Semana após semana, o que se vê no país é a ameaça do recrudescimento da inflação, a Petrobras majorando o preço do diesel, do gás e da gasolina, o aumento das taxas de desemprego, o enxugamento dos meios de pagamento e o déficit público, que, com tanto corte, ainda continua a crescer. Vê-se também a redução da atividade industrial, um setor organizado da economia que gera, quando anda bem, expectativas reais mensuráveis, além de empregos mais rentabilizados e a regular arrecadação de impostos. Vê-se o agronegócio com insegurança diante de acordos comerciais feitos por diplomatas despreparados e vassalos, e pelo ir e vir das portarias que ameaçam a retirada de subsídios vitais ao seu crescimento, para seguir sendo o esteio positivo da nossa balança comercial. Sem o agronegócio o Brasil já teria descido o precipício, sem volta.
Assistimos, calados, em Minas, ao cancelamento de 81 mil vagas nas escolas públicas destinadas ao ensino integral, preferindo-se tal corte à manutenção de crianças inseridas em um projeto de educação que repara minimamente a ausência do poder público na formação de seus cidadãos, para que estes não sejam aliciados pelo crime organizado, pelo consumo e tráfico de drogas e por outras formas de criminalidade.
Vemos subir as estatísticas do desemprego, do desequilíbrio social, da falta de oportunidades de trabalho e renda e as consequências que tais falências sociais desencadeiam, sendo uma delas a população carcerária, que no Brasil tem mais de 726 mil pessoas. A esse quadro acrescentem-se 51,6 mil assassinatos em 2018 e mais de 60 mil casos de estupros de mulheres.
E o que fazemos diante de tanta miséria? Discutimos a intervenção na Venezuela, a desorganização política da Argentina, os conflitos na Faixa de Gaza, a frustrada condecoração de Bolsonaro em Nova York e o programa do Silvio Santos, para desviar a atenção de um projeto de reforma da Previdência Social que vai sugar dos miseráveis o pouco que lhes restou, nivelando-se a idade de aposentadoria de todos os trabalhadores, independentemente das condições de trabalho de cada categoria, sem se mexer uma linha em asquerosos privilégios. Um verdadeiro deboche àqueles que nunca tiveram voz ou nunca foram ouvidos. Para sustentar tal escárnio, manipulam-se números, falsificam-se estatísticas, promete-se a retomada do crescimento com a volta de investimentos vindos do exterior, que, escrevam, nunca virão. Com essa reforma só ganharão os bancos e os fundos de pensão e de investimentos.
Não se ouviu uma voz, entre deputados e senadores, não se sabe se por má-fé ou burrice ou por ambas as limitações conjugadas, que batesse pela suspensão desse projeto e o colocasse como consequência de uma reforma tributária que primeiro discutisse o radical corte de subsídios, alguns há muito injustificáveis e que criminosamente são mantidos em desfavor de políticas públicas de promoção social. Por que não se discute a também criminosa remuneração da dívida pública brasileira, que engorda meia dúzia de bancos e sangra 51,4% do nosso Orçamento para remunerar juros absurdos e ínfimas amortizações? A prioritária discussão da reforma tributária é, antes de tudo, um projeto de nação.
Isso que está aí é um remendo, que vai arrebentar quem, hoje, mal sobrevive da sua aposentadoria. E os privilegiados do Judiciário, do Legislativo e os militares seguirão a vida, sorridentes, sem serem incomodados.