Parceria antiga
Adilson e Célio Lúcio se reencontram para a ‘reconstrução’ do Cruzeiro
Ex-zagueiros conviveram no início da década de 1990 na Toca e, agora, retomam parceria para tentar descobrir talentos que possam ajudar a Raposa
Lá se foram 28 anos, início da década de 1990. A maioria dos jogadores que hoje compõem o grupo do Cruzeiro ainda não havia nascido. Mas Adilson e Célio Lúcio, então zagueiros, já escreviam suas histórias com a camisa estrelada. O destino de ambos se cruzou e, de certa forma, a infelicidade de um, abriu caminho para ascensão do outro. Jogaram poucos minutos juntos na Raposa. Na sequência, a dupla seguiu por rumos distintos, mas com finais felizes. Ambos trilharam carreiras vitoriosas e bem-sucedidas dentro dos gramados.
Nos últimos dias, reencontraram-se na Toca da Raposa II para contribuir na reconstrução do clube. Dessa feita, como treinadores. Com o Cruzeiro passando pela mais grave crise da sua história, Adilson Batista está sendo praticamente obrigado a recorrer à base para montar seu grupo. Por isso, desde a semana passada, acionou Célio Lúcio, comandante do sub-20, para auxiliá-lo na captação de bons valores que possam ajudar a Raposa neste momento de penúria financeira e de nova realidade na Série B do Brasileiro.
Além dos meninos que já faziam parte do grupo desde o ano passado, casos de Maurício e Vinícius Popó, o treinador cruzeirense passou a contar com os garotos que disputaram a Copa São Paulo neste mês. De uma só vez, 11 atletas do sub-20 passaram a treinar no profissional. Dessa turma, as maiores expectativas estão depositadas nos meio-campistas Jadsom e Marco Antônio e no atacante Caio Rosa.
“O contato tem sido constante, a todo momento. Tenho passado as informações para o Adilson sobre aqueles que eu creio que já podem ser usados, que podem estar entrando, ajudando nos jogos. Há outros que vão demorar um tempo um pouco maior para assimilar, pegar situações de profissional, até mesmo na questão de maturação psicológica. Por isso, precisamos ter um pouco mais de paciência para que os meninos possam fazer a transição sem o perigo de queimar etapas. Temos mantido esse diálogo quase todo dia. Agora, que estou com ele (Adilson) no profissional, tem sido ainda mais importante esse contato, para sequência da nova mentalidade do clube”, avalia Célio Lúcio.
Embora seja a fonte de informação de Adilson nesta fase, Célio Lucio ressalta que a decisão de quando utilizar e de quem acionar neste primeiro momento é toda do treinador do profissional.
“O Adilson conhece bem o clube e, por isso, me chamou para estar com ele no profissional, para ajudar nessa transição dos garotos. Mas é ele que vai ver quem está preparado para subir e jogar agora”, pondera.
O treinador do sub-20, porém, admite que a vivência que ambos tiveram dentro dos gramados pode facilitar na revelação de novos valores para ajudar o Cruzeiro já nesta temporada.
“Essa experiência como ex-atleta que nós temos será muito importante para que os garotos não sejam prejudicados na transição. Temos bons jogadores, mas essa fase precisa ser tratada com sensibilidade muito grande para não correr o risco de perder talentos. A vivência como ex-jogador vai nos dar uma condição muito boa para escolher esses garotos e implementar algumas situações para ajudá-los a seguir no profissional. Ou, então, pedir um pouco de paciência, retornar à base e dar sequência na carreira deles. E, no momento mais oportuno, dar nova chance no time de cima”, argumenta Célio Lúcio.
Reencontro com Adilson
Apesar da fase difícil que vive o clube, Célio Lúcio define como “especial” o reencontro com Adilson na Toca da Raposa.
“Assim como eu, o Adilson ama o Cruzeiro, e isso é demonstrado nas atitudes e em tudo aquilo que ele faz. Comigo não é diferente. Eu nasci aqui no Cruzeiro, desde os 13 anos de idade. Estamos sofrendo muito, por termos caído para a segunda divisão e com todas as outras situações. Deus escolheu esse momento para nós, pessoas que nasceram no clube, que têm um carinho especial, nessa missão importante de restabelecer a equipe profissional e voltar para a primeira divisão do futebol brasileiro”, argumenta.
