Moscou, Rússia. Era inevitável que a Rússia provocasse no mundo olhares desconfiados. Afinal de contas, este país-continente era um mistério. Os resquícios da União Soviética contrastavam com a ideia de uma nação em busca do capitalismo acelerado. Mas, em um mês de Copa, vivemos aventuras que nunca mais sairão de nossas memórias. O legado da Copa é que a Rússia, mesmo com sua política fechada, marcada pela proibição de manifestações ideológicas e também homoafetivas, mostrou-se um país jovem e aberto.

Uma troca de experiências em que todos ganharam. A Rússia descobriu o mundo: e o mundo descobriu a Rússia. “A Copa do Mundo reuniu todas as pessoas ao redor do planeta em um só lugar. Isso não é sobre religião, raça, política ou gênero. É a oportunidade que tivemos de estarmos todos juntos apenas celebrando o futebol e a vida. Afinal de contas, é isso que realmente importa. Somos todos iguais, e a Rússia é fantástica”, afirmam os malaios Wai e Kai, da distante Tawau, na Malásia.

O país dos czares, de Lênin e de Putin respira história. A imersão na cultura local foi completa. Das palavras russas que ficarão na memória à gentileza em pequenos gestos. A infraestrutura impecável. O transporte eficiente. A segurança. Tudo conspirou para que o futebol reinasse em seu mais puro estado de glória. “A Rússia é um lugar que, com certeza, está na minha lista de destinos favoritos. Eu vou voltar”, celebra o argentino Luiz Ventura, trazendo à tona a frase que mais ouvimos dos mais de 1 milhão de turistas que passaram pelo país nos últimos 30 dias.

Receptividade. Não há maior título do que ganhar a admiração do mundo. Os grandes eventos esportivos, mesmo com seus custos exorbitantes, ainda conservam este sentimento. E é muito bom ser bem recebido. Nos sentimos em casa. “A Copa do Mundo pra mim é sentimento, é família”, diz a espanhola Carmen Ramos. 

Fomos e somos todos uma grande família. O futebol, para muitos, pode ser o mais trivial dos prazeres. Mas, em tempos de Copa, as ruas russas respiraram unidade. E seria perfeito que as diferenças se resolvessem apenas no campo. Mas bem sabemos que, a partir de agora, a vida segue. A Rússia será, assim como as nações que já sediaram uma Copa, também parte de nós. Os russos agradecem. Um “spacibo bol’shoye” (muito obrigado) cheio de saudades. “Antes, o mundo tinha receio de nós. Poderia ser apenas propaganda. Um discurso contrário. Mas isso incomodava. Todos vieram aqui e conheceram a verdadeira Rússia. Esperamos que retornem. Estaremos sempre de braços abertos. Obrigada a todos vocês”, diz a russa Anna Markarova. Nós é que agradecemos, Anna. A Copa do Mundo foi simplesmente fantástica.

Boa relação. O embaixador do Brasil na Rússia, Luis Espinola Salgado, vê um saldo positivo para a relação entre os dois países ao final da Copa do Mundo. “Acredito que agora que todos viram como de fato é a Rússia, mais turistas brasileiros vão procurar conhecer esse país incrível”, afirmou Salgado. Segundo a embaixada, mais de 26 mil brasileiros deixaram o país para acompanhar a Copa na Rússia. O número de Fans IDs concedidos a cidadãos do Brasil é maior, cerca de 35 mil – a diferença corresponde ao número de brasileiros que partiram de outros países. Cerca de 300 brasileiros moram em Moscou – em toda a Rússia são mais de 1.300.