Os atos administrativos da gestão do ex-presidente Wagner Pires de Sá seguem impactando a rotina do Cruzeiro. Contratado em abril de 2019 para o time sub-20, o goleiro Vinicius Barreta cobra R$ 4.505.875,09 do clube na Justiça. À época, o jogador deixou o Criciúma rumo à Toca da Raposa, e o acordo de trabalho foi assinado pelo então vice-presidente de futebol, Itair Machado.
O vínculo de cinco anos terminaria em abril de 2024, mas foi rescindido no último mês de janeiro. Como os termos firmados não foram cumpridos na integralidade, o atleta entrou com ação para tentar receber o que lhe é devido. A primeira audiência está marcada para a próxima quarta-feira (25). O processo está entre os 40 que tramitam atualmente nas varas trabalhistas de Belo Horizonte, tendo o Cruzeiro SAF também como reclamado.
O acordo entre o jogador e o Cruzeiro previa salário de R$ 30 mil, com aumentos anuais, chegando a R$ 50 mil nos últimos 12 meses de contrato. Além disso, a antiga gestão estrelada prometeu pagar ao atleta R$ 1.926.000 de luvas. O montante seria quitado com uma entrada de R$ 470.800, prevista para maio de 2019, e as outras 20 parcelas de R$ 72.760 seriam incorporadas ao salário, a serem pagas entre junho daquele ano e janeiro de 2021.
Pela negociação, a Raposa pagou a José Renato de Andrade Martinez, proprietário da GR Martinez Assessoria e Propaganda Esportiva Ltda, R$ 186 mil de comissão pela intermediação do contrato.
Trajetória na Toca
Vinícius chegou ao Cruzeiro aos 20 anos, para reforçar o time sub-20. Em 2019, disputou os campeonatos Mineiro e Brasileiro da categoria. No ano seguinte, estourou a idade e foi incorporado ao grupo profissional. Nesse período, foi relacionado para 20 partidas, mas sequer entrou em campo com a camisa estrelada.
No início da temporada, o goleiro foi comunicado pela diretoria que não seguiria na Toca II. O contrato foi rescindido em 19 de janeiro e, a partir de então, o jogador iniciou uma negociação extrajudicial para receber o que estava em atraso, bem como o previsto em contrato. As tratativas ocorreram entre os representantes do atleta e Alexandre Cobra, diretor da Alvarez & Marsal, empresa contratada para atuar no projeto da SAF da Raposa
Por meio de Alexandre Cobra, o Cruzeiro reconheceu o débito de R$ 4.947.962,37, composto por FGTS (R$ 307.988,90), salários e 13º em atraso (R$ 87.250,00), rescisão (R$ 2.626.723,47) e luvas (R$ 1.926.000). Contudo, a Raposa propôs pagar R$ 1.979.184,94 em 36 parcelas de R$ 54.977,35. A oferta foi recusada pelos representantes do jogador, que acionaram a Justiça do Trabalho no último 19 de abril.
Aos 23 anos, Vinícius Barreta se transferiu para o Cuiabá, onde está como o terceiro goleiro do time que disputa a Série A do Campeonato Brasileiro e a Copa Sul-Americana. Seu contrato com o time do Mato Grosso vai até o fim de 2023.
O que dizem os envolvidos
Cruzeiro SAF
Procurado para comentar o processo, o clube não retornou o contato até a publicação desta matéria.
Itair Machado – ex-vice-presidente de futebol do Cruzeiro
Questionado sobre como se deu a negociação de Vinícius Barreta e os termos firmados em contrato, o ex-dirigente, embora tenha assinado o acordo, respondeu:
“Não me recordo. Só me lembro que foi contratado porque, além da qualidade e de convocações para a seleção de base, tem passaporte europeu”.
E acrescentou: “Não acompanho futebol mais. Não sei informação nenhuma sobre ele (Vinícius) ou qualquer outro atleta”.
José Renato de Andrade Martinez (proprietário da GR Martinez Assessoria e Propaganda Esportiva Ltda)
Em contato feito com o escritório da empresa em São Paulo, José Renato não foi encontrado para comentar se, de fato, recebeu R$ 186 mil de comissão pela intermediação do negócio.