Dilema do Cruzeiro
Conforme escrevi aqui em coluna recente, confesso que fico um tanto dividido ao avaliar o plantel do Cruzeiro; muitas vezes o que separa o aceitável, o suficiente, do que pode naufragar, virar um pesadelo interminável, está no fio da navalha. Por um lado, vendo alguns bons nomes – levando-se em conta um parâmetro condizente com a Série B e a paupérrima situação financeira do clube – que compõem o elenco, tendo a acreditar que ali se possui o suficiente para o acesso. Por outro, fico com a pulga atrás da orelha no sentido de carregar boa dose de insegurança com relação a quase todos estes atletas que até parecem apresentar potencial interessante. Diversos integrantes do grupo celeste orbitam naquele linear entre o “tem chance dar certo, trata-se de uma peça razoavelmente qualificada” e o “oscila demais, exala elevado grau de incerteza”.
Carências do elenco
Tenho ouvido que o Cruzeiro padece pela carência de opções para armar as jogadas. Concordo. Ao me deparar, porém, com estes pedidos por um “camisa 10”, me pego matutando: “será que a Raposa possui pontas dribladores insinuantes, consistentes, capazes de verticalizar as ações, quebrar linhas? E o meio-campista que opera de área a área, que Felipe Conceição tanto preza? Quem seria?” Crise existencial: numerosas lacunas, poucas certezas, e orçamento completamente limitado; se gastar, enterra de vez a instituição do ponto de vista macro; contemplando a austeridade, dificilmente sairá desta zona cinzenta onde o que prevalece é a dúvida.
Saídas com os pés
Um dos principais possíveis ganhos atrelados, em teoria, à estratégia de sair jogando, desde o goleiro, por meio de toques curtos, passa pela ideia de fazer o adversário subir sua marcação de modo a deixar espaços na retaguarda, nas costas das peças que avançam, por exemplo, entre os zagueiros e os volantes. Contra a Caldense, no primeiro tempo, em vários momentos o Cruzeiro foi o protótipo perfeito de um time que cai, como um patinho, neste expediente tático.
Atacantes do Galo
Poucas vezes vi um elenco reunir, como o do Galo, uma quantidade tão acentuada de alternativas que não são um “9” típico, mas que podem fazer a função de centroavante, atuar mais avançados. Tardelli, Hulk, Marrony, Sasha e Vargas entram no rol daqueles jogadores que tanto funcionam vindos de trás, pelo centro e/ou pelas beiradas, quanto no ofício de “homem-gol”. Os alvinegros não apresentam, todavia, alguém que execute a tarefa de “referência mais fixa”, no comando do setor ofensivo.
Hulk
O badalado reforço alvinegro não atuou na maior parte da carreira – inclusive na seleção brasileira, onde jogou frequentemente com Fred – como um centroavante. Longe disso. Hulk desempenhou, na maioria das partidas de sua belíssima trajetória, o labor de meia-atacante aberto pela direita que corta para dentro, com sua poderosa canhota, no intuito de finalizar. Não acho absurdo, entretanto, dependendo das circunstâncias, utilizá-lo como o titular mais adiantado do conjunto.
Tardelli
Renovar com “Don Diego” por três meses e adotando bases salariais mais baixas foi saída ideal encontrada pela diretoria do Galo.
Titulares
A priori, do meio para frente, o Galo tem três titulares absolutos: Nacho, Keno e Hulk. Nas vagas restantes, equilíbrio total.