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Medioli vai apresentar aos torcedores suas ideias para recuperar o Cruzeiro
Gestor apontou, em live, caminhos para a crise que assola a Raposa e preocupa a nação celeste
A situação do Cruzeiro é uma das mais delicadas do futebol brasileiro. Sofrendo com dívidas das mais variadas, sejam elas trabalhistas e até mesmo desportivas como as que envolvem a Fifa, o clube segue na 'corda bamba', convivendo com atrasos de salários, protestos da torcida e a falta de resultados em campo - o time ainda não venceu na Série B e ocupa a zona de rebaixamento do torneio. Ex-CEO do Cruzeiro no período do conselho gestor, Vittorio Medioli, atual prefeito de Betim, apontou em live caminhos para que o clube estrelado possa sair da crise instaurada desde 2019. Com uma experiência mais do que reconhecida em gestão, Medioli vai apresentar aos torcedores suas ideias sobre o que pode trazer de volta a estabilidade ao Cruzeiro e a recuperação da credibilidade no mercado. O gestor é preciso: há saída para o time celeste.
"Chega num ponto que se cria um ambiente que não tem saída. A saída tem, mas agora dependeria de as pessoas concordarem com a saída. Prometo que até quarta-feira vou publicar de maneira simples para que o torcedor entenda aquilo que é a minha visão. Pode ser que tenha alguém que enxergue melhor do que eu, mas, para mim, a coisa não é dificil de se fazer. É dificil convencer as pessoas a deixarem fazer. E cada um se recolher naquilo que é capaz de fazer. Tem gente que é capaz de fazer certas coisas, mas não outras. Aí há um embaralhamento. E, depois, erros do passado e abusos que aconteceram lá dentro que passam de R$ 1 bilhão. Uma quantia enorme. Dá para pagar? Sim. Desde que o Cruzeiro coloque em ordem. Se não colocar em ordem essa dívida, vai à falência", alertou Medioli.
O gestor recordou o que aconteceu com o clube italiano Parma. Em 2015, a equipe, que possui o apelido de “Giallo Blu”, atravessou o pior momento da sua história. Em campo e fora dele, a situação tornou-se insustentável. O clube acabou por declarar falência e foi refundado, descendo à Serie D, a quarta divisão italiana. A medida mostrou-se certeira e com a liquidez necessária, um clube histórico como o Parma teve a recuperação merecida. Até o regresso ao topo do futebol italiano passaram-se três temporadas e o mesmo número de acessos. No Cruzeiro, Medioli defende um processo que torne viável a compra de ações do clube por torcedores. O gestor exaltou o poder da marca Cruzeiro, o que tornaria o processo ainda mais atrativo em termos de investimento.
"A dívida sobe, quem tem a receber não recebe nada, todos os atletas são liberados, e aí começa um novo Cruzeiro. Novo Cruzeiro que será valioso. Porque aí sobra o nome da marca, os torcedores, e aí construir o novo Cruzeiro é muito fácil. Haveria uma capitalização muito grande. Já assisti a esse processo no Parma, nasci em Parma, na Itália, um time que ganhou até uma Copa Europa. Foi à falência, mas fecharam, todas as dívidas sumiram, desceram à série D e em quatro anos estavam na Série A. Disputando a cabeça da Série A. E aí um R$ 1 bilhão vai sumir, também vai sumir o conselho do Cruzeiro, sumir o sócio do Cruzeiro, e aí entra uma força democrática, a torcida. A torcida pode comprar suas ações, e depois os acionistas, haverá uma disputa para ter o controle do Cruzeiro. Porque é uma excelente marca, dá pra fazer muita coisa com essa marca, tratada com luva de película, com inteligência, competência, e sabendo articular no meio empresarial, no meio político, no meio de comunicação. Com esse conjunto de coisas, o Cruzeiro passaria a ter uma saúde impecável. Porque perderam tudo isso. Agora manter R$1 bilhão de dívida? Vai ter que pagar. Como você dará um impulso para o Cruzeiro crescer tendo que pagar R$ 1 bilhão. Isso que é dificil. Quem vai colocar dinheiro numa empresa que está devendo R$ 1 bilhão?", indagou Medioli.
O gestor apontou ainda um outro caminho, que seria a transformação do Cruzeiro em S/A, com a criação de um fundo que poderia liquidar a bilionária dívida em um período de tempo específico. Porém, de acordo com Medioli, para que qualquer um dos caminhos seja tomado pelo clube, há a necessidade de se romper com a estrutura política enviesada que hoje impede o clube de sair do lugar, no caso, o conselho deliberativo. Uma das críticas é o atraso do estatuto, um documento totalmente fora dos padrões de exigências de um clube de futebol atualmente.
