Exemplo
América e Cuiabá: em campo, o sonho e a realização do projeto clube-empresa
Enquanto um clube possui modelo consolidado e colhe frutos, o outro se apoia nos resultados desportivos para atrair investidores
Quando se fala em clube-empresa no Brasil, logo vem à mente o Cuiabá. O time foi adquirido pela família Dresch ainda em 2009 e chama atenção por sua franca ascensão no cenário do futebol, o que o torna um exemplo para os clubes que pretendem seguir o mesmo caminho. Um deles, o adversário da tarde desta quinta-feira (17), o América.
O Cuiabá possui modelo de sociedade limitada e é administrado por Alessandro e Cristiano Dresch, considerados presidente e vice-presidente, que são filhos de Manuel Dresch. Este, que por sua vez, é irmão de Aron Dresch, que estava no comando do time, mas saiu para se dedicar à presidência da FMF (Federação Matogrossense de Futebol). Ainda que sejam definidas as posições de cada um dentro do clube no papel, as decisões são tomadas em conjunto.
O patrocínio da família no Cuiabá começou ainda em 2003 e seis anos depois efetivaram a compra, após entender que a gestão sem fins lucrativos não seria suficiente para desenvolver um trabalho expressivo. Hoje, a família colhe o sucesso de anos de plantio: investimentos.
O Cuiabá possui um moderno centro de treinamentos para os profissionais e planeja a construção de outro para as categorias de base. Além disso, o clube investiu em contratações de jogadores experientes para conseguir ascender da quarta para a primeira divisão e agora espera faturar cerca de R$ 26 milhões de cotas de TV e seguir investindo para permanecer na Série A.
O vice-presidente do Cuiabá, Cristiano Dresch, exalta as principais vantagens da gestão de um clube nos moldes empresariais. “É menos burocrática na tomada de decisões e mais cuidadosa e responsável com os próprios gastos. O clube-empresa tem um dono e ele vai responder diretamente pelos prejuízos caso o clube venha a ter”.
Graças a boa campanha do Cuiabá na Série B de 2020, terminando na quarta colocação, o Estado do Mato-Grosso voltou a ter um representante na elite do futebol brasileiro depois de 35 anos. Tendo o Cuiabá como exemplo, o América se organiza há dois anos para tornar a gestão do futebol em uma empresa mas esbarra em limitações. A principal delas, a que o adversário de hoje tem bem consolidado: o investidor.
O América espera firmar-se como clube-empresa nos próximos anos, caso permaneça na Série A, e consequentemente, e atraia um investidor. O projeto é comandado por Marcus Salum, coordenador geral de futebol, que está à frente das negociações com investidores interessados. Segundo o dirigente, o América estaria na fase de assinatura de carta de intenções, conversas para estabelecer o modelo de contrato que agrade ambas as partes.
Enquanto as negociações se desenvolvem, o América acompanha de perto o projeto de lei que permitirá a transformação de associações sem fins lucrativos em clube-empresa. O dirigente do América, inclusive, comemorou a aprovação do relatório do senador Carlos Portinho (PL/RJ) sobre o projeto de lei que permite a criação da Sociedade Anônima do Futebol (SAF), ainda que se discuta os impactos que essa mudança pode gerar no futebol brasileiro.
Em entrevista ao Super.FC, o advogado especializado em direito esportivo, Eduardo Carlezzo, destaca que o Projeto de Lei é abrangente. “A possibilidade de equacionamento das dívidas é um ponto alto, já que é algo bastante importante hoje no futebol nacional, e são estabelecidos vários instrumentos para isso”.
No América, Marcus Salum deixou claro que nas cláusulas contratuais, o clube não vai aceitar mudança de identidade do clube, como nome, escudo ou cores, a maior preocupação dos torcedores, como ocorreu com o Bragantino. É o que ressalta Carlezzo, no sentido se que isso terá que ser acordado entre as partes. “As eventuais mudanças dependerão sempre do consentimento da antiga associação. Portanto, há uma proteção de, caso no dia de amanhã, um investidor que seja dono da SAF resolva fazer estas mudanças”, esclarece o especialista.
Pedro Trengrouse, advogado especialista em gestão esportiva da Fundação Getúlio Vargas, define o clube-empresa como um caminho para mais investimento e melhor gestão. “Ambos são fundamentais para o desenvolvimento do futebol profissional. Como em qualquer empresa, o patrimônio investido pelos sócios responde pelas falhas da gestão. Esse é o maior incentivo para eficiência”.
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