Finanças
Galo: endividamento bilionário, mas com alternativa. Economista explica riscos
Para Cesar Grafietti, aumento de dívida está associado ao investimento para fazer um time mais forte. Especialista analisa potencial da Arena MRV e venda do shopping
O Atlético tem uma dívida de R$ 1,2 bilhão. Só de 2019 para 2020, o endividamento atleticano aumentou R$ 469 milhões, fazendo do clube líder do ranking nacional entre os devedores. Esse salto na dívida é justificado pelos aportes da família Menin no futebol, com a contratação de grandes atletas e o objetivo de transformar o Galo numa potência no país.
Autor do estudo anual do Itaú BBA sobre a situação financeira e econômica dos clubes brasileiros, Cesar Grafietti vê o Atlético em um processo de aceleração de crescimento, que mescla a tradição de uma marca importante, com conceitos de startups. Isso está demandando grandes investimentos e, como todos projetos semelhantes, o resultado a longo prazo é incerto.
Em entrevista exclusiva ao Super.FC, o economista analisou o projeto atleticano e seus riscos. "O Atlético está em um processo de construção de um clube maior e mais forte. É uma marca grande, tradicional, que recebeu o aporte de grandes investidores para fazer um time ainda mais forte. Esse aumento de dívida que vimos em 2020 é muito associado a este momento, de investimento para fazer um time mais forte, junto com um processo de reestruturação, com a contratação de consultorias e a reavaliação de cenários", analisa.
Confira a entrevista completa de Cesar Grafietti, que analisa as finanças de Atlético, Cruzeiro e América:
Por conta da geração de caixa negativa e dos vultosos investimentos, as dívidas do Atlético cresceram bastante. A pandemia ajudou a agravar esse número, principalmente, pela falta de bilheteria. Exceto pelos impostos parcelados, que cresceram pouco, as demais formas de dívidas apresentaram grandes saltos. Para deixar a situação mais complexa, parte relevante está no curto prazo, de R$ 604 milhões.
"Encontramos um Atlético endividado, mas com alternativas. Ele tem ainda metade de um shopping center, que pode ser vendido para negociar as dívidas, e uma grande parte da dívida é com os investidores, que tem um prazo longo, de custo baixo. O Atlético tem alternativas para essa dívida, baseada na construção de um estádio, que pode dar mais retorno em um longo prazo", pondera Grafietti.
Com Hulk, Nacho Fernández e outros jogadores de referência, o Galo pensa em títulos de expressão como o Campeonato Brasileiro, que não vence há quase 50 anos, e um bicampeonato de Copa Libertadores. E há concorrentes fortes nas disputas, como Flamengo e Palmeiras.
"O Atlético tem um bom volume de recursos entrando e de prazo, em tese, bastante alongado. O grande risco do Atlético hoje é o projeto não atingir os objetivos pensados, que é crescer a receita, fazer com o estádio R$ 100 milhões em receita (por ano) e, com isso, transformar a receita do clube de R$ 250 milhões para R$ 400 ou R$ 500 milhões. Se não dar certo, dificulta essa capacidade de pagamento da receita que o clube tomou. E esse é um risco real", explica o especialista.
Grafietti faz uma comparação com uma indústria tradicional. "O futebol não é uma atividade que você compra uma máquina, que produz e reduz o custo. No futebol, você vai fazer os investimentos, vai contratar atletas, construir o estádio e nem sempre vai conseguir aquilo que você imaginava, porque o esporte é imprevisível", alerta.
Arena MRV
O Atlético aposta alto na arrecadação com seu futuro estádio, previsto para ser inaugurado em outubro de 2022. No Galo Business Day, em abril, o Atlético apresentou metas progressivas de arrecadação com a Arena MRV, chegando a R$ 94 milhões em receitas comerciais anuais, e R$ 110 milhões com matchday, por ano, até 2026.
"O Atlético tem um estudo, uma equipe capacitada para fazer a viabilidade. Mesmo olhando estádios consolidados, comparando com os do Corinthians e Palmeiras, o que eu vi de informações sobre o projeto, me parece um pouco agressivo. Se pensarmos que o Mineirão faturou entre R$ 25 milhões e R$ 30 milhões com eventos e agora passa a ter um competidor – talvez a Arena MRV fature metade disso e o clube não atinja os valores de bilheteria esperados. Nas contas que fiz, o clube vai sair do ticket médio de R$ 15 para quase R$ 50. Tem que ver se o torcedor vai estar disposto a pagar tudo isso com o tempo. Vai depender do desempenho do clube. Tem um bom desenho, mas tem os ajustes", reitera.
Venda do shopping
O Atlético recebeu R$ 297 milhões pela venda de metade do DiamondMall, dinheiro que está sendo usado para a construção da Arena MRV. O clube ainda tem metade do centro de compras que lhe dá, em média, R$ 10 milhões por ano. Existe um debate dentro do conselho deliberativo atleticano se o Galo deve ou não vender a outra parte para ajudar a quitar as dívidas.
"É uma decisão complexa na mão do gestor. O fato de parte das dívidas estar alongada no Profut e outra parte na mão dos investidores faz com que reste, na minha conta, entre R$ 400 milhões e R$ 500 milhões para serem tratados de alguma forma. O custo de oportunidade desta dívida é mais caro do que o ganho e a valorização desse shopping a longo prazo. Vale a pena ponderar se é interessante vender. Trabalhar com poucas dívidas no futebol é sempre mais saudável, porque tira a pressão de ter que vender atleta e fazer um investimento maior para contratar", completou Grafietti.
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