Nem mesmo a derrota por 1 a 0 para o Guaraní-PAR, na última quarta-feira (23), desanimou o torcedor americano, que sempre sonhou em ver o time na Copa Libertadores. Nesta quarta-feira (2), às 19h15, no estádio Defensores del Chaco, o Coelho terá a obrigação de vencer os paraguaios por pelo menos dois gols de diferença para avançar direto à terceira fase do torneio. O triunfo por vantagem de um gol leva a disputa da vaga para os pênaltis. Apesar da situação desfavorável, vários torcedores estão mobilizados para ir a Assunção e apoiar o time.
Uma caravana de aproximadamente 60 pessoas vai deixar a capital mineira rumo à Assunção de ônibus. Em condições normais, os mineiros vão gastar cerca de 25 horas para vencer os 1.826 quilômetros que separam as cidades. Contudo, quem está de malas prontas para embarcar nessa aventura, não está considerando esse sacrifício, como é o caso de Guilherme Rios Viana, de 27 Anos, gerente comercial.
“Os preparativos para ir ao Paraguai já estão certos. Acho que vamos surpreender muita gente com o número de torcedores no estádio. Eu nunca vi uma mobilização tão grande com o América sendo visitante, até aqui mesmo no Brasil. O ônibus da Barra Una está confirmado e vamos buscar a classificação”, aposta.
Guilherme confia na conquista da vaga e revela o significado que terá essa viagem. "Estou todo dia acordando às 4h da manhã. Como eu sou da geração mais nova, passei o ensino fundamental, médio e faculdade sendo o único americano da sala, e falando que o América um dia chegaria à Libertadores. Ninguém acreditou e todos eles estarão assistindo ao América pela televisão. Eu estarei lá, graças a Deus! Vou curtir também em homenagem aos que não tiveram essa oportunidade, pois perdi muitos amigos durante a pandemia”, emociona-se o torcedor.
Se para muitos a viagem ao país vizinho será uma alegria, para outros, o sentimento será um misto de alegria com saudade. O consultor de TI, Jairo Viana Junior, de 42 anos, vai a Assunção acompanhado da esposa Moema Linhares, mas o filho Francisco, de dois anos, ficará no Brasil. Ele conta que está se preparando para a viagem desde o sorteio da Conmebol e a data não poderia ter sido melhor: Quarta-Feira de Cinzas, após o feriado de Carnaval.
“Eu e minha esposa vamos juntos, mas meu filho ficará com a minha sogra. Gostaríamos de levá-lo, mas o voo para retornar ao Brasil tem uma logística ruim, porque talvez precise dormir em Guarulhos, na volta. Então, preferi deixar meu filho aqui. Isso me dói o coração, mas vai ser melhor para ele. Tenho certeza de que vamos sair de Assunção com a classificação”, confia.
Torcedor fanático, o consultor acompanha o América nos jogos fora de Belo Horizonte sempre que pode. Inclusive já passou por um aperto quando foi acompanhar o Coelhão no Acre. "Esse dia, não me lembro o ano, o voo foi cancelado e fiquei praticamente um dia no aeroporto esperando resolver a situação. São histórias boas que tenho para contar acompanhando o América. Tudo vale a pena pelo América”, declara o torcedor, que agora ri da situação.
O jogo citado por Jairo ocorreu em 2017, contra o Atlético-AC, pela primeira fase da Copa do Brasil. O Coelho levou a melhor e derrotou a equipe da casa por 2 a 0. No confronto na Arena da Floresta, em Rio Branco, os gols foram marcados por Hugo Almeida, aos 28 minutos do primeiro tempo, e Renan Oliveira, aos 42 minutos da etapa complementar.
Torcedores 'fiéis' vivem a expectativa pelo maior momento alviverde
O representante comercial, Luiz Roberto Filizzola, de 58 anos, é um dos membros do conselho de ética do América, além de fundador da torcida organizada Koelhomania. Ele também estará nas arquibancadas do Defensores del Chaco na quarta-feira. “Vou ao Paraguai com o Paulo Lasmar, ex-presidente do América, e Alexandre Tafuri, filho do falecido Celso Pedro Tafuri, ex-conselheiro do América”, informa Filizzola.
Vivendo a expectativa do momento inédito que testemunhará com o clube do coração, o representante comercial relembra quando começou essa paixão, que o levou a criar a Koelhomania. “Em 28 de outubro de 1977, eu e o meu amigo Achiles Vivacqua éramos os únicos americanos da escola e resolvemos fundar uma torcida organizada. A torcida cresceu e éramos os responsáveis pela sala, no Mineirão antigo, para guardar os materiais da torcida. Recebíamos do América 50 ingressos para levar a charanga ao estádio e, no intervalo, 'passávamos o chapéu' para a torcida ajudar a pagar o lanche dos músicos”, recorda-se.
O secretário escolar Lucas Silveira Bacelete de Souza, de 31 anos, é um dos organizadores da caravana da Torcida Seita Verde, junto com a Vale Verde de Contagem. Ele também “ignora” a extensa estrada que vai encarar dentro de um ônibus para apoiar o América.
“Vamos dia 28, à noite, para ir com calma, sem risco de algum imprevisto atrasar a viagem. Voltamos logo após a partida. É um bate e volta de mais ou menos 72 horas. Tudo pelo América”, assegura.
Lucas também ressalta a importância de o clube contar com a presença do torcedor neste momento histórico, na primeira partida oficial fora do país. “É um momento histórico, o Clube precisa do apoio e da presença do torcedor. A primeira partida oficial por um torneio internacional pede a presença da torcida”, destacou.
Planejamento e providências
Outros americanos optaram por fazer o trajeto de outra forma. Ao lado de amigos, o engenheiro civil Humberto Guimarães Bernardes, de 68 anos, fará o trajeto até Foz do Iguaçu de avião. De lá, vai pegar uma van até o destino final. Além disso, teve de readequar a agenda profissional para assistir ao duelo em Assunção.
“Para ir ao Paraguai eu antecipei quatro dias das férias deste ano. Toda parte burocrática já foi feita. Passagem aérea Belo Horizonte - Foz do Iguaçu. De lá para Assunção, vamos de van. Chegaremos amanhã e retornaremos para Foz na quinta-feira, retornaremos na sexta”, conta Humberto.
Para entrar no Paraguai alguns documentos são importantes, como a carteira de identidade atualizada com no máximo dez anos de expedição e Certificado Internacional de Vacina contra febre amarela.
Por isso, o contator Cristiano de Almeida Rodrigues, de 43 anos, ‘correu contra o tempo’ para estar apto a ingressar no país vizinho.
“Tive de me vacinar contra febre amarela, porque não guardei comprovante. Minha última identidade foi tirada em 2005 e, por isso, fiz uma nova”, revela
Sobre a diferença que o Coelho precisa reverter contra o Guaraní, Cristiano garante que nem mesmo o revés em casa o fez desistir de acompanhar o time.
“Sempre estive junto do América nos momentos históricos. Em 1993, quando o time saiu da fila do Campeonato Mineiro, eu estava em Governador Valadares. Estive em todos os títulos e acessos. Não vai ser resultado ruim que vai me impedir de estar em mais um momento histórico do time”, argumenta.