Observações do professor
Cruzeiro: Luxa vê base como ativo para pagar dívida e pede cautela quanto à SAF
Comandante destacou valorização de jovens sob seu comando e fez alerta quanto à experiência própria de empresas controlando o futebol
O técnico Vanderlei Luxemburgo confia que a SAF pode ser uma solução para os problemas que o Cruzeiro vêm enfrentando de ordem financeira e administrativa. Para ele, trabalhar com um investidor ou uma empresa não é um problema, pois ele já vivenciou trabalhos desta forma ao longo de sua carreira. Mas ele também deu seu ponto de vista sobre uma declaração dada por ele à rádio Super 91.7 FM de que conseguiria solucionar o problema da dívida cruzeirense em cinco anos. Luxa disse que a fala foi mal interpretada. Na avaliação do treinador, o que sustenta sua afirmação é o ativo que o clube possui em sua categoria de base.
"Para mim não é nenhuma novidade (trabalhar com uma empresa). Trabalhei com a Parmalat no Palmeiras, Hicks Muse no Corinthians, trabalhar com empresa pra mim não é nenhuma novidade. Eu também tenho empresas. Esta pergunta me faz levantar uma coisa importante: a imprensa, não em sua totalidade, conduz o que você fala para onde ela quer. Quando eu falei que R$ 1 bilhão conseguiria pagar (em relação à dívida do Cruzeiro), aí todo mundo foi 'Luxemburgo... pagar R$ 1 bilhão em cinco anos', aí todo mundo meio que de porrada, dizendo que Luxemburgo é metido, vai pagar em cinco anos. Não sou eu que pago não. O Cruzeiro se paga em cinco anos. O Flamengo se pagou em menos de cinco anos. Sabe por que? Porque o ativo está na categoria de base", declarou o treinador, em entrevista ao Super.FC.
Luxa voltou a afirmar que a dívida de R$ 1 bilhão do Cruzeiro é pagável até mesmo sem a presença de uma empresa ou investidor tendo o controle do futebol.
"Nós temos o dólar hoje que 1 vale R$ 5,60. 100 milhões de dólares hoje vale R$ 560 milhões. R$ 1 bilhão é muito dinheiro se eu tenho jogadores na categoria de base? Então não é. A dívida do Cruzeiro é pagável sem precisar até mesmo da empresa que está sendo criada. Eu não sou contra a empresa. Eu acho que é até muito bom para o Cruzeiro. Mas eu acho que o Cruzeiro e qualquer clube peso conseguiriam se restabelecer no mercado se tivesse uma gestão competente, voltada para o futebol, gerida na categoria de base, onde é a essência do futebol, para que com o ativo de lá pudesse pagar as suas despesas", opinou o veterano treinador.
Luxemburgo voltou a defender a base e citou exemplos de jovens jogadores que cresceram com sua chegada ao clube e o potencial de revenda atual dos mesmos nomes.
"Você acha que o Cruzeiro em cinco anos, contratando jogadores de 14, 15, 16 anos, daqui a cinco anos, estes mesmos atletas estariam com 19, 21, 22, será que não vão surgir jogadores que vão valer grandes negócios para o clube? Por exemplo, o Thiago quando eu peguei valia 500 mil, hipoteticamente, hoje ele vale quanto? Quanto vale o Adriano? Quanto vale o Matheus Pereira? Isso é ativo do clube. Então se você transformar isso em mais jogadores nas categorias de base, quando eu falo que R$ 1 bilhão é algo pagável para um clube do tamanho do Cruzeiro [...] o Flamengo pagou a dívida com três jogadores que vendeu. Hoje até sobraria dinheiro pelo valor que eles venderam os jogadores. Então quando eu falei isso, o pessoal disse, 'pô, o Luxemburgo está falando loucura, que paga e tal'. Não sou eu que pago. O Cruzeiro se paga", acrescentou o professor.
A SAF vai mudar o Cruzeiro?
Com o processo de transformação do Cruzeiro em SAF acelerado e com previsão de ser anunciado já na próxima semana, Luxemburgo confia que a mudança poderá ser benéfica ao Cuzeiro, mas também pediu certa cautela. Com a experiência de quem já trabalhou com empresas no ambiente esportivo, o treinador pede garantias para evitar que o clube saia prejudicado com a iniciativa.
"Eu vejo a SAF como uma possibilidade muito boa, mas eu vejo também que é uma coisa que precisa prestar bastante atenção porque ela vai ter um dono, como foi a Parmalat no Palmeiras. Mas, de repente, a Parmalat foi embora e ficou o Palmeiras. Sabe onde o Palmeiras parou? Na segunda divisão. Tem que saber como vai gerir isso. Vai trocar de dono, o dono vai querer fazer o quê com quem? Agora vai entrar uma nova gestão aqui com a SAF. Será que ela vai me querer como treinador?", indagou Luxa, ressaltando que clubes de futebol precisam ser geridos por pessoas que entendam de futebol.
"É bom, vai ser bom, vai abrir o mercado, mas eu acho que o futebol é formado por clubes de entretenimento, mas que são empresas que precisam ser geridas por profissionais de futebol, que conheçam a essência do futebol, a gestão do futebol, para não precisar virar empresa, são clubes fortes. Tanto é que tem muitos clubes hoje geridos por profissionais que estão crescendo porque os empresários estão lá fazendo a parte deles de gestão. Tem clubes que estão ocupando espaços de grandes equipes por causa da gestão bem feita no futebol. O grande segredo é gestão bem feita com profissionais que conheçam o futebol porque trabalhar com Coca-Cola, com copo, com garrafa, com não sei o quê, é fácil. Você sabe quanto custa o produto, coloca no mercado, bota a tanto e sabe quanto vai ganhar. O jogador de futebol você não sabe. Você não sabe se ele vai valer R$ 10 milhões ou R$ 40 milhões, R$ 50 milhões, R$ 1 milhão ou não valer nada. Na sua empresa você não contrata um jogador por R$ 5 milhões e depois ele passa a valer zero porque você quebra. Então tem que ser gerida por profissionais", finalizou Luxemburgo.
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