Lesões de Adilson abriram caminho para o crescimento de Célio Lúcio
Adilson Batista, 51 anos (16/3/1968), foi zagueiro do Cruzeiro de 1989 a 1993. Célio Lúcio, três anos mais novo (11/2/1971), chegou ao clube ainda criança e subiu ao profissional, onde atuou de 1991 a 1997. Com status de jogador de seleção brasileira, Adilson era titular absoluto na defesa estrelada, no início da década de 1990. Célio Lúcio, por sua vez, havia acabado de ser promovido ao time principal.
A primeira vez de Célio Lúcio em campo foi no empate com Corinthians (0 a 0), em 12 de março de 1992, no Pacaembu. Aos 21 anos, ele entrou na partida no segundo tempo, para suprir a ausência de Ademir, expulso. Na ocasião, Adilson formou a zaga com Vanderci, também revelado na base.
Dois meses depois, após a estreia de Célio Lúcio em São Paulo, Adilson viveu o primeiro grande baque da carreira. Na disputa da Recopa Sul-Americana, que envolveu o Cruzeiro (campeão da Supercopa) e o Colo Colo (campeão da Libertadores), o então defensor sofreu fratura na perna e ficou seis meses fora de combate.
A partir de então, Célio Lúcio, que era uma das opções de suplência para a posição, passou a ter mais oportunidades e se firmou como titular na zaga cruzeirense.
Seis meses depois, Adilson estava recuperado para retornar aos gramados, no jogo decisivo contra o River Plate, pelas quartas de final da Supercopa da Libertadores. A Raposa venceu o jogo de ida no Mineirão por 2 a 0, e foi decidir a vaga em Buenos Aires, num clima extremamente hostil. Aliado a isso, a arbitragem polêmica do chileno Enrique Marín. Os argentinos devolveram os 2 a 0 e o jogo foi decidido nos pênaltis, com vitória da Raposa.
No entanto, aquela noite de 28 de outubro de 1992 ficou marcada por mais um momento triste na carreira de Adilson. Ele ficou no banco de reservas e entrou no segundo tempo, para recompor o setor, após expulsão de Luizinho. No entanto, ficou em campo menos de 30 segundos. No primeiro lance que tentou interceptar um cruzamento vindo da esquerda, foi atingido pelo atacante Da Silva e fraturou o mesmo local de seis meses antes.
Encerrava-se ali a parceria entre Adilson e Célio Lúcio na defesa do Cruzeiro. Depois de algum tempo se recuperando, o primeiro retomou a carreira em alto nível e conquistou títulos importantes em clubes como Grêmio e Corinthians, enquanto o segundo construiu trajetória sólida e vitoriosa vestindo a camisa estrelada.
Depoimento de Célio Lúcio sobre a convivência com Adilson na época em que eram jogadores
“É uma honra reencontrar o Adilson aqui (no Cruzeiro). Entre 1989 e 1991 eu era do time júnior e a gente treinava muito com os profissionais da época. Como os treinamentos eram na Toca I, tive a oportunidade de ver o Adilson treinando muito. Por ser da minha posição, ficava observando tanto ele quanto o Paulão e tirava muito proveito na questão de posicionamento, na forma de jogar, algumas situações que ele fazia no jogo. Como eu era muito observador em todos os treinos, foi uma experiência muito forte que peguei para dar continuidade na carreira e chegar ao profissional. Adilson e Paulão contribuíram muito para que eu tivesse uma leitura de jogo, posicionamento, como me comportar. Posicionamento, leitura de jogo, antecipação. Tudo aquilo que um zagueiro precisa ter. Então, Adilson e Paulão foram muito importantes para mim, na minha formação como zagueiro. Até já brinquei com o Adilson que aprendi a jogar futebol com ele e com o Paulão. Foi uma contribuição muito bacana”
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