"Tem também uma saída, a saída seria o sócio do clube e montar uma S/A com empresários. E empresários destinam parte da receita, da renda, para liquidar o fundo, em 15 a 20 anos. Não sei em quantos anos. Seria uma outra saída. Tem duas saídas. Mas, na realidade, passa a extinguir o poder que hoje tem o grupo que manda no Cruzeiro. Não quero falar que um é bom e outro é ruim. Tem gente boa, tem gente que se enriqueceu, tem gente que botou dinheiro, tem gente de todo tipo. Só que hoje o clube não tem regra. O estatuto do clube é uma piada. Piada. Já falo isso há dois anos. Fui CEO, estive lá. Você não consegue fazer nada. CEO não faz nada. Perde todo seu tempo a dar conta daquilo que o conselho quer ou não quer que faça. Tem poderes limitados. Você faz uma coisa que desagrada dois conselheiros, os caras te matam, puxam o tapete, faz um diabo. O Cruzeiro foi contaminado por muitos anos de erros em cima de erros. E, quando um está na cabeça do Cruzeiro e comete um erro, perde a autoridade. Pra impor a regra, a legalidade", declarou Medioli, apontando justamente as ações que fez quando ingressou na Prefeitura de Betim.
"Como foi quando entrei na prefeitura, ninguém respeitava lei, tudo era pra desviar da lei. Falei, lei é lei. Hoje a prefeitura está saneada, tocando 280 obras, me reelegi com 76% dos votos, nas pesquisas tem 90% da população que gosta daqui, o município melhorou, tudo melhorou. Mas foi um trabalho de três, quatro anos. Pode-se começar do zero, com um novo Cruzeiro, manda a falência, liquidação... Ou faz um acordo. Entretanto, não tem escapatória. Meus senhores conselheiros, vocês têm que sair fora. Quem é bom e quer ajudar, entre, ajude. Mas dentro de novas regras, legalidade, constitucionalidade, lei da S/A. Porque aí prevalece a competência e sustentabilidade. Não faz despesas sem ter receita, não empurra para um ou para outro", acrescentou.
Mordomias da diretoria
Medioli continuou sua análise sobre a situação do Cruzeiro recordando outros detalhes do período em que esteve no clube. Fatores que realmente o deixaram bastante impressionados com o nível de gastos desnecessários gerados pelos antigos administradores, verdadeiras mordomias que contribuíram para a derrocada financeira do time.
"Depois, a exploração do Cruzeiro. Porque é a paixão. A paixão tem muita gente que vai lá, joga dinheiro, e o dinheiro acaba saindo pelo ralo. Se compra caro, se vende barato. Se joga dinheiro fora, muita mordomia para diretoria... Quando entrei, tinha um gasto... Era coisa absurda. Segurança, presidente com três seguranças, tinha uma dúzia de carros blindados. Coloca tudo para fora. Se quer carro blindado, compra o seu carro blindado. Outra, dirigente de um clube quebrado não tem que ter salário. Se você é conselheiro, vai lá dentro de graça. Quarenta conselheiros recebendo salário. Salário de 40, 60 (mil reais)... como pode? Quem segura isso? Como numa S/A auditada, porque nunca teve auditoria no Cruzeiro, com controle, transparência, mas S/A tem. Torcedor, você tem como comprar uma cota do Cruzeiro? Não. São cotas limitadas. Não sei se são 3 mil, 4 mil ou 10 mil.. Depois, frequentadores são poucos. Ações você compra. Vai lá! Compra ação", reforçou Medioli, que expôs posteriormente como seria a comercialização dessas ações.
"Você passa a ser sócio minoritário, você tem um direito, tem uma ação, tem direito de optar lá dentro. Isso geraria grupos. E claro que as ações subiriam de preço. É capaz de você comprar uma ação por R$ 10 e um ano depois receber R$ 100, porque o saneamento do Cruzeiro vai gerar um progresso virtuoso. E estamos indo degenerativo, né. O Cruzeiro parece que tem um carro só com a marcha ré, como você vai para frente? Você tem só marcha ré, ou você fica no ponto morto e fica parado ou você coloca na ré e anda para trás, virando o pescoço", opinou.
"Agora, não adianta, é um processo que naturalmente vai esgotar, porque os erros são eternos. A solução é só isso, o Cruzeiro quebra numa boa e gera recuperação. O que precisa, às vezes, é de manter algumas isenções tributárias. Agora, podia ser feito como o Botafogo fez, não tinha lei das S/A, eles fizeram. Tem que ter vontade. O Botafogo está na posição do Cruzeiro", concluiu Medioli.
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