Feito em casa
Gravadas durante a quarentena, séries caseiras ganham espaço na TV e na internet
“Carenteners”, “Diário de um Confinado” e outras produções mostram os esforços das empresas para adaptação aos novos tempos
A quarentena provocou mudanças na forma de se produzir conteúdo para a TV e para o streaming. Novelas e diversos programas tiveram as gravações suspensas em março e, aos poucos, os trabalhos vêm sendo retomados seguindo diretrizes de segurança contra a pandemia do novo coronavírus. Dentro dos esforços para adaptação aos novos tempos, essas empresas também estão abrindo espaço para um novo tipo de produção: as séries caseiras, gravadas durante o isolamento, e que usam a casa dos atores como cenário.
Novo programa do canal pago Warner Channel, “Carenteners”, que estreia nesta terça-feira (30), às 21h40, é um exemplo dessa nova safra de produções. A série gira em torno da história do casal Cecília (Ana Tardivo) e Marcos (Mateus Sousa), que se apaixona poucos dias antes do início da quarentena e precisa se adaptar aos novos tempos para manter o relacionamento enquanto cada um deles lida com seus próprios problemas, como trabalho, convivências familiares e amizades.
O projeto foi filmado à distância, sob direção remota e com os próprios atores operando câmeras, celulares e computadores enquanto interpretam seus personagens. “Está sendo um desafio diário e constante compreender os mecanismos e dinâmicas dessa nova forma de produzir conteúdo audiovisual. Nunca tinha pensado que algo assim pudesse ser realizado”, explicou a atriz Ana Tardivo, que grava suas cenas no apartamento em que mora, no Rio de Janeiro.
“É um privilégio trabalhar dentro de casa, mas ao mesmo tempo desafiador ajudar a desenvolver e executar outras áreas da produção de conteúdo que vão além da atuação, como a autogravação, maquiagem, figurino, iluminação, cenário. Tudo isso com orientação remota dos profissionais de cada área”, disse o ator Mateus Sousa, que mora em São Paulo.
“Carenteners” traz uma linguagem de internet e referências às redes sociais. Além de conversarem entre si, os protagonistas Cecília e Marcos também interagem com outros personagens em cenas que simulam bate-papos via internet. Porém, as gravações foram realizadas individualmente. A série, que será exibida às terças e quintas, terá dez episódios de cinco minutos cada; os dois programas da semana serão disponibilizados no YouTube do canal às quartas-feiras.
Olhar cômico
Durante uma conversa com o marido Bruno Mazzeo, que é ator e roteirista, a diretora de TV Joana Jabace trouxe a ideia: “E se pensarmos em algo que a gente possa gravar aqui em casa? Você escreve e atua, eu dirijo”. A proposta surgiu já durante o período de distanciamento social. “Começamos, então, a pensar em crônicas de uma pessoa confinada”, disse Mazzeo. O resultado é a série cômica “Diário de um Confinado”, que estreou na última sexta-feira no Globoplay e que chega à Globo no próximo sábado, 4 de julho, após a novela “Fina Estampa”.
A série, que tem episódios de dez minutos de duração, gira em torno de Murilo, vivido por Mazzeo. Ele é um homem de classe média, solteiro e que mora sozinho no Rio de Janeiro. Com a quarentena, ele é forçado a adotar uma nova rotina, ficando em casa, e passa por muitos perrengues. “Tem um episódio em que ele está empenhado em aprender a cozinhar; em outro, ele está carente porque não tem namorada”, adiantou o ator.
Para tocar o projeto, o casal transformou o apartamento em que eles moram com os filhos gêmeos José e Francisco, de 3 anos, no Rio de Janeiro, em um estúdio de gravação. A sala do imóvel transformou-se no loft em que mora Murilo. Bruno e Joana criaram e produziram a série em apenas um mês e meio.
"Tudo foi um grande desafio. O desafio já começou na criação do texto. A gente já tinha de cara milhares de limitações, como a locação, por exemplo. Toda a história tinha que se passar naquele universo", disse o autor e roteirista. "Foi uma experiência muito nova, desde a linguagem que a gente criou no programa até a realização. A gente foi aprendendo no dia a dia. Fazer em casa foi um desafio tremendo porque tem nossos filhos", explicou Joana.
A série “Diário de um Confinado” contará com participações especiais, gravadas de maneira remota. Arlete Salles, Debora Bloch, Fernanda Torres, Lázaro Ramos, Lúcio Mauro Filho e Renata Sorrah são alguns nomes que vão dar as caras nos episódios. O projeto multiplataforma também vai ao ar no Multishow, a partir do dia 6, e ganhará pílulas que serão exibidas na programação do GNT ao longo do mês de julho.
Nova realidade
No Brasil, o humorista Marcelo Adnet foi o pioneiro em produzir e a gravar séries durante o isolamento social. Em abril, ele estreou no Globoplay o programa “Sinta-se em Casa”, um diário de quarentena com vídeos curtos, de cerca de dois minutos, com imitações. “Uma nova realidade chegou pra todos nós, surpreendendo toda a humanidade. Temos que nos adaptar ao novo jeito de viver”, disse Adnet na época do lançamento do programa.
Outro destaque dessa safra de produções caseiras é “Se Eu Estivesse Aí”, websérie de dez episódios criada, escrita, dirigida e protagonizada pelo casal Débora Falabella e Gustavo Vaz, que no momento encontra-se confinado na mesma casa. A cada segunda-feira, dois novos episódios são disponibilizados no site GShow - nessa segunda (29) estrearam as partes sete e oito da história, que retrata um casal em fim de relação na quarentena. “Eu acho que o principal desafio desse trabalho foi organizar esse set de filmagem dentro do lugar onde a gente está passando esse momento, com a rotina da casa acontecendo ao mesmo tempo”, explicou Vaz.
Para Débora, esse movimento que vem crescendo traz para os artistas “um pouco mais de autonomia”. “Vemos essas possibilidades de criar de uma maneira um pouco mais fácil os nossos conteúdos. E isso pra gente também é muito importante, essa liberdade e essa autonomia”, afirmou a atriz mineira.
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