Cadu Doné
Clássico imediatismo
O genial Umberto Eco vociferou: um dos problemas das redes sociais é amplificar discursos pouco representativos
Clássico imediatismo
O genial Umberto Eco vociferou: um dos problemas das redes sociais é amplificar discursos pouco representativos – em função do arauto, de circunstâncias, ou de ambos – que outrora ficariam restritos a guetos; não passariam de inofensiva conversa de bar, incapazes de “prejudicar a coletividade”. O italiano acertou. No futebol, na mídia (...), as pressões de hordas virtuais invariavelmente andam se provando influentes. Surreal – porém nada surpreendente – a força, o alcance da hashtag “fora Cuca”, que rompeu as fronteiras cibernéticas após o clássico. Até inúmeros torcedores que não integravam o rol dos que estereotipavam o treinador alvinegro como unidimensional em termos táticos – só adotaria a ligação direta –, e defensores da concessão de razoável tempo para a avaliação de um trabalho, se perderam em meio aos arroubos de insensatez.
Críticas merecidas
Dizer que se mostra cedo para julgamentos peremptórios, definitivos, obviamente não significa “passar o pano” para defeitos que vêm dando as caras. Se fizermos uma média dos cinco jogos nos quais comandou o Galo na passagem atual, a entrega de Cuca não tem sido favorável. E sim, a despeito de existirem inúmeros argumentos que desmistificam, num cômputo geral, o rótulo de “fanático pela bola aérea”, o principal defeito que sua equipe desvelou neste curto período corresponde justamente a este carma; conjunto carente de ideias, de repertório para criar com o mínimo de qualidade e automatização; excesso de “chutões” despropositados, aleatórios.
Erro na escalação
O equívoco ao escalar Tchê Tchê – que não carrega qualquer culpa, não merece crucificação por uma partida – com tempo tão exíguo de casa, se materializa em diferentes ramificações; simplesmente não havia necessidade para tamanha sangria: Zaracho vivia ótima fase. Ademais, transmite uma mensagem de despreocupação com a harmonia do coletivo desconsiderar determinada dinâmica já conquistada com o argentino. O entrosamento não vale nada? Não vigiam mecanismos de funcionamento do meio-campo a zelar?
Jovens celestes
Revela-se perigoso formular conclusões a partir de amostragem pequena. Algo que pareceu representativo, porém, no triunfo do Cruzeiro: a personalidade mostrada por vários jovens em um cenário carregado de tensão; as promessas celestes não sentiram o peso de um confronto que claramente coloca à prova o aspecto psicológico. Weverton, Adriano, Airton... Nenhum deles exalou qualquer centelha de nervosismo. O volante, salientemos, em boa parte do duelo teve de marcar Nacho – e o fez com maestria.
Fará falta?
Grande notícia para Conceição: a impecável atuação de Ramon. Emblemático que, na primeira ocasião oficialmente sem Manoel no elenco, além da solidez demonstrada por Weverton, o elo mais experiente da zaga tenha se provado tão absoluto. Nos reiterados sinais concedidos pela dupla, novo argumento para afiançarmos que não fazia sentido sair de certo patamar financeiro para seduzir o defensor que pedira para não atuar no domingo. Resta saber: Brock será bom reserva?
Esquecimento
Impressionante como ignora-se solenemente que, outro dia, Cuca foi vice da Libertadores – com plantel limitado e sem chutão.
Evolução
Matheus Barbosa melhorou substancialmente nos últimos cotejos – inclusive na construção. Marcinho segue discreto.
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