema é que, em geral, manifestações a favor de algo costumam ser menores que manifestações contrárias. O nome é protesto não por acaso. Se Bolsonaro mostrou nas urnas que tem maioria, por qual razão oferece agora a chance de um terceiro turno? Qual o recado se dará se as manifestações contra os cortes na educação no dia 30 forem maiores do que as do dia 26?
Esse clima de confronto e de manifestações em sequência interessa em eleições, para quem quer polarizar a disputa. Mas evidentemente não serve para governar. Quanto mais confusão pior para o país e para o governante, que não consegue impor sua agenda. Para piorar, o alvo dos protestos incentivados pelo presidente é um grupo de parlamentares que é majoritário na Câmara. Sem eles, o governo não tem como aprovar nada.
Ouça o comentário do editor de política de O Tempo, Ricardo Corrêa: